Morreu de madrugada desta 
sexta-feira (18), em casa, no Leblon, Zona Sul do Rio, o escritor e 
acadêmico João Ubaldo Ribeiro, aos 73 anos. Como mostrou o Bom Dia Rio, 
ele teve uma embolia pulmonar. João Ubaldo era casado e tinha quatro 
filhos. Inicialmente, o corpo dele seria velado a partir das 10h na 
Academia Brasileira de Letras (ABL), no Centro do Rio, mas a cerimônia 
sofreu atrasos por conta da chegada dos filhos que vieram de outros 
estados, e acabou sendo adiada para às 12h. Segundo a ABL, o velório 
acontecia no Salão dos Poetas Românticos e era aberto ao público, até as
 19h. A academia decretou luto por três dias.
  
     
    
        
JOÃO UBALDO RIBEIRO
1941 - 2014
 
 
    
 
 Várias coroas de flores chegavam à ABL durante toda a manhã, mas o corpo só chegou ao local por volta das 11h30.
 De acordo com funcionários do Cemitério São João Batista, em Botafogo, 
Zona Sul, o sepultamento dele estava previsto para ocorrer às 16h. Por 
conta das mudanças e da chegada de uma das filhas dele, que mora da 
Alemanha, o enterro poderá ser adiado para sábado (19).
 O escritor era o 7º ocupante da cadeira número 34 da Academia 
Brasileira de Letras. Ele foi eleito em 7 de outubro de 1993, na 
sucessão de Carlos Castello Branco. O secretário geral da ABL, Domício Proença Filho, disse Ubaldo era um escritor voltado para o povo brasileiro.
  Corpo é velado em salão da ABL (Foto: Alba Valéria Mendonça / G1)
Corpo é velado em salão da ABL (Foto: Alba Valéria Mendonça / G1) 
 
 "Ele não vinha sempre, mas quando vinha era uma festa, com aquela voz 
de barítono, aquela alegria. Ubaldo era um escritor voltado para o povo 
brasileiro, a realidade brasileira, com a justiça social. Tinha 
personagens que retratavam bem essa realidade. Tenho certeza que 
Zecamunista deve estar muito triste hoje", disse Proença.
 O presidente da ABL Geraldo Holanda Cavalcante contou que, nos quatro 
anos de presidência, encontrou com Ubaldo apenas uma vez, por conta de 
problemas de saúde do escritor.
 "Ele deixa uma marca profunda na história do romance, com 'Viva o povo 
brasileiro' . Só estive com ele uma vez. Mas sei que ele era uma pessoa 
jovial, alegre, amigo e muito companheiro. Ele revolucionou o romance 
brasileiro com 'Viva o povo brasileiro' e 'Sargento Getulio'", disse o 
presidente.
 Internado em maio
 A secretária Valéria dos Santos, que trabalhou durante dez anos com o 
escritor, disse que em maio Ubaldo chegou a ser internado durante cinco 
dias por causa de problemas respiratórios. Segundo ela, o escritor 
reduziu o cigarro, mas não chegou a parar de fumar como foi orientado 
pelos médicos.
 Valéria contou que há cerca de um ano e meio Ubaldo vinha escrevendo um
 novo romance, mas que não revelou seu conteúdo. Ele acordava por volta 
das 5h para se dedicar ao livro e por volta das 10h, parava para atender
 telefonemas e outras demandas.
 "Ele acordou por volta das 3h [nesta madrugada] e chamou a mulher 
dizendo que estava se sentindo mal. Chamaram uma ambulância e os 
paramédicos tentaram reanimá-lo, mas ele já estava morto", contou 
Valéria acrescentando que o cardiologista particular dele também foi 
chamado.
 Trajetória
 João Ubaldo Ribeiro ganhou em 2008 o Prêmio Camões, o mais importante 
da literatura em língua portuguesa. Ele é autor de livros como “Sargento
 Getúlio”, “O sorriso dos lagartos”, “A casa dos budas ditosos” e “Viva o
 povo brasileiro”. Também ganhou dois prêmios Jabuti, da Câmara 
Brasileira do Livro, em 1972 e 1984, respectivamente para o melhor autor
 e melhor romance do ano, por ‘Sargento Getúlio’ e ‘Viva o povo 
brasileiro".
 Nascido em Itaparica (BA), Ribeiro viveu até os 11 anos com a família 
em Sergipe, onde o pai era professor e político. Passou um ano em Lisboa
 e um ano no Rio para, em seguida, se estabelecer em Itaparica, onde 
viveu aproximadamente sete anos.
 
 João Ubaldo também se formou bacharel em Direito, em 1962, pela 
Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas nunca chegou a advogar. Entre
 1990 e 1991, o escritor morou em Berlim, na Alemanha, a convite do 
Instituto Alemão de Intercâmbio (DAAD – Deutscher Akademischer 
Austauschdienst).
 Ele
 era pós-graduado em Administração Pública pela UFBA e mestre em 
Administração Pública e Ciência Política pela Universidade do Sul da 
Califórnia (USC) .
  
 O
 escritor foi professor da Escola de Administração e da Faculdade de 
Filosofia da Universidade Federal da Bahia e professor da Escola de 
Administração da Universidade Católica de Salvador. Como jornalista, 
trabalhou como repórter, redator, chefe de reportagem e colunista do 
Jornal da Bahia; foi também colunista, editorialista e editor-chefe da 
Tribuna da Bahia. 
 Ribeiro
 trabalhou como colunista do jornal Frankfurter Rundschau, na Alemanha, e
 foi colaborador de diversos jornais e revistas no país e no exterior, 
entre os quais, além dos citados, Diet Zeit (Alemanha), The Times 
Literary Supplement (Inglaterra), O Jornal (Portugal), Jornal de Letras 
(Portugal), Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, A Tarde e 
muitos outros.
 A
 formação literária de João Ubaldo Ribeiro iniciou ainda nos primeiros 
anos de estudante. Foi um dos jovens escritores brasileiros que 
participaram do International Writing Program da Universidade de Iowa, 
nos Estados Unidos.Trabalhando na imprensa, pôde também escrever seus 
livros de ficção e construir uma carreira que o consagrou como 
romancista, cronista, jornalista e tradutor.
   
Obras
 Os primeiros trabalhos literários de João Ubaldo Ribeiro foram 
publicados em diversas coletâneas, como “Reunião”, “Panorama do Conto 
Baiano”. Aos 21 anos de idade, escreveu o seu primeiro livro, “Setembro 
não tem sentido”, que ele desejava batizar como “A Semana da Pátria”, 
contra a opinião do editor. O segundo foi “Sargento Getúlio”, de 1971. 
Em 1974, publicou “Vencecavalo e o Outro Povo”, que por sua vontade se 
chamaria “A Guerra dos Paranaguás”.
 Consagrado como um marco do romance brasileiro moderno,
 "Sargento Getúlio" filiou o seu autor, segundo a crítica, a uma 
vertente literária que sintetiza o melhor dos escritores Graciliano 
Ramos e Guimarães Rosa. A história é temperada com a cultura e os 
costumes do Nordeste brasileiro e, em particular, dos sergipanos. Esse 
regionalismo extremamente rico e fiel dificultou a versão do romance 
para o inglês, obrigando o próprio autor a fazer esse trabalho. A seu 
respeito pronunciaram-se, nos Estados Unidos e na França, as colunas 
literárias de todos os grandes jornais e revistas.
 Em
 1999, foi um dos escritores escolhidos em todo o mundo para dar 
depoimento, ao jornal francês Libération, sobre o Terceiro Milênio. E 
Viva o Povo Brasileiro foi o tema do exame de Agrégation, concurso para 
detentores de diploma de graduação na universidade francesa. Este 
romance e "Sargento Getúlio" constaram da maior parte das listas dos cem
 melhores romances brasileiros do século.
  Prêmios
 - Prêmio Golfinho de Ouro, do Estado do Rio de Janeiro, conferido, em 1971, pelo romance Sargento Getúlio;
 - Dois prêmios Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1972 e 1984, 
respectivamente para o Melhor Autor e Melhor Romance do Ano, pelo 
romances Sargento Getúlio e Viva o povo brasileiro;
 - Prêmio Altamente Recomendável - Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil,1983, para Vida e Paixão de Pandonar, o Cruel ;
 - Prêmio Anna Seghers, em 1996 (Mogúncia, Alemanha);
 - Prêmio Die Blaue Brillenschlange (Zurique, Suíça);
 - Detém a cátedra de Poetik Dozentur na Universidade de Tubigem, Alemanha (1996).
 - Prêmio Lifetime Achievement Award, em 2006;
 - Prêmio Camões, em 2008.
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO