Do G1, em São Paulo
O Papa Bento XVI saúda os
fiéis na audiência pública desta quarta-feira (13) no Vaticano, a primeira após
ele anunciar que vai renunciar em 28 de fevereiro (Foto: AFP)
O Papa Bento XVI, em sua primeira fala em público
desde que anunciou sua renúncia, disse nesta quarta-feira (13) no Vaticano que
tomou a decisão de abandonar o pontificado "em plena liberdade, pelo bem
da Igreja".
Bento XVI disse que "orou arduamente e
examinou sua consciência" antes de tomar a decisão.
O pontífice alemão, de 85 anos, reiterou que está
consciente da gravidade da decisão, mas também que está consciente da
diminuição de suas forças espirituais e físicas.
Ele disse ter certeza que a Igreja iria
sustentá-lo com orações e que Cristo continuará sendo seu guia.
O papa chegou às 10h44 locais (7h44 de Brasília)
para a tradicional audiência geral das quartas-feiras, na Sala Paulo VI, e foi
aplaudido de pé por emocionados fiéis de vários países, inclusive do Brasil.
Depois de ouvir os gritos de "Bento,
Bento!", o pontífice agradeceu pela calorosa recepção.
"Agradeço a todos por vosso amor e vossas
orações", afirmou, com aparência cansada.
Na audiência, o Pontífice recebeu no Vaticano mais de 3.500 fiéis e
peregrinos para a sua catequese e fez a saudação em várias línguas, entre as
quais o português, falando sobre o período da Quaresma. Ele agradeceu à presença de fiéis, citando
literalmente as cidades de Curitiba e Porto Alegre. Leia
a íntegra.
O Papa também celebra hoje a Santa Missa de
quarta-feira de cinzas, que abre o período da Quaresma. A missa será rezada a
partir das 13h50 de Brasília.
Fiéis esperam o Papa Bento
XVI para a audiência pública desta quarta-feira (13) no Vaticano (Foto: AP)
Na véspera, o porta-voz do Vaticano, Federico
Lombardi, disse que o Papa Bento XVIestá usando um marcapasso cardíaco "há
algum tempo", mas que seu estado de saúde é bom e que ele estava
"lúcido e sereno" quando tomou a histórica decisão de encerrar
precocemente seu pontificado.
Renúncia histórica
Bento XVI anunciou a renúncia pessoalmente, falando em latim, durante um encontro de cardeais no Vaticano, na segunda-feira. O conclave de cardeais deve escolher o novo Papa até a Páscoa, prevê o Vaticano.
O padre Lombardi disse que as baterias do
marcapasso foram trocadas há três meses, em uma intervenção pequena, mas que
isso não influiu na decisão da renúncia papal.
"Isso não influiu na decisão, as razões
estavam na sua percepção de que sua força tinha diminuído com a idade
avançada", disse.
A informação sobre o marcapasso papal, que não
era de conhecimento público, havia sido adiantada pelo jornal italiano "Il
Sole 24 Ore", que afirmou que o papa usava o artefato havia dez anos.
Lombardi também confirmou informação dada na
véspera, de que Bento XVI vai manter a agenda de trabalho até dia 28, quando
vai renunciar.
Isso inclui uma audiência com o presidente da
Guatemala, Otto Pérez Molina, no próximo sábado (16).
A última audiência pública do papa, no dia 27,
será na Praça de São Pedro, no Vaticano, para permitir que os fiéis possam
assisti-la e se despedir do Papa.
O porta-voz também reafirmou que Bento XVI não
vai interferir na escolha de seu sucessor, deixando os cardeais livres para
decidirem. Federico disse que, após a renúncia, Bento XVI não terá nenhum papel
na chefia da Igreja Católica.
Renúncia
O surpreendente discurso da renúncia, a primeira de um papa em séculos, foi feito entre as 11h30 e 11h40 locais (8h30 e 8h40 do horário brasileiro de verão), segundo o Vaticano.
A Santa Sé anunciou que o papado, exercido pelo
teólogo alemão desde 2005, vai ficar vago até que o sucessor seja escolhido, o
que se espera que ocorra "o
mais rápido possível" e até a Páscoa, segundo o porta-voz Federico
Lombardi.
Em comunicado, Bento XVI, que tem 85 anos,
afirmou que vai deixar a liderança da Igreja Católica Apostólica Romana devido
à idade avançada, por "não ter mais forças" para exercer as
obrigações do cargo.
O pontífice afirmou que está "totalmente
consciente" da gravidade de seu gesto.
