Cantor Ernesto Nazareth
Cantor Ernesto Nazareth, falecido em 1934.
Ernesto
Júlio de Nazareth (Nasceu
noRio de Janeiro, 20 de
março de 1863 —
e faleceu no dia 1º de Fevereiro de 1934) foi um pianista e compositor brasileiro,
considerado um dos grandes nomes do Tango
Brasileiro, atualmente (desde a década de 20 do século XX) considerado um
subgênero do choro.
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Biografia
Ernesto
Nazareth nasceu na casa Nº 9 da Rua do Bom Jardim (atualmente Rua Vidal de
Negreiros), no antigo Morro do Nheco (hoje Morro do Pinto), na região do Porto
do Rio de Janeiro. Era filho do despachante aduaneiro Vasco Lourenço da Silva
Nazareth e de D. Carolina Augusta da Cunha Nazareth. Sua mãe foi quem lhe
apresentou ao piano e lhe ministrou as primeiras noções do instrumento, mas
após a sua morte, em 1874,
Nazareth passou a receber lições de Eduardo Rodolpho de Andrade Madeira, amigo
da família, e, mais tarde, lições de Charles Lucien Lambert, um afamado
professor de piano de Nova Orleans, radicado no Rio de Janeiro e grande
amigo de Louis Moreau Gottschalk.
Aos 14
anos compôs sua primeira música, a polca-lundu "Você bem sabe",
editada, no ano seguinte, pela famosa Casa
Arthur Napoleão.
Em 1879, escreveu a polca
"Cruz, perigo!!". Em 1880, com 17 anos de idade fez sua primeira provável
apresentação pública, no Club Mozart. No ano seguinte, compôs a polca "Não
caio noutra!!!", seu primeiro grande sucesso, com diversas reedições. Em 1885, apresentou-se em
concertos em diferentes clubes da corte. Em 1893, a Casa Vieira
Machado lançou uma nova composição sua, o tango "Brejeiro", com o
qual alcançou sucesso nacional e até mesmo internacional, sendo pulicada em
Paris e nos EUA em 1914.
Em 14 de julho
de 1886, casou-se
com Theodora Amália Leal de Meirelles, com quem teve quatro filhos: Eulina,
Diniz, Maria de Lourdes e Ernestinho.
Seu
primeiro concerto como pianista realizou-se em 1898. No ano seguinte
foi feita a primeira edição do tango "Turuna". Em 1902, teve sua primeira
obra gravada, o tango brasileiro "Está Chumbado" pela Banda do Corpo
de Bombeiros do Rio de Janeiro. Em 1904 sua composição "Brejeiro" foi
gravada pelo cantor Mário Pinheiro com o título de "O sertanejo
enamorado", com letra de Catulo da Paixão Cearense. Em 1908, começou a
trabalhar como pianista na Casa Mozart. No ano seguinte, participou de recital
realizado no Instituto Nacional de Música, interpretando a gavotta
"Corbeille de fleurs" e o tango característico "Batuque".
Em 1919, começou a
trabalhar como pianista demonstrador da Casa Carlos Gomes à Rua Gonçalves Dias,
de propriedade do também pianista e compositor Eduardo
Souto, com a função de executar músicas para serem vendidas. Na época, a
maneira mais comum de se tomar conhecimento das as novidades musicais era
através das casas de música e seus pianistas demonstradores. Não havia rádio,
os discos eram raros, e o cinema, mudo. Em 1919, a Banda do Corpo de Bombeiros
do Rio de Janeiro gravou os tangos "Sarambeque" e "Menino de
ouro" e a valsa "Henriette". E em 1920, Heitor Villa-Lobos dedicou a ele a peça
"Choros nº 1", para violão.
