Corpo do poeta Manoel de Barros é velado em cemitério (Foto: Lucas Lourenço/G1 MS)
O corpo do poeta Manoel de Barros
é velado, na tarde desta quinta-feira (13), no cemitério Parque das
Primaveras, em Campo Grande. Familiares, amigos e fãs estão no local
para dar o último adeus ao poeta, que morreu às 8h05 (de MS) no Proncor,
onde estava internado. A capela onde está o caixão foi isolada para a
família.
Filha de Manoel, Martha Barros, durante o velório (Foto: Lucas Lourenço/G1 MS)
A filha do poeta, Martha de Barros, afirmou ao
G1 que é
um sentimento de que ele descansou e que ele deixou uma obra linda.
Tímida igual ao pai, Martha recitou um dos versos que ele mais gostava.
“Do lugar onde estou, já fui embora”. Ela agradeceu carinho de todos.
O artista plástico e amigo da família, Jonir Figueiredo, disse que teve
convívio de cerca de 30 anos com a família e que, há três anos,
homenageou Manoel em exposição no Marco. Ele fez uma mandala do
caramujo-flor, que era o apelido o poeta. “O caramujo-flor é aquele
bichinho que, quando alguém se aproxima, ele se esconde. O Manoel era
assim, tímido”, afirmou, completando que considera que os 97 anos de
Manoel foram muito bem vividos.
MANOEL DE BARROS
Poeta morreu aos 97 anos
Maysa Barros, nora de Manoel, era casada com João Venceslau, filho
caçula do poeta que morreu em 2007 em um acidente de avião, e comentou a
convivência com o sogro. “Era muito prazerosa, ela era muito querido,
sempre tinha palavra amiga, além de ser carinhoso e divertido.”
O neto Felipe de Barros relatou que Manoel tinha ficado mais cansado e
saía menos de casa desde a morte do filho. “Na verdade, ele estava preso
no próprio corpo”, declarou, completando que, além de um avô, perdeu um
amigo.
A princípio, a esposa do poeta, Stella de Barros, de 93 anos, não ia ao
velório, mas decidiu ir para dar beijo de despedida no marido. Eles
ficaram casados por 64 anos.
Amigo e filho de consideração chora durante velório do poeta (Foto: Lucas Lourenço/G1 MS)
Palmiro Anastásio dos Santos, de 67 anos, é amigo e se considera filho
de criação e de coração de Manoel de Barros. Morava e trabalhava na
fazenda dele, em Corumbá. “Ele era como uma árvore no meio do campo, não
tinha maldade. Hoje eu vim aqui para ver ele pela última vez. Ele
deixou uma lembrança, que eu nunca vou esquecer”.
A compositora, musicista e escritora Lenilde Ramos também foi ao cemitério para se despedir do poeta, que conheceu em 1970.
“Vamos falar do Manoel sempre no presente, porque a obra, o trabalho
dele permanece e vai ser assim para sempre. Para mim, ele era como um
grande alquimista, que transforma metais simples em ouro. Na arte, a
gente vê o surgimento de muitas tendências, a gente vê artistas seguindo
essas tendências, mas é difícil surgir um elemento novo. O Manoel era
esse elemento novo. Ele era um alquimista das palavras”, declarou
Lenilde.
Irmã de Manoel de Barros, Eudes (Foto: Lucas Lourenço/G1 MS)
Única irmã do poeta, Eudes de Barros Baltar, de 88 anos, destacou que
Manoel era um irmão maravilhoso. "Vou ter saudades da pessoa, do
sorriso, dos conselhos, de tudo."
O vice-presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, Abrão
Razuk, pontuou que a morte do Manoel de Barros é uma perda irreparável
para a literatura universal. “Hoje, seus escritos são universais, eles
saíram da base física do Pantanal e hoje pertencem ao mundo. Toda a obra
dele é produto de uma grande genialidade, ele era um gênio da
literatura”, declarou.
O presidente da academia, Reginaldo Alves de Araújo, destacou que
Manoel de Barros “é a estrela maior” dos poetas contemporâneos. “Manoel é
um poeta diferenciado que fez com que o Brasil inteiro conhecesse, em
verso, o que é o Pantanal.”
A diretora-presidente da Fundação Municipal de Cultura (Fundac) de
Campo Grande, Juliana Zorzo, foi ao velório e disse que Manoel de Barros
foi um dos maiores poetas do país e que é um orgulho muito grande para Mato Grosso do Sul. “Vamos trabalhar para perpetuar o nome dele, assim como as obras dele e tudo o que ele produziu”, afirmou.
Manoel de Barros deixou esposa, uma filha, sete netos e cinco bisnetos.
Biografia
Manoel Wenceslau Leite de Barros era advogado, fazendeiro e poeta.
Nasceu em Cuiabá, no Beco da Marinha, às margens do rio Cuiabá, em 19 de
dezembro de 1916.
Filho de João Venceslau Barros, capataz na região, Manoel se mudou para
Corumbá, no Pantanal sul-mato-grossense, onde passou a infância. Nos
últimos anos, o poeta morou em Campo Grande e levou uma vida reclusa ao lado da esposa.
Manoel de Barros era ocupante da cadeira número 1 da Academia
Sul-Mato-Grossense de Letras. Em nota, a entidade lamentou a morte do
poeta.
Obras
Manoel de Barros publicou seu primeiro livro, "Poemas concebidos sem
pecado", em 1937. Seu último volume, "Escritos em verbal de ave", saiu
em 2011.
Em novembro do ano passado a editora Leya lançou a obra completa do
poeta, com título de “A biblioteca de Manoel de Barros”. São, ao todo,
18 volumes. A edição especial incluiu um poema até então inédito, “A
turma” (2013), o último escrito pelo autor. A coleção também trazia os
cinco livros infantis feitos pelo poeta.
No início de novembro, o site Publish News, que cobre o mercado
editorial brasileiro, informou que a obra de Manoel de Barros foi
contratada pela Alfaguara, selo da editora Objetiva. De acordo com o
site, a editora planeja lançar os primeiros títulos no segundo semestre
de 2015.
O perfil do poeta no site da Leya destaca que em 1966 ele ganhou o
prêmio nacional de poesias com "Gramática Expositiva do Chão". Em 1998,
levou o Prêmio Nacional de Literatura do Ministério da Cultura, pelo
conjunto da obra. Ao longo da carreira de sete décadas, ganhou o Prêmio
Jabuti duas vezes, em 1990 e 2002, com as obras "O guardador de águas"
(1989) e "O fazedor de amanhecer" (2001). Em 2000, foi premiado pela
Academia Brasileira de Letras.
Ainda segundo a Leya, Manoel de Barros teve sua obra traduzida em
Portugal, Espanha, França e Estados Unidos. Em 2008, foi tema do
documentário "Só dez por cento é mentira", de Pedro Cezar.