O que querem nossos
estudantes?
“Os trabalhos de estudante são provas para o
caráter, e não para a
inteligência. Seja ortografia, versão ou cálculo, trata-se de aprender a
querer” (Alain).
inteligência. Seja ortografia, versão ou cálculo, trata-se de aprender a
querer” (Alain).
Nós, os que fazemos e sofremos a educação superior,
sabemos o quanto está desafiadora a tarefa de contribuirmos para a formação do
caráter, da inteligência e do aprender a querer em nossos estudantes.
Sou de uma época em que o conhecimento não se
prestava só à aquisição de um certificado. O conhecimento deveria servir para
consubstanciar a construção de um projeto de nação para o Brasil, de um modelo
societário digno da estatura humana.
Outra motivação que tínhamos quando aspirávamos ao
saber ligava-se ao desejo de formação pessoal, centrada no anseio por um estilo
existencial que fosse interessante e consequente. Nesse processo, liberdade,
justiça e responsabilidade eram os valores que nos guiavam quando íamos aos
bancos universitários e abríamos os ouvidos a aulas de quem se postava à nossa
frente no desempenho dos papéis de mestres e orientadores. Em outras palavras,
em vez de certificação, perseguíamos formação.
Hoje, contudo, as coisas parecem às avessas. A
corrida estrábica à caça de certificados, quais senhas de acesso ao celebrado
templo do deus “mercado de trabalho”, parece estar confundindo nossos
estudantes e embotando-lhes o espírito.
Suspeito que as ondas gigantescas que se desenvolvem desde os primórdios da Modernidade ocidental e que se configuram no antropocentrismo e no individualismo estejam cerrando nossos estudantes neles mesmos. Cruel ideologia essa que expropria cidadãos, em geral, e acadêmicos, em particular, da noção ampliada sobre o que seja a vida. Indivisos em si mesmos, mas cindidos no cerne do próprio ser, o que lhes falta é aquele senso de responsabilidade social, o qual se associa à noção de coisa pública e de bem comum, a dimensão compartilhada da vida em sociedade.
O imperativo de agora parece ser o do olho no
próprio umbigo a todo custo, mesmo que a obtusidade dessa atitude promova
tropeções quando o lado coletivo da vida em sociedade lhes pede cidadania
orgânica e solidária desde uma dimensão antropológica mais profunda.
Por conta dessa nova onda, a do êxito individual a
ferro e fogo, certa ética do vale-tudo inunda nossas salas de aula. Os
indicativos dessa ética podem ser vistos quando a lei do menor esforço, a regra
da vontade zero e o princípio do comprometimento nulo são evocados para que a
acusação de que “o professor está muito exigente” apareça nas bocas
universitárias.
Se é que podemos concordar com Kant quando ele
afirma que “O homem é aquilo que a educação faz dele”, então podemos indagar:
quem essa educação certificadora está formando? Que homem e que mulher iremos
encontrar no período pós-universidade, quando homens e mulheres certificados
tiverem o Brasil nas mãos? Será que o recrudescimento da norma do “cada um por
si” e da regra de “toda e qualquer vantagem em tudo e a qualquer preço” é que
prevalecerão soberanas sobre nossas cabeças?
Essas questões são sérias demais para que só o
mercado as resolva. De nossa parte, talvez seja hora de centrarmos força no
papel da boa formação. Mas... será isso o que querem nossos estudantes?
Por Wilson Correia*
Colunista Brasil Escola
Colunista Brasil Escola
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*Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo, doutor em Educação pela UNICAMP, professor na Universidade Federal do Tocantins, Campo Universitário de Arraias, e autor do livro Saber Ensinar (São Paulo: EPU, 2006). Endereço eletrônico: wilsoncorreia@uft.edu.br.
*Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo, doutor em Educação pela UNICAMP, professor na Universidade Federal do Tocantins, Campo Universitário de Arraias, e autor do livro Saber Ensinar (São Paulo: EPU, 2006). Endereço eletrônico: wilsoncorreia@uft.edu.br.
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