Entre cursos com maior reprovação estão pedagogia, jornalismo e turismo.
Falta de leitura e hábitos gerados pela internet são fatores motivadores.
Marta Cavallini
Do G1, em São Paulo
Quem concorre a uma vaga de estágio precisa ficar atento ao
conhecimento e domínio da língua portuguesa, pois os testes ortográficos
e as redações são os testes que mais reprovam, de acordo com
levantamento do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube). Atualmente, várias
empresas estão milhares de vagas abertas e os processos seletivos estão
a todo vapor -
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Uma das etapas da seleção, o teste ortográfico, aplicado em forma de
ditado, reprovou mais os estudantes de nível médio técnico de escolas
públicas em 2012. Em relação aos universitários, a reprovação atinge
mais os que estudam em instituições particulares e dos cursos de
pedagogia, jornalismo e matemática (veja abaixo reprodução dos testes disponibilizados pelo Nube).
Já na redação, a reprovação foi maior entre os estudantes de 15 a 18
anos e do ensino médio no ano passado. Entre os cursos de nível
superior, a maior reprovação está entre os cursos de turismo, educação
física e publicidade.
Os homens tiveram desempenho pior que as mulheres tanto no teste ortográfico quanto na redação.
Teste ortográfico
O estudo realizado durante todo o ano de 2012 com 7.219 estudantes
revela que 2.081 candidatos (28,8%) não tiveram êxito no teste
ortográfico e foram eliminados. O teste foi aplicado na forma de ditado,
com 30 palavras do cotidiano, como "seiscentos", "escassez",
"artificial", "sucesso", "licença" e "censura". Era considerado
reprovado quem cometesse mais de sete erros. O índice de reprovação
entre as mulheres ficou em 26,6%, e entre os homens, em 32%.
Os mais novos, com idade entre 14 e 18 anos, tiveram melhor desempenho,
com 75% de aprovação, superando outras faixas como a de 19 a 25 anos
(68,9%), 26 a 30 anos (69,2%) e acima de 30 anos (71,2%).
Alunos do ensino médio técnico tiveram o pior desempenho - em torno de
37% cometeram mais de 7 erros, seguidos dos estudantes do superior
tecnólogo (30%), médio (29%) e superior (28,5%).
Estudantes de nível
médio e técnico de escola pública tiveram desempenho pior (30%) se
comparados aos das instituições particulares (17%). Entre os
universitários, cerca de 30% dos jovens de escolas privadas foram
reprovados, contra apenas 19% das faculdades municipais, estaduais ou
federais.
Os cursos com maior índice de reprovação são pedagogia (50%),
jornalismo (49%), matemática (41,4%), psicologia (41%) e ciência da
computação (40%). Com maior aprovação estão os cursos de comércio
exterior (83%), medicina veterinária (82%), relações públicas (80%),
engenharia de produção (80%), nutrição (75,5%), engenharia elétrica
(74,5%) e direito (74%).
Redação
Pesquisa realizada durante todo o ano 2012 com 1.147 participantes
mostra que as mulheres tiveram maior índice de aprovações na redação,
com 85,5%. Entre os homens, o índice foi de 80,7%. A reprovação é maior
entre os estudantes de 15 a 18 anos (27,5%) em relação a 19 a 25 anos
(16,5%). No ensino médio, o índice de reprovação é de 26,1%, e no
superior, de 17,4%. Os cursos de direito (90%), engenharia civil (88%) e
engenharia mecânica (86%) têm o maior índice de aprovação. Já os de
turismo (66%), educação física (33%) e publicidade (27,5%) têm os piores
índices.
Justificativas
"Impressiona o fato de os jovens na fase da universidade registrar
erros graves na grafia. Apenas 25% dos brasileiros mantêm o hábito da
leitura. O reflexo é percebido antes do ingresso no mercado de trabalho.
Muitos ficam pelo caminho e são excluídos das chances de construírem
uma carreira, por terem pouca intimidade com as palavras", diz Erick
Sperduti, coordenador de recrutamento e seleção do Nube.
