Glauco Araújo e Carolina
Lauriano Do G1, em São Paulo e do G1 Rio
O incêndio
que matou mais de 230 pessoas em uma casa noturna no Rio Grande do Sul no
domingo (27) levantou o alerta para todas as pessoas que se divertem em boates
e demais estabelecimentos do gênero no Brasil: será que o lugar é seguro?
O G1 ouviu especialistas em
segurança que contaram quais são as obrigações básicas de cada local e como um
leigo consegue saber se essas regras estão sendo seguidas.
Por exemplo: como saber se a casa está com o
alvará de funcionamento em dia, se está com os equipamentos de segurança
corretos, se há rotas de fuga?
Alvará de funcionamento -
documento emitido pela prefeitura, estado, bombeiros ou órgão específico de
atuação de cada estabelecimento que dá permissão para o empreendimento atuar.
Tem de ser afixado em local visível ao usuários.
Saídas de emergências mostram
a rota de fuga do
local (Foto: Corpo de Bombeiros de São Paulo)
local (Foto: Corpo de Bombeiros de São Paulo)
Saídas de emergência - são
obrigatórias, porém a quantidade e a posição onde devem ser colocadas são
determinadas por uma avaliação técnica feita por um engenheiro ou arquiteto.
Deve ser localizada imediatamente acima da porta centralizada a uma altura de
1,8 metro de altura medida do piso à base da sinalização.
Deve ser localizada de modo que a distância de
percurso de qualquer ponto da rota de saída até a sinalização seja de, no
máximo, 15 metros. A sinalização complementar de rotas de saída é facultativa e
deve ser aplicada sobre o piso.
Sinalização mostra como
acionar a porta corta-fogo
(Foto: Corpo de Bombeiros de São Paulo)
(Foto: Corpo de Bombeiros de São Paulo)
Porta corta-fogo - protege a
saída de emergência, que não pode ter materiais inflamáveis. Para segurança,
ela deve possuir uma barra “antipânico” como sistema de abertura. Só com a
pressão das mãos sobre a barra a pessoa destrava e abre a porta. Deve ser usada
em áreas que comunicam diretamente com as rotas de fuga.
É considerado um produto seguro, entretanto sua
eficácia pode ser comprometida caso haja uso inadequado e se não passar por um
teste de qualidade.
Sinalização indica onde está
o equipamento (Foto:
Corpo de Bombeiros de São Paulo)
Corpo de Bombeiros de São Paulo)
Extintores - são obrigatórios e
devem ser checados uma vez por ano. Quem calcula a quantidade do dispositivo e
onde ele deve ser instalado também é o especialista técnico. Segundo as normas
do Inmetro, existem três tipos de fogo: o fogo gerado por combustíveis
líquidos, por líquidos inflamáveis e por equipamentos elétricos. Cada extintor
traz as suas especificações.
Dispositivo de extração de fumaça
- são dutos no teto que ajudam na circulação de ar e na evacuação da fumaça,
caso comece um incêndio. No entanto, o dispositivo não ´e obrigatório em todos
os estados.
Placa mostra onde o alarme
pode ser disparado (Foto:
Corpo de Bombeiros de São Paulo)
Corpo de Bombeiros de São Paulo)
Alarme de incêndio com detector de fumaça
- o detector de fumaça aciona automaticamente um alarme sonoro sobre a
existência de um incêndio. Ele pode ser equipado ainda com um dispositivo de
localização, que envia um sinal de emergência ao Corpo de Bombeiros.
No entanto, não é obrigatório em todos os
estados; apenas o alarme de emergência manual, acionado por um botão.
Chuveiro automático para
extinção de incêndio (Foto:
Corpo de Bombeiros de São Paulo)
Corpo de Bombeiros de São Paulo)
Sprinkler (chuveiro
automático para extinção de incêndio) - é uma rede instalada no
telhado do prédio com diversos dispositivos com água, que devem ser acionados
automaticamente, por meio da variação de temperatura.
Eles cobrem uma área de 10 m² a 14 m² e conseguem
conter a fumaça e o calor logo no início, o que evita possíveis mortes por
asfixia. No entanto, a obrigatoriedade vai depender da avaliação de cada
situação.
Normas e recomendações
"O local é seguro se a casa noturna tiver alvará de funcionamento (que precisa estar exposto na entrada do local), saída de emergência, extintores, iluminação de emergência e sinalização de saída de emergência", diz o engenheiro civil e coordenador do CB-24 RS (Comitê Brasileiro de Segurança Contra Incêndio) da ABNT núcleo RS, Carlos Wengrover Rosa.
De acordo com ele, há outros itens de segurança
que podem auxiliar na garantia de segurança para os frequentadores de casas
noturnas e outros estabelecimentos comerciais. "Sistema de extração de
fumaça e alarme de incêndio com detecção de fumaça já são obrigatórios em São
Paulo e no Rio de Janeiro e poderiam ter colaborado com a segurança da boate
[Kiss] no caso deste incêndio", afirma o coordenador da ABNT.
Segundo Gerardo Portela, doutor em Gerenciamento
de Riscos da Coppe-UFRJ, para garantir a segurança das pessoas em
estabelecimentos comerciais é necessário ir além das regras. "Se existem
regras, elas precisam ser respeitadas, mas não só isso. É muito importante que,
quando se falar em segurança, os responsáveis sigam muito além das regras, da
legislação vigente. É preciso pensar preventivamente."
Wengrover Rosa diz que "apesar de todos
esses cuidados adotados pelo frequentador da casa noturna, é muito difícil um
leigo saber se o local é completamente seguro. Só mesmo uma pessoa técnica terá
como afirmar isso. É por esse motivo que os alvarás de funcionamento, de
combate a incêndio são importantes".
Para Portela, as pessoas precisam tentar manter a
tranquilidade durante o incêndio e evitar pânico. Ele lista algumas ações que
podem ser adotadas por quem está em um cenário de incêndio e sair ileso.
Entender
o que está acontecendo
O que mais contribui para o sucesso de uma pessoa de um acidente ou incêndio é tentar entender, o mais rápido possível, o que está acontecendo e identificar uma estratégia para escapar. O tempo é um fator decisivo em caso de incêndio. É necessário analisar previamente as opções de escape e abandono, identificar antecipadamente as saídas, pensar sobre possíveis estratégias, manter constante atenção sobre o que está acontecendo e se permitir imaginar o que poderia ser feito numa situação de emergência.
Perceber que está em situação de
emergência
Estar atento aos alarmes e sinais suspeitos como fumaça, sirenes, ruídos, sons e calor pode fazer diferença decisiva. Os mais atentos têm mais chances de reagir em um tempo menor. Segundos a mais no tempo de reação podem fazer diferença em caso de incêndio.
Identificar a direção e a origem do fogo
Antes de iniciar a fuga do local, tente identificar de que lado está o incêndio. Pode ser que esteja progredindo no mesmo piso, pode também estar vindo de cima ou de baixo. Fumaça e calor tendem a subir e observar isso pode ajudar a identificar a direção de onde vem o incêndio para que seja evitada.
Se
tiver dúvida, não fique no local
Caso haja indício ou suspeita de um incêndio, não hesite, siga a sinalização e saia do local. Depois verifique se realmente trata-se ou não de uma emergência. O máximo que vai acontecer é ter que retornar ao seu local de origem.
Se preparar para sair rápido
Na hora em que se percebe o incêndio, o efeito surpresa causa um impacto emocional sobre as pessoas. A ideia é sair, mas o ambiente emocional pode tornar difícil a simples localização da chave da porta ou encontrar as portas de saída ou de emergência. O mais importante é priorizar a vida sempre, ao invés de documentos, objetos e valores.
Fumaça
Simulações em computador indicam que acidentes com fumaça causam mais vítimas do que o fogo direto. Muitas vítimas, antes de sofrerem queimaduras perdem os sentidos por causa da inalação de fumaça. Uma toalha ou camiseta molhada sobre a cabeça pode oferecer um tempo extra de resistência em um ambiente com fumaça. Em geral a fumaça tende a subir, ou seja, próximo ao piso é mais provável de se respirar melhor.
Fumaça negra e muito densa também provoca perda
de visibilidade. Não raramente ambientes podem estar parcialmente tomados por
fumaça negra apenas na parte superior. Como as pessoas estão com a cabeça
dentro da fumaça negra, não enxergam, ficam desorientadas e acabam respirando
essa fumaça, que em geral é letal e de rápido efeito. Abaixe-se para respirar
por mais tempo.
Não deixe pessoas para trás
Um erro comum é sair para ver o que está acontecendo e deixar pessoas para trás sem comunicação. Isso pode gerar pânico e desespero, fazendo com que a pessoa tente retornar em meio a um incêndio impossível de ser enfrentado. O melhor a fazer é sair em grupo, todos juntos.
Elevadores
Os elevadores modernos possuem uma programação automática para incêndio, que ao ser acionada faz com que a cabine desça para o térreo e abra a porta. Isso significa que se a pessoa estiver no elevador e a programação for iniciada, basta aguardar que o elevador chegue ao térreo e abra as portas. Em incêndios que interrompem a energia elétrica subitamente, opte pela saída de emergência no teto do elevador.
Energia elétrica é cortada
Uma das primeiras ações a serem tomadas no combate a um incêndio é cortar a energia elétrica para reduzir a propagação do mesmo. Muitas vezes o incêndio se inicia por um curto circuito que desliga o fornecimento de energia automaticamente mesmo antes de um agente externo executar essa tarefa. Portanto, opte sempre pelas escadas, mantenha em local de fácil acesso lanternas disponíveis e carregadas.
Crianças ou pessoas com limitação de
locomoção
Crianças pequenas devem ser levadas no colo e com o rosto próximo ao do adulto. Assim as condições de respiração para ambos serão as mesmas. Frequentemente pessoas que estão socorrendo outras instintivamente buscam o ar de melhor qualidade mas não atentam que há alguns centímetros de distância o ar pode estar irrespirável para quem está sendo socorrido.
Portas
Antes de abrir uma porta observe a temperatura na superfície e se há passagem de fumaça. Em alguns casos, se do outro lado o fogo estiver intenso, uma vez aberta a porta esta não conseguirá mais ser fechada.
Não siga grupos por seguir
Não siga um grupo apenas por seguir, principalmente se não existia treinamento prévio e uma estratégia definida para fugir do incêndio. Grupos muito grandes sem treinamento enfrentam dificuldades de comunicação, o primeiro não consegue falar com o último e se o primeiro perceber que é preciso voltar os últimos poderão estar forçando o grupo para frente e gerar confusão.
Não tentar combater o incêndio
Ao perceber que o fogo está fora do controle, priorize sair e deixe a tarefa de combate para os bombeiros profissionais e brigadistas. Utilize o sistema de combate a incêndio, extintores ou mangueiras para abrir caminho para sair.
Evite o confinamento
Não fique em locais confinados se há opção de saída. A hora de tomar a decisão de sair é enquanto as saídas estão disponíveis. Evite ficar confinado mesmo que isso pareça seguro. Só considere a possibilidade de um abrigo confinado em último caso. Janelas são uma opção em situações extremas. Em alguns casos é possível passar entre janelas e varandas.
FONTE: G1 – O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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