Após uma semana de negociações com o PSDB, a candidata derrotada à Presidência pelo PSB, Marina Silva, anunciou neste domingo (12) que apoiará o candidato tucano Aécio Neves no segundo turno. A decisão foi divulgada, em São Paulo, um dia depois de o presidenciável do PSDB assumir, por meio de uma carta aberta, uma série de compromissos para a área social, entre os quais parte das condições impostas pela ex-senadora para apoiá-lo na reta final da corrida pelo Palácio do Planalto.
"Tendo em vista os compromissos assumidos por Aécio Neves, declaro meu voto e o meu apoio a sua candidatura. Votarei em Aécio e o apoiarei. Votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade de propósitos do candidato e de seu partido e, principalmente, entregando à sociedade brasileira a tarefa de exigir que sejam cumpridos", disse Marina, ao final de um pronunciamento de cerca de meia hora, ao lado de seu candidato a vice na eleição presidencial, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS).
"Não estou com isso fazendo nenhum acordo ou aliança para governar. O que me move é a minha consciência, e assumo a responsabilidade pelas minhas escolhas", complementou.
Entre as promessas assumidas pelo tucano no sábado, em resposta às condições apresentadas pela ex-senadora, está, caso seja eleito, adotar uma política ambiental sustentável, priorizar o ensino integral no país e a criar um fundo para tentar solucionar os conflitos entre índios e produtores rurais, além do compromisso de que irá trabalhar para que o Congresso Nacional aprove o fim da reeleição para cargos executivos.
Eleições 2014
A ex-ministra do Meio Ambiente ressaltou, entre outros pontos, o compromisso do tucano de combater a discriminação; a aprovação de uma lei que transforme o Bolsa Família em programa de Estado; a promessa de buscar o desmatamento zero; a proteção dos direitos indígenas; compromisso com a educação, a saúde e a reforma agrária; e a reforma política.
Sobre esse último item, Marina enfatizou a importância de pôr fim à possibilidade de reeleição para cargos executivos. Segundo ela, essa prerrogativa se tornou fonte de corrupção e do mau uso das instituições de Estado.
Marina comparou os compromissos assumidos por Aécio Neves para a área social à Carta ao Povo Brasileiro assinada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha presidencial de 2002. À época, diante dos temores do mercado de que ele pudesse promover mudanças drásticas na política econômica se assumisse o Palácio do Planalto, o petista se comprometeu, por escrito, a manter a espinha dorsal do Plano Real, dando continuidade à ortodoxia na condução da economia brasileira.
“Aécio retoma o fio da meada virtuoso e corretamente manifesta-se na forma de um compromisso forte, a exemplo de Lula”, observou Marina. “Doze anos depois, temos um passo adiante, uma segunda carta aos brasileiros, intitulada: ‘Juntos pela democracia, a inclusão social e o desenvolvimento sustentável’”, comentou.
Os termos de Marina
Marina Silva substituiu Eduardo Campos - que morreu em um acidente aéreo, em agosto, durante a campanha eleitoral -, na corrida presidencial. Ela se filiou ao PSB, em outubro de 2013, em razão de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter negado registro partidário à Rede Sustentabilidade, o grupo político da ex-senadora.
Em meio à disputa pela Presidência, Marina chegou a ser apontada pelas pesquisas eleitorais em empate técnico com a candidata do PT à reeleição, Dilma Rousseff, deixando Aécio na terceira posição nas simulações.
No entanto, na votação do último domingo (5), Marina Silva obteve 22.176.619 votos (21,32%) e ficou em terceiro lugar, mesma colocação da eleição de 2010. A petista recebeu 43.267.668 votos (41,59%) e o tucano, 34.897.211 (33,55%).
Na quarta-feira (8), três dias depois do primeiro turno, a executiva nacional do PSB anunciou, em Brasília, apoio ao presidenciável tucano. Marina, entretanto, não participou da reunião e decidiu condicionar seu apoio à inclusão no programa de governo do PSDB de uma lista de pontos que ela considerava "fundamentais" que fossem adotados pelo candidato tucano para que ela abrisse o voto na candidatura dele.
Marina anunciou apoio a Aécio Neves ao lado de seu candidato a vice na disputa presidencial, Beto Albuquerque (Foto: Reprodução / GloboNews)
Marina também pediu que Aécio incluísse em seu programa de governo os compromissos de implantar escolas em tempo integral, oferecer passe livre a estudantes de escolas públicas e revisar a regra do fator previdenciário.
O texto divulgado pelo tucano no sábado, que ele disse que foi inspirado nas propostas divulgadas pela Rede – o grupo político da candidata derrotada do PSB –, contemplou parte das exigências de Marina. Não foram incluídas no programa tucano, por exemplo, as propostas envolvendo a gratuidade do transporte público e a reforma na regra previdenciária que inibe as aposentadorias precoces.
Segundo o Blog do Camarotti, antes de fazer o pronunciamento deste sábado, o candidato do PSDB encaminhou os pontos de seus compromissos a integrantes da Rede, que aprovaram os termos programáticos do tucano para a área social.
Candidato do PSDB posou para fotos ao lado de sua filha, Gabriela, e dos familiares de Campos.
(Foto: Luna Markman)
(Foto: Luna Markman)
No sábado, após divulgar a carta compromisso, Aécio Neves se reuniu com Renata Campos, viúva do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, que morreu em um acidente aéreo em agosto. No encontro, que tem peso simbólico para o presidenciável do PSDB, ele almoçou com a família de Campos e líderes do PSB e do PSDB de Pernambuco.
Renata não falou com a imprensa, mas divulgou uma carta na qual listou os motivos que a levaram a declarar apoio ao candidato do PSDB no segundo turno. O texto destaca a consternação de sua família com a morte trágica de Eduardo Campos e afirma que o governo federal se tornou "incapaz" de promover as mudanças idealizadas por seu marido.
A viúva também ressaltou na carta pontos em comum na trajetória política entre Aécio e Campos e disse que acredita na capacidade de "diálogo e gestão" do tucano.
A carta de compromissos para a área social do PSDB contempla parte das reivindicações da ex-senadora |
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CONDIÇÕES DE MARINA |
O QUE DISSE AÉCIO |
Aceleração da reforma agrária |
"A reforma agrária precisa ser retomada com seriedade e prioridade" |
Demarcações de terras indígenas |
"Criaremos também o Fundo de Regularização Fundiária, que
permitirá resolver as pendências em áreas indígenas nas quais
proprietários rurais possuem títulos legítimos de posse da terra,
reconhecidos pelo poder público" |
Definição de unidades de conservação |
"Estabeleceremos uma política efetiva de Unidades de Conservação,
não apenas para garantir a implantação e o correto uso das já
existentes, como para retomar o processo de ampliação do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação, paralisado no atual governo" |
Adoção de uma política “progressista” em relação ao clima |
"Enfatizo que darei a devida e urgente importância ao trato da
questão das Mudanças Climáticas, iniciando um decisivo preparo do país
para enfrentar e minimizar suas consequências. Assumo o compromisso de
levar o Brasil à transição para uma economia de baixo carbono, magna
tarefa a que já se dedicam as nações mais desenvolvidas do planeta,
retomando uma postura proativa de liderança global nesta área, perdida
no atual governo" |
Prioridade para adoção de escolas em tempo integral |
"Propomos agora ampliar a cobertura das creches, universalizar o
acesso à pré-escola e a adoção da educação em tempo integral para os
alunos no ensino fundamental" |
Passe livre para estudantes de escolas públicas |
Aécio não mencionou a proposta de passe livre em sua carta. |
Revisão do fator previdenciário |
Aécio não abordou no documento a sugestão de revisar o fator previdenciário. |
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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