Ele morreu vítima de câncer aos 36 anos, em São Paulo, em 23 de junho de 1998, dia em que o Brasil jogava pela Copa do Mundo da França. Nascido em Goianápolis e ex-plantador de tomates, músico alcançou o sucesso formando dupla sertaneja com o irmão, Leonardo.
Brincalhão
com os amigos, mas tímido com os fãs, o sertanejo Leandro começou a carreira de
cantor na plantação de tomate dos pais, em Goianápolis, a 47 km da capital. Ele
e o irmão Leonardo cantavam desde pequenos
e fizeram uma história de sucesso na música brasileira durante 15 anos. A
trajetória da dupla foi interrompida por um câncer raro que levou Leandro à
morte aos 36 anos, em 23 de junho de 1998, em São Paulo.
Luiz
José da Costa, como foi batizado, nasceu em 15 de agosto de 1961 e foi criado com os outros sete irmãos na
cidade do interior. A cidade é conhecida como a capital brasileira do tomate. O cantor é descrito por pessoas
próximas como um homem de hábitos simples, extrovertido com os íntimos e muito
reservado com quem ainda não conhecia.
Na
época de menino, ele e Emival Eterno da Costa, que viria a ser sua dupla com o
nome artístico de Leonardo, já ouviam os ídolos Chitãozinho e Xororó e recebiam
o incentivo do pai, o lavrador Avelino Virgulino da Costa, que estava sempre
acompanhado de um violão.
A
Escola Estadual Joaquim Soares da Silva, onde Leandro estudou, em Goianápolis,
guarda até hoje a ficha com detalhes da vida de estudante dele. No colégio, o
sertanejo se destacava nas aulas de história, mas não tanto em matemática.
Pescaria e baralho
Amigos
lembram que quando não estava com um violão, Leandro tinha gostos simples, como
pescar e jogar baralho. Ele torcia para o São Paulo, mas gostava mesmo era de
Copa do Mundo. No entanto, mesmo para quem o conhecia, as principais memórias
são relacionadas à música.
"Eu
trabalhei com eles [Leandro e Leonardo], fomos criados todos juntos. Eu me
lembro que eles começavam a cantar. Cantavam o dia inteiro músicas do
Milionário e José Rico, do Zezé di Camargo. Depois foram tocar em bailes",
lembra o horticultor Valdeci de Jesus, de 54 anos.
Memórias de Leandro e família na casa de dona Carmem, mãe do
cantor, em Goiânia (Foto: Vanessa Martins/G1)
Música e política
Além
do sonho de ser cantor, Leandro queria também entrar para a política. “Ele
falava muito que queria cantar até os 50 anos e que, depois, pararia e se
candidataria a senador pelo estado de Goiás”, como recorda o também horticultor
Jair de Sousa Leite.
Para
se dedicar à carreira, os irmãos se mudaram para Goiânia,
conseguiram trabalhos para se sustentar na capital enquanto passavam todo o
tempo livre nos ensaios.
Leandro e Leonardo
Com
ajuda de um tio e do patrão do Leonardo, a dupla passou a investir na carreira
com apresentações pequenas e que não rendiam muito dinheiro. Na época, eles
escolheram o nome da dupla ao saberem de gêmeos de um colega de trabalho que
haviam sido batizados como Leandro e Leonardo.
Mesmo
com dificuldades financeiras, a dupla lançou o primeiro disco em 1984 e vendia
os exemplares nos bares onde se apresentava. Os irmãos começaram a ficar
conhecidos dois anos depois, com a gravação da música Contradições, mas o
estouro ocorreu em 1989 no lançamento da canção Entre Tapas e Beijos.
Leandro (esquerda) e Leonardo em capa de disco de 1990 (Foto:
Divulgação)
No
ano seguinte, Leandro e Leonardo gravaram a música que mais projetou a carreira
da dupla: Pense em Mim. A música foi escrita pelos pintores Mário Soares,
Douglas Maio e José Ribeiro. A canção começou a ser criada com uma batida de
reggae, depois migrou para o estilo country antes de ser
gravada como sertanejo.
Depois
do sucesso, a dupla ganhou projeção nacional, mas manteve a personalidade que
os familiares e amigos conheciam desde a infância.
Assessora
da dupla desde o início da carreira, Ede Cury lembra que Leandro era muito brincalhão
com quem tinha intimidade. No entanto, para os palcos e para se relacionar com
os fãs, era muito tímido.
Nos
15 anos que fez dupla com o irmão, ela conta que Leandro sempre precisou de um
“incentivo” para encarar as multidões.