"Por essa razão, e bem consciente da
seriedade desse ato, com total liberdade declaro que renuncio ao ministério
como Bispo de Roma, sucessor de São Pedro", disse Joseph Ratzinger.
Na véspera, Bento XVI escreveu em sua conta no
Twitter: "Devemos confiar no maravilhoso poder da misericórdia de Deus. Somos
todos pecadores, mas Sua graça nos transforma e renova".
Sucessor de João Paulo II, Bento XVI havia assumido
o papado em 19 de abril de 2005, com 78 anos.
Pessoas se reúnem em frente a
cúpula de São Pedro, no Vaticano, depois que o papa Bento XVI anunciou que vai
renunciar ao cargo. (Foto: Filippo Monteforte / AFP Photo)
O Vaticano afirmou que a renúncia vai se
formalizar às 20h locais de 28 de fevereiro (17h do horário brasileiro de
verão), uma quinta-feira.
Até lá, o Papa estará "totalmente
encarregado" dos assuntos da igreja e irá cumprir os compromissos já
agendados, segundo a Santa Sé.
O Papa Bento XVI lê nesta
segunda-feira (11) o anúncio de sua renúncia, durante reunião de cardeais no
Vaticano. A imagem foi divulgada pelo jornal ' L'Osservatore Romano', do
Vaticano (Foto: AP)
O novo Papa será
escolhido pelo conclave de cardeais, como de costume.
Decisão surpreendente
O porta-voz do Vaticano disse que a decisão do Papa surpreendeu a todos do seu círculo mais próximo.
Lombardi afirmou que, após a renúncia, Bento XVI
vai à residência papal de verão, em Castel Gandolfo, próximo a Roma, e depois
irá morar em um mosteiro dentro do Vaticano, que vai ser reformado para
recebê-lo.
Lombardi também disse que Bento XVI não vai
participar do conclave.
O porta-voz afirmou que Bento XVI mostrou
"grande coragem" no seu gesto e descartou que uma depressão tenha
sido o motivo da renúncia.
Lombardi também descartou que Bento XVI vá
interferir no papado de seu sucessor.
Aparência frágil
Nos últimos meses, o Papa parecia cada vez mais frágil em suas aparições públicas, muitas vezes precisando de ajuda para caminhar.
Em seu livro de entrevistas publicado em 2010,
Bento XVI já
havia falado sobre a possibilidade de renunciar caso não tivesse condições de
continuar no cargo.
Georg Ratzinger, irmão do Papa, afirmou à France
Presse que o pontífice já planejava
a renúncia havia alguns meses.
O diretor do jornal do Vaticano, o 'L'Osservatore
Romano', Giovanni Maria Vian, disse que a decisão foi
tomada há quase um ano.
Crises no pontificado
Bento XVI, ou Joseph Ratzinger, foi eleito para suceder João Paulo II, um dos pontífices mais populares da história.
Ele foi escolhido em 19 de abril de 2005, quando
tinha 78 anos, 20 anos mais idoso do que seu predecessor quando foi eleito.
O papado do conservador alemão foi marcado por
algumas crises, com várias denúncias de abuso
sexual de crianças e adolescentes e acobertamento por parte do clero
católico em vários países, que abalou a igreja, por um discurso
que desagradou aos muçulmanos e também por um escândalo envolvendo o
vazamento de documentos privados por intermédio de seu mordomo pessoal, o
chamado "VatiLeaks",
que revelou os bastidores da luta interna pelo poder na Santa Sé.
Os escândalos de pedofilia o levaram, em várias
ocasiões, a expressar um pedido de perdão público às vítimas e parentes e a
reconhecer, durante
sua viagem a Portugal, em maio de 2010, que a maior perseguição que sofria
a Igreja não vinha de seus "inimigos externos" e sim de seus
"próprios pecados". Na ocasião, ele prometeu que os culpados
responderiam "ante Deus e a justiça ordinária" pelos crimes.
Como Papa, Bento XVI tomou medidas que
confirmaram o seu perfil conservador, como autorizar a missa em latim, em
setembro de 2007.
Em janeiro de 2009, ele suspendeu a excomunhão de
quatro bispos integristas do movimento ultraconservador de Marcel Lefebvre,
entre eles o britânico Richard
Williamson, que nega a existência do Holocausto nazista.
Em duas ocasiões, Bento XVI visitou a América
Latina.
A primeira em maio de 2007, para assistir à
assembleia geral da Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe
(Celam), celebrada
na cidade de Aparecida, São Paulo.
Nessa ocasião, ele negou que a religião católica
tivesse sido imposta pela força aos povos americanos, o que lhe valeu duras
críticas de religiosos e laicos que recordaram as atrocidades cometidas pelos
conquistadores da América em nome da fé.
Ele também canonizou Frei Galvão, primeiro
santo brasileiro.
Em março de 2012, ele visitou o México e Cuba,
onde
defendeu a liberdade e os direitos da Igreja e recordou a primeira e
histórica visita de João Paulo II à ilha comunista em 1998.
Nas questões morais, ele se manteve inflexível
como seu antecessor.
Em nome da defesa da vida, Bento XVI manteve a condenação
do aborto, da manipulação genética, da eutanásia e do casamento gay.
Segundo ele, o cristianismo só é crível se for
exigente. Bento XVI prefere uma Igreja minoritária e convencida a uma grande
comunidade de fé vaga.
Livros e encíclicas
Entre 2007 e 2012, o papa teólogo publicou três livros sobre a vida de Jesus, a partir de dados fundamentais oferecidos nos Evangelhos e em outros escritos do Novo Testamento.
Neles, reflete sobre a figura de Jesus Cristo na
qualidade de teólogo, não como sumo pontífice da Igreja Católica, um imponente
exercício intelectual, que, além disso, foi um êxito internacional de vendas.
Bento XVI escreveu três encíclicas: "Deus
caritas est" (Deus é caridade, 2005), sobre a caridade e o amor divino,
"Spe salvi" (Salvos pela esperança, 2007), na qual faz uma autocrítica
ao cristianismo moderno e analisa principalmente o pessimismo e o materialismo
que sacode os europeus, e "Caritas in veritate" (Na caridade e na
verdade, 2009).
O Papa era aguardado no Rio de Janeiro em julho
deste ano, onde iria
participar da Jornada Mundial da Juventude, que vai reunir jovens católicos
do mundo inteiro.
A Arquidiocese do Rio afirmou que a renúncia do
Papa não
vai mudar a programação do evento.
O Vaticano vai fazer uma cerimônia de despedida
para Bento XVI antes do término de seu pontificado, à qual devem comparecer
fiéis de todo o mundo e autoridades "de muitos países", disse o
cardeal decano, Angelo Sodano.
Leia a íntegra do discurso em que o Papa
anunciou sua renúncia:
"Caros irmãos:
Convoquei-os para este consitório, não apenas
para as três canonizações, mas também para comunicar a vocês uma decisão de
grande importância para a vida da Igreja. Após ter repetidamente examinado
minha consciência perante Deus, eu tive certeza de que minhas forças, devido à
avançada idade, não são mais apropriadas para o adequado exercício do
ministério de Pedro. Eu estou bem consciente de que esse ministério, devido à
sua natureza essencialmente espiritual, deve ser levado não apenas com com
palavras e fatos, mas não menos com oração e sofrimento. Contudo, no mundo de
hoje, sujeito a mudanças tão rápidas e abalado por questões de profunda
relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e proclamar o
Evangelho, é necessário tanto força da mente como do corpo, o que, nos últimos
meses, se deteriorou em mim numa extensão em que eu tenho de reconhecer minha
incapacidade de adequadamente cumprir o ministério a mim confiado. Por essa
razão, e bem consciente da seriedade desse ato, com plena liberdade, declaro
que renuncio ao ministério como Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, confiado
a mim pelos cardeais em 19 de abril de 2005, pelo qual a partir de 28 de
fevereiro de 2013, às 20h, a Sé de Roma, a Sé de São Pedro, vai estar vaga e um
conclave para eleger o novo Sumo Pontífice terá de ser convocado por quem tem
competência para isso.
Caros irmãos, agradeço sinceramente por todo o
amor e trabalho com que vocês me apoiaram em meu ministério, e peço perdão por
todos os meus defeitos. E agora, vamos confiar a Sagrada Igreja aos cuidados de
nosso Supremo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo, e implorar a sua santa mãe
Maria para que ajude os cardeiais com sua solicitude maternal, para eleger um
novo Sumo Pontífice. Em relação a mim, desejo também devotamente servir a Santa
Igreja de Deus no futuro, através de uma vida dedicada à oração.
Vaticano, 10 de fevereiro de 2013.
BENEDICTUS PP. XVI"
O Papa Bento XVI lê nesta
segunda-feira (11) o anúncio de sua renúncia, durante reunião de cardeais no
Vaticano. A imagem foi divulgada pelo jornal ' L'Osservatore Romano', do
Vaticano (Foto: AP)
FONTE: G1 – O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
Nenhum comentário:
Postar um comentário