Morre
Dona Canô, aos 105 anos, diz filho em Santo Amaro, na Bahia
Dona Canô comemorou 105 anos no mês de setembro de
2012 (Foto: Egi Santana/G1)
Claudionor Viana Teles Veloso, mais conhecida como
Dona Canô, morreu aos 105 anos, nesta terça-feira (25), em sua casa, localizada
na cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, afirmou o filho
Rodrigo Veloso ao G1 às 9h20 (10h20 no horário de Brasília). Dona Canô
passou a noite de Natal em casa, com os filhos.
A idosa esteve internada por seis dias, recebendo
alta do Hospital São Rafael, em Salvador, na sexta-feira (21). Ela tinha sofrido
um ataque isquêmico cerebral, que gera redução do fluxo de sangue nas artérias
do cérebro, segundo informou o boletim médico.
De acordo com informações de Edson Nascimento,
amigo da família, Dona Canô pediu um vestido novo e branco para deixar o
hospital. Foi com ele que ela foi vestida para a casa, acompanhada da filha
Mabel. Maria Bethânia acompanhou a transferência da mãe em outro carro.
A matriarca teve oito filhos, entre eles os
cantores Caetano Veloso e Maria Bethânia. Em outubro de 2011, Dona Canô perdeu
a filha adotiva Eunice Veloso, aos 83 anos, que morreu com insuficiência
respiratória. O filho famoso, o compositor Caetano, completou 70 anos em agosto
deste ano. Em dezembro, a matriarca da família assistiu ao show da nova turnê
da filha Maria Bethânia, no Teatro Castro Alves.
No dia 16 de setembro de 2012, Dona Canô completou
105 anos e, como tradicionalmente faz, reuniu amigos e a família em missa e
comemoração em casa, na cidade de Santo Amaro. Estiveram na festa os filhos
Caetano Veloso e Maria Bethânia e a amiga Regina Casé. Quem celebrou a missa
foi o padre Reginaldo Manzotti.
Saúde
Segundo a família, Dona Canô nunca apresentou problemas graves de saúde. Em 5 de novembro deste ano, ela foi internada no Hospital São Rafael, após apresentar sintomas de gripe com febre. Ela permaneceu internada até o dia 9, quando recebeu alta.
Já em 2011, Dona Canô foi hospitalizada no dia 7 de
julho com dores abdominais e falta de ar. Em julho de 2007, a idosa ficou sete
dias internada no Hospital São Rafael por causa de problemas respiratórios. Na
ocasião, ela foi encaminhada de helicóptero do município de Santo Amaro até
Salvador. No dia 2 de agosto ela voltou a ser hospitalizada por dores na
coluna.
Biografia
Nascida em 16 de setembro de 1907, Claudionor Viana Teles Veloso construiu sua história no Recôncavo Baiano, no município de Santo Amaro da Purificação. Os filhos biológicos são Clara, Roberto, Caetano, Bethânia, Rodrigo e Mabel. Dona Canô adotou as filhas Irene e Nicinha. Era viúva de “Seu Zeca”, que morreu em 1983, com 82 anos.
Conhecida por sua personalidade forte e
receptividade, Dona Canô participava sempre da tradicional Festa de Reis em
Santo Amaro, que reune milhares de pessoas em toda região. A celebração de seus
aniversários também se tornou um marco, atraindo muitas pessoas para a festa.
Dona Canô sempre aparecia vestida toda de branco em
seus aniversários. Quando completou o centenário, a missa foi celebrada pelo
então arcebispo primaz do Brasil, cardeal Dom Geraldo Majella. De Dom Geraldo,
Dona Canô recebeu a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida.
Depois das comemorações em Santo Amaro, Dona Canô
foi para um hotel festejar os 100 anos. Ela foi recebida pela família e pelos
amigos mais próximos. O então ministro da Cultura, Gilberto Gil, entregou à
Dona Canô uma carta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em julho de
2011, Lula visitou pessoalmente Dona Canô em Santo Amaro.
Atrás da aparência frágil, com um corpo miúdo e
fala mansa, Dona Canô escondia a longevidade de poucos e a saúde considerada
“de ferro”. Ela repetiu em diversas oportunidades que era dona de uma fama que
sempre disse não entender o motivo, referindo-se ao intenso interesse da
imprensa sobre ela e sua vida em Santo Amaro da Purificação.
Autêntica e mãe de dois grandes nomes da Música
Popular Brasileira, Dona Canô se tornou um símbolo não só de Santo Amaro, como
do Recôncavo Baiano. Sempre lutou para melhorar a cidade e acolheu os moradores
como uma mãe.
O sobrado de número 179, no centro de Santo Amaro,
se tornou um dos pontos turísticos do município. A casa onde residiu Dona Canô
e a família Veloso sempre esteve com as portas abertas para baianos e turistas.
No casarão antigo, as paredes são cobertas de
fotografias e histórias dela e de toda família. Fotografias com o ex-presidente
da república Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-senador Antônio Carlos Magalhães
ganham destaque na parede da sala.
Nas entrevistas que dava para a imprensa, Dona Canô
costumava destacar a felicidade que sentia ao poder ter vivido o suficiente
para acompanhar o crescimento dos filhos e netos, tendo até conhecido os
bisnetos. Sua lucidez a acompanhou até os últimos dias de vida.
Ativa, era sempre Dona Canô quem cuidava das contas
de casa e decidia o cardápio na cozinha. Também sempre foi muito conhecida pela
vaidade. Foi uma mulher marcada pela religiosidade. Em casa, guardava há anos
várias imagens religiosas. A maioria foi dada por amigos e até por
desconhecidos. Foi com a ajuda da matriarca que a festa de Nossa Senhora da
Purificação transformou-se em um evento famoso na Bahia.
Uma das principais comemorações de aniversário
foram os 100 anos de Dona Canô em 1997. O dia foi de flores, presentes e
visitas de amigos e dos filhos. Na igreja de Nossa Senhora da Purificação, foi
realizada uma missa em homenagem à matriarca. A imagem peregrina de Nossa
Senhora Aparecida foi levada de São Paulo especialmente para a ocasião. A
matriarca dos Veloso ficou pouco tempo na igreja, porque se emocionou bastante.
Maria Bethânia cantou Romaria em homenagem à mãe e assim que terminou a música,
abraçou Dona Canô.
Sobre a história construída nos 105 anos de vida em
Santo Amaro, Dona Canô disse em entrevista este ano que não conseguia esquecer
de quando passeava com os amigos nas usinas de açúcar da cidade. “A cidade
cresceu, as coisas ficaram longe, os bondes eram importantes”, contou ao G1
no mês de setembro.
Homenagens
Cantada por Daniela Mercury, a composição de Caetano Veloso que leva no título o nome da mãe "Dona Canô" descreve a relação que a matriarca tinha com seus familiares e amigos.
A vida de Dona Canô também inspirou o historiador
Antônio Guerreiro de Freitas, que publicou em 2009 a biografia "Canô
Velloso, lembranças do saber viver", escrita também por Arthur Assis
Gonçalves da Silva, que faleceu antes do término da obra.
Dona Canô também está no nome do teatro fundado há
nove anos em Santo Amaro com a sua contribuição. A filha Mabel Velloso lançou o
livro “O Sal é o Dom – Receita de Mãe Canô” reunindo receitas feitas pela mãe.
FONTE: G1 – O PORTAL DE NOTÍCIAS
DA GLOBO
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