“Eu lembro que, para entrar no
palco, o Leonardo tinha que empurrar o Leandro. Toda vez era assim, para não
ter que ficar esperando”, recorda-se Ede.
Segunda voz
Apesar
da timidez, depois que subia no palco, Leandro encantava. Os artistas afirmam
que o cantor era dono de uma das mais belas segundas vozes da música
brasileira. Outros "segundeiros" contam que se inspiram até hoje no
jeito dele de cantar.
O
sertanejo chamava a atenção nas apresentações e até cantava algumas canções
sozinho.
O câncer
No
auge da carreira, em 1998, Leandro foi passar uns dias com amigos em sua
fazenda no Tocantins e se queixou de dores no peito. Depois de uma semana,
durante uma visita à cidade natal, o cantor voltou a se sentir mal durante um
jogo de truco.
Preocupado
com a saúde, ele foi atrás de saber o que era e, em 21 de abril daquele ano,
Leandro recebeu o diagnóstico de tumor de Askin. Segundo a família, na época,
ele era o sexto caso da doença, em adultos, no mundo. O cantor, então, foi para
São Paulo, onde passou pelo tratamento.
Durante
um dos jogos do Brasil na Copa de 1998, que Leandro acompanhava do apartamento
na capital paulista, ele pediu à assessora Ede Cury uma bandeira. Durante um
programa Domingão do Faustão, ela conta que o levou um manto verde e amarelo
que tinha em casa porque não teria como comprar uma bandeira na rua e entregar
a ele sem esterilizar.
Momentos
depois, ele apareceu na sacada, já careca e envolto no tecido.
Leandro aparece na sacada de apartamento em São Paulo (Foto:
Reprodução/TV Globo)
O adeus a Leandro
No
dia 23 de junho de 1998, quando os brasileiros se preparavam para assistir à
seleção brasileira enfrentar a Noruega, pela Copa do Mundo, na França, foi
divulgada a notícia da morte do cantor. O Brasil parou para acompanhar a
despedida do ídolo, que, após uma semana internado, não resistiu ao tumor.
Filho
de Leandro, o empresário Thiago Costa, que na época tinha 13 anos, conta que o
pai tinha esperança que ia se recuperar.
“Ele teve coragem e mostrou
que não pode esmorecer. Mesmo com a gravidade da doença, ele tinha fé que seria
curado”, diz Thiago.
O
filho do cantor conta que tinha esperança, até dois dias antes do pai falecer,
pois um empresário do pai relatou que Leandro tinha apenas 2% de chance de
sobreviver. O dia 23 de junho ficou marcado para Thiago.
“Minha tia Mariana deu a
notícia, no elevador: ‘Olha, o papai descansou’. Foi uma perda muito grande
para todos que gostavam dele, era muito novo. Hoje, estou quase na idade dele e
vejo que, realmente, tinha uma vida toda pela frente", afirma.
Fé e superação
Leandro teve quatro filhos, que se orgulham da
história de humildade do pai. Thiago Costa acredita
que a religiosidade da família foi fundamental para lidar com a perda de
Leandro.
“Nossa
família é muito unida, católica. Além disso, o Brasil inteiro fazendo orações,
mandando energia positiva, minha avó foi a que mais deu força, aquela velinha é
formidável, é incrível a força dela, ela é nosso esteio", ressalta Thiago.
Leandro, Leonardo e família, em Goiás (Foto: Reprodução/TV
Anhanguera)
Mãe
de Leandro, Leonardo e mais seis filhos, Dona Carmem Divina da Silva se manteve
forte nos últimos 20 anos, mas conta que sempre que chega o mês de junho, tudo
muda. Ela relata que, nesta época do ano, lembra muito do sofrimento que toda a
família passou durante a descoberta da doença, o tratamento e a morte de
Leandro.
“Até hoje é difícil nesse
período. Parece que o tempo já vai mudando, já vai fechando. Não tem nem como
falar", afirmou dona Carmem.
Fora
dessa temporada, no entanto, “não tem tristeza”: “A gente só lembra dos
momentos bons dele. Ele trouxe alegria para muita gente, para a família
principalmente”.
Uma
das formas que encontrou de se manter perto do filho foi implantando a Casa de Apoio São Luiz,
uma instituição filantrópica que oferece hospedagem, transporte, alimentação e
serviço de emergência a pacientes com câncer, em Aparecida de Goiânia.
Era, segundo ela, o grande sonho de Leandro, mas que, infelizmente, ele não
teve tempo de ver o local funcionando.
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO