sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

'Foi muito sofrido', diz Zezé Polessa sobre inquérito da morte de motorista



Henrique Porto Do G1 Rio
 
Um dia após o arquivamento do inquérito policial instaurado para investigar a conduta de Zezé Polessa na morte do motorista Nelson Lopes, a atriz falou pela primeira vez sobre o caso. A artista recebeu o G1 no Projac, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, nesta quinta (7), durante um intervalo nas gravações da novela "Salve Jorge", da TV Globo.

 A atriz Zezé Polessa num dos camarins da novela 'Salve Jorge', da TV Globo, com o parecer final do juiz  Marco José Mattos Couto (Foto: Henrique Porto/G1)
A atriz Zezé Polessa, em um dos camarins da novela 'Salve Jorge', da TV Globo, com o parecer final do juiz Marco José Mattos Couto (Foto: Henrique Porto/G1)

A polícia apurou o caso após uma notícia publicada por um jornal carioca, segundo a qual Zezé teria destratado e humilhado Lopes. De acordo com a reportagem, ele teria passado mal e falecido em seguida. A briga teria sido motivada por um erro de percurso.

A atriz nega que tenha discutido com o motorista e relembra os dias que sucederam a notícia. "Para a minha família, foi um sofrimento horroroso. Foi muito sofrido mesmo. Mas todo mundo sabia que era um exagero, que a notícia tinha sido fabricada. Eu estou dando essa entrevista e querendo falar disso porque sou uma pessoa pública. Eu preciso esclarecer. Eu não tinha que ficar dizendo “Eu não matei o Seu Nelson”. Isso, para mim, é um absurdo tão grande... E as pessoas que não me conhecem e que acreditam em tudo o que leem me perguntavam exatamente isso", desabafou a atriz, que interpreta Berna na trama de Glória Perez.

Leia a entrevista exclusiva da atriz Zezé Polessa:

G1 — O que aconteceu no dia em que Nelson Lopes sofreu o infarto?
Zezé Polessa —
Naquele dia, ele me buscou de carro às 7h30. Eu tinha que estar numa gravação externa, num restaurante, às 8h30. Depois iria para o Projac. Quando um motorista nos busca em casa, nunca sabemos onde é a locação. Sabemos a cena, mas nunca onde vamos gravar. Geralmente a produção passa essa informação direto para a locadora de automóveis que presta serviço para a TV Globo, e a locadora repassa a informação ao motorista. Então Nelson falou: "Vamos para o Posto 10, no Recreio dos Bandeirantes". Já tínhamos gravado lá uma vez, no calçadão da praia. Chegamos ao local e não vimos o "circo armado". Não era lá. Então Nelson passou um rádio para o supervisor, que afirmou que aquele era uma outra locação que seria usada posteriormente, mas que não era onde eu ia gravar. Tínhamos, então, que voltar para o início da Barra da Tijuca, na Avenida das Américas, no número mil cento e pouco. Ele deu a volta no final do Recreio e entrou na avenida. Então, falei: "Vamos pedir uma referência?" Aí, eu pedi a ele que ligasse para o supervisor, mas que eu mesmo falaria no rádio. Afinal, ele estava dirigindo. Me responderam que era próximo à Ponte Lúcio Costa. Nisso, ficamos presos no congestionamento. Eu pedi ao supervisor que avisasse à produção de nosso atraso, pois tínhamos ido ao lugar errado. Seu Nelson ficou até ficou meio na dúvida se seguia pela pista lateral ou central. E eu disse: “Vamos pela pista do meio, e fique tranquilo. Porque o senhor não tem culpa nenhuma. Vai atrasar, mas acontece.” Assim que chegamos à locação, fui logo para o ônibus-camarim, para me arrumar. Quando a gravação terminou, fui para o Projac com o Rubinho, maquiador da novela, no carro que a locadora havia cedido a ele. E pedi à produção da novela que avisasse a Seu Nelson que eu iria com outra pessoa. Gravei o dia todo e saí do estúdio às 23h. E soube que ele havia morrido.

Um jornalista fez uma associação desse tipo por ignorância ou com má intenção. Nitidamente queria me incriminar."

Zezé Polessa

G1 — Como você reagiu?
Polessa —
Fiquei arrasada, pois estive com ele pela manhã. Ficamos bastante tempo juntos, no carro. Fiquei bem chocada. Liguei para a produção para saber do que ele tinha morrido. Cheguei em casa e ainda comentei com o meu filho. No dia seguinte, enquanto saía para gravar, uma repórter me perguntou se eu sabia que o meu motorista havia morrido. Eu disse que sim, que estava muito triste e ainda expliquei que ele não era meu motorista particular, mas havia me conduzido naquele dia. E ela perguntou: “E você sente-se culpada pela morte dele?” Aquilo foi um choque para mim. E tive que conviver com isso desde então. Fiquei dois dias meio nesse estado. Não podia falar com a família dele, porque já havia recebido a notícia de que eles não queriam falar comigo. Minha vida virou uma confusão. Ele teve um infarto. Estive com ele das 7h30 às 9h45 apenas. Agora, um jornalista fez uma associação desse tipo por ignorância ou com má intenção. Nitidamente queria me incriminar.

Uma promotora (Christiane Monnerat) abriu uma investigação em que eu tive de prestar depoimento sobre um possível homicídio culposo, além de uma outra acusação: de que eu teria infringido o Estatuto do Idoso. Porque, nessa primeira notícia, o jornalista dizia que alguém havia me visto humilhando e destratando o Seu Nelson na Portaria 3 do Projac. Mas isso foi muito fácil de resolver na delegacia, porque a produção que dispensou o motorista. Ele não me levou ao Projac. Imagens das câmeras de segurança da portaria foram utilizadas na investigação e comprovaram isso.

A família, que também foi chamada para depor, explicou que ele já era um cardiopata e que tinha ido ao médico. Ele havia sido orientado a ficar em casa no sábado, no domingo e na segunda-feira. Mas, na segunda, foi trabalhar, porque sentiu-se melhor.

G1 — Ele já havia se queixado de algum problema de saúde durante as vezes em que vocês se encontraram?
Polessa — Nunca. Jamais. No dia em que ele morreu, quando ficamos presos no congestionamento, ainda falei para ele: “Fica calmo, o senhor não tem culpa nenhuma. Estamos no engarrafamento e vamos chegar na hora em que pudermos.” Ali, eu achei que ele estava um pouco nervoso.

G1 — Chegou a ter contato com a família dele após o óbito?
Polessa —
Quando soube que ele tinha morrido, fiquei com muita vontade de falar com a família dele. Mas não deu tempo, porque aí veio essa confusão. E saiu a notícia de que a Luciana, filha dele, não queria falar comigo. Mas um dia eu não aguentei. Porque ela estava achando que isso tinha acontecido. Eu também já perdi meu pai, sei como é que é. Além disso, saber que seu pai foi maltratado, humilhado... É uma coisa horrível. Então eu liguei. Não disse de primeira que era a Zezé Polessa, pois fiquei com medo de ela desligar o telefone. Mas falei: "Queria que você soubesse que fiquei muito triste com a morte do seu pai." Ela perguntou quem estava falando e me contou que um jornalista havia telefonado para ela durante o velório contando que eu havia maltratado seu pai. Então eu disse: "Você não me conhece. Sei que deve ser difícil de acreditar em mim, mas estou te dizendo e vai ficar esclarecido que seu pai não foi maltratado antes de morrer. Não de minha parte.” Perguntei se ela queria ou podia encontrar comigo. Obviamente disse que não. Luciana me disse então que Seu Nelson já tinha um problema no coração. Também liguei para o Alexandre, irmão dela. Agora, depois do parecer do juiz, quero falar com eles novamente.

G1 — De acordo com o inquérito, você foi investigada por infringir artigo do Estatuto do Idoso e por homicídio culposo. Como classifica essas acusações?
Polessa —
Mesmo que não fosse um cardiopata ou que tivesse havido uma briga entre mim e Seu Nelson, legalmente não existe essa relação de culpabilidade, segundo o advogado. O jornalista que escreveu a notícia pode não saber disso. Se ele pensasse, por um segundo, no que queria noticiar, ele não o teria. Mas a coluna chama “Pronto, falei!”, não é? Então já diz a que veio. É algo que você fala sem responsabilidade e sem saber das consequências. Agora, isso é um espaço na internet, que vira um espaço no jornal impresso no dia seguinte. Os artistas estão muito expostos. Porque é uma mídia que constrói uma coisa por um lado, de um endeusamento do artista, uma coisa que a gente vive de um jeito que a gente não vive. Então faz esse endeusamento e depois tem que destruir isso.

G1 — Como seus familiares e seus colegas de trabalho reagiram ao caso?
Polessa —
Todo mundo achou uma barbaridade, um exagero. Para a minha família, foi um sofrimento horroroso. Foi muito sofrido mesmo. Mas todo mundo sabia que era um exagero, que a notícia tinha sido fabricada. Eu estou dando essa entrevista e querendo falar disso porque sou uma pessoa pública. Eu preciso esclarecer. Eu não tinha que ficar dizendo “Eu não matei o Seu Nelson”. Isso, para mim, é um absurdo tão grande... E as pessoas que não me conhecem e que acreditam em tudo o que leem me perguntavam exatamente isso. Como isso foi esclarecido legalmente, durante uma investigação policial, achei que a hora de esclarecer era essa.

G1 — Você acha que algumas partes envolvidas podem ter tentado se aproveitar do fato de você ser uma pessoa pública para se autopromover?
Polessa —
Não sei se trata-se de autopromoção. Cada um faz seu trabalho e que serve a seu modo. Esse jornalista pode achar que esse é o tipo de informação que as pessoas querem consumir. E a promotora deu uma resposta à sociedade sobre um fato que aconteceu. Todo mundo fez o que achava que deveria ter feito. No dia em que essa história começou, uns 20 veículos (de informação) me ligaram. Ontem, quando saiu o parecer do juiz, apenas dois sites me telefonaram. Aí, de certa forma, a gente tem que ir de encontro a estes que querem esclarecer.

FONTE: G1 – O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO

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