Intérprete
constante de suas próprias composições, Nazareth apresentava-se como pianista
em salas de cinema, bailes, reuniões e cerimônias sociais. De 1909 a 1913, e de 1917 a 1918, trabalhou na sala
de espera do antigo Cinema Odeon (anterior ao prédio moderno da Cinelândia),
onde muitas personalidades ilustres iam àquele estabelecimento apenas para
ouvi-lo. Foi em homenagem à famosa sala de exibições que Nazareth batizou sua
composição mais famosa, o tango "Odeon". No mesmo Cine Odeon travou
conhecimento, entre outros, com o pianista Arthur
Rubinstein e com o compositor Darius
Milhaud, que viveu no Brasil entre 1916 e 1918 como secretário
diplomático da missão francesa.
"Seu
jogo fluido, desconcertante e triste ajudou-me a compreender melhor a alma
brasileira", declarou Milhaud sobre Ernesto Nazareth. Trechos de canções
de Nazareth foram citadas por Milhaud em seu balé Le Boeuf sur le Toit (O Boi
no Telhado) e a suíte "Saudades do Brasil".
Em
1922 foi convidado pelo compositor Luciano Gallet a participar de um recital no
Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro, onde executou seus tangos
"Brejeiro", "Nenê", "Bambino" e
"Turuna". Esta iniciativa encontrou resistência, tendo sido
necessária a intervenção policial para garantir a realização do concerto.
Em 1926, Nazareth embarcou
para uma turnê no estado de São Paulo, que foi planejada inicialmente para
durar 3 meses, mas acabou se prolongando por 11 meses, com concertos na
Capital, Campinas, Sorocaba e Tatuí. Tinha então 63 anos, e foi a primeira vez
que saiu do estado do Rio de Janeiro. Foi homenageado pela Cultura Artística de
São Paulo e tocou no Conservatório Dramático e Musical de Campinas.
Apresentou-se no Teatro Municipal de São Paulo, sendo precedido por uma
conferência do escritos e musicólogo Mário de Andrade, sobre sua obra, na qual
afirmou: "Por todos esses caracteres e excelências, a riqueza rítmica, a
falta de vocalidade, a celularidade, o pianístico muito feita de execução
difícil, a obra de Ernesto Nazaré se distancia da produção geral congênere. É
mais artística do que a gente imagina pelo destino que teve, e deveria estar no
repertório dos nossos recitalistas. Posso lhes garantir que não estou fazendo
nenhuma afirmativa sentimental não. É a convicção desassombrada de quem desde muito
observa a obra dele. Se alguma vez a prolixidade encomprida certos tangos,
muitas das composições deste mestre de dança brasileira são criações
magistrais, em que a força conceptica, a boniteza da invenção melódica, a
qualidade expressiva, estão dignificadas por uma perfeição de forma e
equilíbrio surpreendentes". Em 1927, Nazareth retornou ao Rio de Janeiro.
Foi um
dos primeiros artistas a tocar Rádio Sociedade (atual Rádio MEC
do Rio de Janeiro). Em 1930,
concluiu sua última composição, a valsa "Resignação". No mesmo ano,
gravou ao piano a polca "Apanhei-te, cavaquinho" e os tango
brasileiros "Escovado", "Turuna" e "Nenê" de sua
autoria. Em 1932,
apresentou um recital só com músicas de sua autoria em um concerto precedido
por uma conferência de Gastão Penalva. Neste mesmo ano
realizou uma turnê pelo sul do país.
Vivia
em uma casa no bairro de Ipanema desde 1917. Nos final dos anos 1920,
seu problema de audição é agravado, sendo resultante de uma queda que sofreu na
infância. Em 1932 é diagnosticado como portador de sífilis e em 1933 é
internado na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá.
No dia
1
de fevereiro de 1934,
Nazareth fugiu do manicômio. Seu corpo só foi encontrado três dias depois, em
estado de decomposição, próximo a uma cachoeira. Foi sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju,
mesma região da cidade onde nasceu.
Deixou
211 peças completas para piano. E suas obras mais conhecidas são: "Apanhei-te,
cavaquinho", "Ameno Resedá" (polcas), "Confidências",
"Coração que sente", "Expansiva", "Turbilhão de
beijos" (valsas), "Odeon", "Fon-fon",
"Escorregando", "Brejeiro" "Bambino" (tangos
brasileiros).
Nota:
No fim do século XIX e começo do XX, a palavra "choro" designava não
um gênero, mas certos conjuntos musicais (compostos de flauta, cavaquinho e
violôes) que animavam festas (forrobodós) tocando polcas, lundus, habaneras e
mazurcas e outros gêneros estrangeiros de uma maneira sincopada. O tango
Brasileiro foi criado pelos chorões como uma variante altamente sincopada da habanera,
gênero cubano que também era chamado tango-habanera, e que na sua variante
brasileira passou a ser chamado tango brasileiro. Na sua forma de música de
dança passou a ser designado de maxixe, dança proibida ou mal vista na época de Nazareth.
Dava-se o nome de "Tango Brasileiro" para se esconder a relação com o
maxixe dessas composições. Alguns relatos afirmam também uma diferença com
relação a harmonia, sendo a do Tango Brasileiro um pouco mais complexa do que
de seu "irmão", o Maxixe.
Importância musical
Ernesto Nazareth junto ao piano
Suas
composições, apesar de extremamente pianísticas, por muitas vezes retrataram o
ambiente musical das serestas e choros, expressando através do instrumento a
musicalidade típica do violão, da flauta, do cavaquinho, instrumental característico
do choro, fazendo-o revelador da alma brasileira, ou, mais especificamente,
carioca. A esse respeito, diz o musicólogo Mozart de Araújo: "As
características da música nacional foram de tal forma fixadas por ele e de tal
modo ele se identificou com o jeito brasileiro de sentir a música, que a sua
obra, perdendo embora a sua funcionalidade coreográfica imediata, se
revalorizou, transformando-se hoje no mais rico repositório de fórmulas e
constâncias rítmico-melódicas, jamais devidas, em qualquer tempo, a qualquer
compositor de sua categoria". Na produção musical do compositor,
destacam-se numericamente os tangos (em torno de 90 peças), as valsas (cerca de
40) e as polcas (cerca de 20), destinando-se o restante a gêneros variados como
mazurcas, schottisches, marchas carnavalescas etc. É sabido que o compositor
rejeitava a denominação de maxixe a seus tangos, distinguindo-se daquele
fundamentalmente pelo caráter pouco coreográfico e predominantemente
instrumental de sua obra. Deve-se ainda ressaltar em sua produção a influência
de compositores europeus, notadamente de Chopin, compositor cuja obra se
dedicou a estudar meticulosamente e cuja inspiração se reflete, sobretudo, na
elaboração melódica de suas valsas.
Ernesto
Nazareth ouviu os sons que vinham da rua, tocados por nossos músicos populares,
e os levou para o piano, dando-lhes roupagem requintada. Sua obra se situa,
assim, na fronteira do popular com o erudito, transitando à vontade pelas duas
áreas. Em nada destoa se interpretada por um concertista, como Arthur Moreira Lima, ou um chorão como Jacob
do Bandolim. O espírito do choro estará sempre presente, estilizado nas
teclas do primeiro ou voltando às origens nas cordas do segundo. E é esse
espírito, essa síntese da própria música de choro, que marca a série de seus
quase cem tangos-brasileiros, à qual pertence "Odeon".
Mário de Andrade assim definiu Nazareth:
"compositor brasileiro dotado de uma extraordinária originalidade, porque
transita com fôlego entre a música popular e erudita, fazendo-lhe a ponte, a
união, o enlace".
Em 2004, por ocasião dos
70 anos da morte do compositor, a STV em parceria com a produtora paulistana We
Do Comunicação apresentou o documentário "Ernesto Nazareth", com
direção de Dimas de Oliveira Junior e Felipe Harazim, refazendo a trajetória
artística do compositor desde seu primeiro sucesso, "Você bem sabe",
de 1877, quando tinha 14 anos. Estão presentes no documentário declarações das
pianistas Eudóxia de Barros e Maria Teresa Madeira, do compositor Osvaldo
Lacerda, e do biógrafo Luiz Antonio de Almeida, entre outros.
FONTE:
WIKIPÉDIA, A ENCICLOPÉDIA LIVRE
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