Para Sperduti, o bom desempenho das mulheres na redação pode ser
explicado pelo fato de as candidatas se interessarem mais pela leitura,
seja em romances ou revistas. “Assim, absorvem um maior repertório de
palavras e estabelecem uma maior concordância no momento de elaborar uma
redação".
Já em relação ao fraco desempenho dos estudantes do nível médio e
técnico no teste ortográfico e na redação, Sperduti afirma que "o jovem
ainda não possui uma variedade de vocabulário, dificultando a elaboração
de um bom texto. Somado a esse fator, temos a falta de interesse em
escrever. Navegar na web, ouvir rádio e ver televisão são mais atrativos
para esse público", explica.
Com relação ao bom desempenho dos estudantes de 14 a 18 anos no teste
ortográfico, o coordenador diz que esses estudantes têm mais contato com
a língua portuguesa por ainda estarem no período de formação.
Entre as palavras grafas de forma errada nos testes ortográficos,
Sperduti cita rejeitar com “G” no lugar do “J”, flexível com “QUIC” no
lugar do “X”, assessoria com um “S” apenas, licença com “S” no lugar do
“C”, exceção sem o “C”, ressaltar com um “S” apenas e transição com “C”
no lugar do “S”. “Dá a entender que não conhecem as palavras”, diz.
Sperduti considera que a única saída para reverter o mau desempenho é a
prática da leitura e o hábito de escrever as ideias. "O desafio para os
futuros profissionais não é apenas concluir o curso, mas mostrar
domínio do nosso idioma", diz.
De acordo com o coordenador de recrutamento, é importante organizar os
assuntos a serem redigidos. "Tudo precisa ter uma introdução, um
desenvolvimento e uma conclusão, ou seja, um começo, meio e fim", diz
Sperduti. Ele afirma ainda que não se deve escrever em 1ª pessoa, com
expressões como "eu acho", "eu penso", "eu acredito". “Muitos são
reprovados porque não releem o que escreveram, não revisam para corrigir
os erros antes da entrega. A pressa, neste caso, só prejudica", diz.
Para o coordenador, a internet pode contribuir com os erros.
“Abrevia-se muito as palavras, escreve-se com rapidez, quer fazer as
coisas de forma rápida, não revisa, esse sentido de urgência pode
prejudicar”, diz. Entre os principais erros nas redações estão
ortografia e concordância, redações curtas, com menos de 15 linhas, fuga
ao assunto proposto, texto sem começo, meio e fim. “Os candidatos têm
de 40 a 50 minutos para fazer a redação, dá tempo de fazer e revisar,
mas muitos terminam em 15 minutos”, diz.
De acordo com Sperduti, a seleção de estagiários se dá da seguinte
forma: depois de selecionar os candidatos pelo perfil técnico, por meio
de triagem no cadastro da entidade, as empresas geralmente aplicam
testes presenciais, que são compostos da apresentação pessoal (o
candidato fala dele mesmo, de seus dados pessoais, de suas competências
do currículo e de suas características); atividade em grupo, com o
desenvolvimento de case e apresentação – nessa etapa é feita a avaliação
de competências; e em seguida testes de raciocínio lógico, ortográfico,
redação e inglês.
O que mais reprova é o teste ortográfico e redação, seguido das
atividades em grupo, segundo ele. “Muitos candidatos nem sabem para qual
empresa estão concorrendo. Por outro lado, outros estão ali por causa
da empresa, porque têm vontade de seguir carreira nela, e isso conta
bastante”, diz Sperduti.
Teste ortográfico do Nube para o curso de administração, cujo número de acertos foi de 5 (Foto: Reprodução)
Teste ortográfico do Nube para o curso de arquitetura e urbanismo, cujo número de acertos ficou em 9 (Foto: Reprodução)
Teste ortográfico do Nube para o curso de recursos humanos (Foto: Reprodução)
Teste ortográfico do Nube para o curso de engenharia de produção, cujo número de acertos ficou em 9 (Foto: Reprodução)
Teste ortográfico do Nube para o curso de técnico em administração, cujo número de acertos ficou em 5 (Foto: Reprodução)
Teste ortográfico do Nube para o curso de engenharia de produção, cujo número de acertos ficou em 11 (Foto: Reprodução)
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO