Gabriela Gasparin Do G1,
em São Paulo
É preciso pedir desbloqueio do cartão
internacional antes de viajar (Foto:
Reprodução/TV Globo)
Recentes
recordes
nos gastos dos brasileiros no exterior impulsionam também as transações lá
fora com cartões de crédito, a principal forma de pagamento nessas compras. Em
alguns casos, porém, problemas na hora de usar o “dinheiro de plástico”
internacional estragam a viagem de muitos consumidores, como bloqueios de
compras e de saques. Se provada falha do banco, é possível pedir na Justiça
indenização pelos prejuízos e danos causados. Especialistas ouvidos pelo
G1
dão dicas de como prevenir dores de cabeça e garantir o passeio.
Em 2008, a advogada Letícia Brossard Lolovitch,
de 34 anos, teve as compras no cartão de crédito negadas em meio a uma viagem a
Nova York. “Eu tentei falar com o banco, mas eles ficavam passando a ligação de
um departamento para o outro (...) e não me davam nenhuma explicação”, revela.
Por conta do imprevisto, Letícia precisou fazer uma série de restrições até o
final da viagem, como deixar de ir a passeios, além de precisar pedir dinheiro
emprestado a uma amiga. “Minha viagem mudou a partir daquele momento”, diz.
Dicas para usar o cartão de crédito no
exterior
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Cartão internacional
Certifique-se de que o cartão pode ser usado no exterior. É necessário que a
modalidade seja “internacional”. Antes de solicitar o serviço, compare custos
e leia com atenção o contrato antes da aquisição
Desbloqueio
Avise o banco com antecedência sobre a viagem para que seja feito o
desbloqueio do cartão para uso no exterior
Assine o verso do cartão
Em muitos países a leitura do cartão é feita apenas pela tarja magnética (no
Brasil a tecnologia do chip é mais disseminada). Como não há a necessidade de
digitar senha, é solicitada a comprovação da assinatura do portador
Central de atendimento
Anote e carregue durante a viagem o telefone da central de atendimento do
cartão. Em caso de perda ou roubo, entre em contato imediatamente e peça o
bloqueio. Avise autoridades locais
Comodidades
Confira promoções, assistências, seguros e serviços oferecidos pelo cartão
que podem facilitar a viagem
Pagamento
Para conversão das compras feitas em moeda estrangeira com o cartão, a
cotação válida é a do dia do pagamento da fatura. Caso haja variação cambial
entre o fechamento e o pagamento da fatura, a diferença é considerada no
próximo vencimento
Imposto
A alíquota do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) sobre gastos com
cartão de crédito no exterior é de 6,38%.
Para “fugir” do imposto, o consumidor pode optar por outras formas de
pagamento, como cartão de débito pré-pago ou travelers cheques (com IOF de
0,38%)
Planejamento
Antes de viajar, planeje os gastos no exterior. O cartão de crédito deve ser
usado de forma consciente para não ocorrerem sustos na hora de pagar a fatura
Precauções
Em caso de bloqueio inesperado do uso do cartão, lembre-se de guardar
comprovantes de gastos extras realizados, além de número de protocolos de
ligações para o banco. Se provada falha da instituição, as provas colaboram
para o pedido de indenização na Justiça.
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Fonte:
Abecs e Procon-SP
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A advogada, que mora do Rio Grande do Sul, diz
que avisou o banco com antecedência sobre o passeio e que se planejou para ter
limite disponível para os gastos nos Estados Unidos. “Eu costumo ser bastante
precavida. Foi uma grande arbitrariedade do banco”, sugere.
Ao voltar ao Brasil, descobriu que a instituição
enviou uma carta, no período da viagem, informando que fez o bloqueio porque
detectou o uso do cartão nos EUA em uma loja suspeita, com histórico de fraude.
Ela entrou na Justiça e quatro anos depois, em 2012, recebeu indenização de R$
10 mil pelos danos causados.
Segurança
Por questão de segurança, as instituições possuem sistemas rígidos de controle
das transações lá fora, explica Henrique Takaki, coordenador do Comitê de
Segurança e Prevenção a Fraudes da Associação Brasileira das Empresas de
Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). “As características antifraude aqui são
mais evoluídas do que em muitos países lá fora (...). Se uma pessoa clonou o
seu cartão e foi para os EUA, lá eles praticamente não têm terminais que leem
chips, muitos só leem tarja”, diz.
Para evitar problemas, a Abecs tem como principal orientação que o consumidor
avise o banco sobre a viagem antes de deixar o país, de forma que a instituição
possa desbloquear uso internacional. Oura dica é levar o telefone da central de
atendimento da instituição para possíveis emergências. Também é importante
memorizar as senhas ou não deixá-las guardadas no mesmo lugar que o cartão.
Verificar o limite disponível para gastos antes de viajar também é importante (veja
recomendações no quadro ao lado).
A supervisora de assuntos financeiros da Fundação
Procon-SP, Renata Reis,
esclarece que é obrigação dos bancos detalhar, em contrato cedido previamente
ao consumidor no ato da contratação, qualquer tipo de restrição de uso do
cartão em viagens. O documento também precisa prever as formas de cobrança das
faturas com relação a taxas e conversões. “É preciso estar discriminado onde o
cliente pode utilizar o cartão, como, se há limite, como vai ser feita a
contabilização do pagamento e quais canais de atendimento o consumidor deve
procurar.”
A especialista recomenda, ainda, que o consumidor entre em contato com a
central de atendimento do banco antes da viagem para tirar dúvidas a respeito
das regras com relação ao uso do cartão no exterior.
Ela afirma que não há uma legislação específica
sobre os direitos do consumidor com relação aos cartões de crédito, mas que as
regras são previstas no Código de Defesa do Consumidor (CDC). “Nada que não for
incluído em contrato pode ser alegado posteriormente pelo banco”.
Indenização
No caso de Letícia, contudo, ela tinha avisado o banco sobre a viagem e mesmo
assim teve o cartão bloqueado, por isso conseguiu a indenização. “O banco pode
solicitar ao consumidor que comunique para fazer o desbloqueio, [ação] que está
associada a algumas regras de segurança (...). Quando o consumidor avisa, o
banco não pode bloquear esse cartão”, avalia Roberto Pfeiffer, professor da
pós-graduação da direito da Fundação Getúlio Vargas (
FGV).
Caso passe por tal situação, o especialista recomenda que o consumidor guarde
todas as provas dos prejuízos (como comprovantes de gastos extras, números de
protocolos de ligações para o banco, depoimentos de testemunhas etc).
“Quando negaram as minhas compras, eu pedi em
diversos estabelecimentos um recibo [com a informação] de que a compra tinha
sido negada. Qualquer problema que puder ser comprovado materialmente, deve-se
guardar”, diz a advogada Letícia.
Nesses caso, é possível procurar o banco no retorno da viagem para conseguir os
reparos. Caso não sejam feitos, há a possiblidade de buscar a ajuda de
associações de defesa do consumidor ou os direitos na Justiça.
Planejamento financeiro
Além disso, os especialistas alertam sobre a importância de o consumidor fazer
um planejamento sobre as formas de pagamentos a serem usadas durante a viagem.
Um detalhe importante com relação ao cartão é que nem todos podem ser usados no
exterior, apenas aqueles da modalidade internacional. A Abecs orienta que o
consumidor compare os custos e leia atentamente o contrato antes de adquirir
um.
Outro alerta da Abecs é com relação à conversão
das compras feitas em moeda estrangeira. A cotação válida é a do dia do
pagamento da fatura e, caso haja variação cambial entre o a data de fechamento
da fatura e o pagamento da mesma, a diferença será considerada no próximo
vencimento, esclarece a entidade.
A advogada Letícia foi
indenizada em R$ 10 mil (Foto: Arquivo Pessoal)
O coordenador Takaki lembra, ainda, que algumas
lojas oferecem a opção de fechar o câmbio na data da compra. “O consumidor tem
que avaliar o que é mais vantajoso”. Além disso, ele diz ser importante contar
com outras formas de pagamento além do cartão de crédito em caso de
emergências, como cartões de débito pré-pagos.
É importante também ficar atendo ao limite do cartão antes de ir viajar, em
caso de imprevistos. O advogado Alberto Barbella Saba, de 29 anos, por exemplo,
passou por um sufoco. Ele precisou comprar uma passagem de última hora em uma
viagem pela Europa e não tinha limite disponível no cartão. Precisou pegar
dinheiro emprestado com um amigo para fazer a compra. “Eu precisei comprar uma
passagem aérea fora do que estava planejado, que ficava muito carro. O cartão
bloqueou porque não tinha limite”, explica.
FONTE: G1 – O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO