terça-feira, 7 de maio de 2013

'Não me considero heroína', diz mãe de quíntuplos adolescentes no Recife

Advogada Cristina Belfort reduziu carga de trabalho para cuidar dos filhos.
Irmãos de 13 anos praticam esportes, gostam de viajar e ajudam em casa.

Roberta Rêgo Do G1 PE
Andrea, Filipe, Cristina, Marcos, Lucas e Débora Belfort (Foto: Roberta Rêgo/G1)Da esquerda para a direita: Andrea, Filipe, Cristina, Marcos, Lucas e Débora Belfort (Foto: Roberta Rêgo/G1)
 
Durante três anos e meio, a advogada Cristina Belfort, 43 anos, largou a profissão para se dedicar aos filhos quíntuplos, hoje com 13 anos, moradores do Recife. Para cuidar de cinco bebês ao mesmo tempo, chegou a ter sete pessoas ajudando em casa. Hoje, ela administra a rotina de Andrea, Débora, Filipe, Lucas e Marcos com a ajuda do marido, o médico oftalmologista Rômulo Belfort, 55, e de uma empregada doméstica. “Minha vida nunca está organizada”, brinca ela. Na escola particular onde estudam, só se ouvem elogios aos quíntuplos: educados, dedicados aos esportes, bons amigos, ótimos alunos - raramente um deles fica de recuperação.

Atualmente, a saudável e simpática trupe de Cristina deixou bem para trás o sufoco dos primeiros meses de vida. As crianças nasceram prematuras, com apenas seis meses de gestação – a menorzinha, Andrea, pesava 1,200 Kg. Débora foi a última a receber alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), depois de vários meses no hospital. Cristina decidiu alimentá-las apenas com leite materno. Montou uma rede de doadoras que garantiu o aleitamento exclusivo dos cinco bebês até os três meses de vida. Uma pessoa da família chegou a mandar leite materno de Fortaleza (CE), de avião. Só depois é que o leite em pó entrou em campo. “Ser mãe é puro amor. A gente não pode esperar nada, faz porque o coração manda”, diz ela.

Cristina não tem parentes no Recife, a família mora na capital cearense. Os pais dela chegaram a vir para ajudar na operação de cuidar dos bebês. “Não me considero heroína, nada disso. Ainda mais quando vejo mães e crianças com deficiência e problemas mais sérios. Eles é que são heróis. Meus filhos estão crescendo bem, com saúde, claro que temos probleminhas, mas nada grave”, conta ela.

Na casa da família nunca houve motorista. É Cristina quem leva e pega os filhos na escola e nas atividades extras. Cada filho pratica um esporte – Débora faz balé clássico, Andrea e Lucas jogam basquete, Filipe e Marcos, judô. Aliás, Filipe é vice-campeão brasileiro na modalidade. E os três meninos também praticam futsal. Todos estudam à tarde, na mesma turma de uma escola particular do Recife e, nas segundas pela manhã, os cinco chegam na escola às 10h para ter aulas de química, preparatórias para as olimpíadas da disciplina. Fazem porque gostam, importante frisar. Nas terças, têm aula em horário integral. Aos sábados, fazem inglês pela manhã e à tarde vão à igreja – são evangélicos presbiterianos – onde participam do discipulado, estudos preparatórios para fazer a profissão de fé, o equivalente à crisma católica. Aos domingos, participam da escola dominical na igreja. A religião é usada também como cerne da educação, entrando em pauta nos diálogos e exemplos que a mãe dá aos filhos. “Quando aparece um ‘egoismozinho’, sabe?”, ela diz.

Família recifense com adolescentes quíntuplos (Foto: Roberta Rêgo / G1)Além da rotina de esportes e estudos, família é evangélica praticante (Foto: Roberta Rêgo / G1)
 
Espaço
Há quatro anos Cristina mudou-se com a família para o apartamento de quatro quartos onde vivem atualmente, em um bairro de classe média do Recife. Antes, moravam do outro lado da rua, em um imóvel um pouco menor, com menos equipamentos de lazer. Agora têm mais espaço e conforto: uma suíte para o casal, uma para os três filhos, outra para as duas filhas, além de um quarto de hóspedes.

Cristina e Rômulo são casados há 28 anos e os filhos só vieram após 14 anos de união. “Comecei a trabalhar aos 20 anos e Rômulo também começou cedo”, conta ela. Como não tinham o hábito de viajar ou frequentar restaurantes e festas, eles puderam se preparar financeiramente para o primeiro filho, formando um certo patrimônio – moram em casa própria, por exemplo. A questão é que o primeiro filho veio multiplicado por cinco. “Depois que eles nasceram, não acrescentamos nada aos nossos bens, mas já tínhamos onde morar”, ela relata. “Todas as minhas economias eu gastei nos primeiros anos de vida deles. Zerei”, calcula.

A rotina profissional de Rômulo é bastante puxada – ele sai de casa às 7h e só volta depois das 22h para dar conta dos vários empregos, em clínicas e hospitais. “Eu não dou 100% de dedicação ao trabalho para conseguir dar conta da rotina dos meninos”, explica Cristina. Ela divide um escritório de advocacia com uma colega e sai de casa apenas para reuniões com clientes e audiências no Tribunal Regional Federal (TRF), que acontecem às terças e quintas. No resto do tempo, procura trabalhar em casa mesmo. A leveza marca os gestos dessa mãe. A fala com os filhos é tranquila, bem humorada e paciente – mesmo quando almofadas voam pela sala durante as brincadeiras. O lustre sobre a mesa precisou ser restaurado depois que eles cresceram, tantas foram as boladas que recebeu. Sem queixas.

As atividades domésticas começam a ser compartilhadas. No almoço de domingo, Cristina escala os cinco para colaborar - uma põe a mesa, dois lavam os pratos, e assim por diante. Alguns conflitos aparecem, como em qualquer casa saudável. Eles ainda não têm planos para o Dia das Mães, mas não esquecem o dia em que foram ao shopping com ela tentar comprar um presente, alguns anos atrás. "Foi uma loucura, cada um queria ir para um lado. Eles têm interesses muito diferentes", ela conta.

Compras na casa dos quíntuplos (Foto: Roberta Rêgo/G1)Água para 2 dias e leite para 1 mês na casa dos quíntuplos: compras só no atacado (Foto: Roberta Rêgo/G1)
 
Economia
“A gente mora bem, mas o preço que a gente paga é um bocado de renúncia”, ela explica. Se for para pedir pizza, são seis. Por isso, as refeições da família são feitas regularmente em casa. “Somos assíduos frequentadores de atacados”, ela diz, sempre risonha.  Leite, são duas caixas de doze litros por mês. Seis garrafões de 20 litros de água mineral são suficientes para dois ou três dias, no máximo. 

No entanto, devido à rotina de estudos e esportes, os filhos precisam almoçar fora algumas vezes na semana. Para isso, recebem o dinheiro do lanche do dia. E são responsáveis. É comum Cristina deixar o cartão de crédito com eles, estabelecer quanto pode ser usado no dia e eles cumprirem. A família só costuma lanchar ou jantar fora junta uma vez por mês, no máximo. “Tudo sai muito caro pra gente”, ela pondera.

As compras são sempre feitas no cartão, para juntar milhas. Esse é o jeito que a família arranjou para viajar. O sonho – ainda não muito palpável – é irem todos para a Disney no aniversário de 15 anos, em junho de 2014. “Custa o equivalente a comprar um carro”, calcula a advogada. Normalmente os passeios acontecem a reboque dos congressos de que o pai participa ou das competições de judô de Filipe. Até agora, eles conseguiram ir para Florianópolis (SC) e Gramado (RS), além de passar todas as férias em Fortaleza, onde vive a família de Cristina. Cada passeio é precedido por uma negociação com hotéis para acomodar o grupo nos quartos, conseguindo as melhores tarifas. E, sempre, com muita alegria de todos.

A casa parece uma festa. Não bastasse a animação constante de conviver com cinco adolescentes, os amigos de Andrea, Débora, Filipe, Lucas e Marcos estão sempre por lá. Cristina e Rômulo preferem assim do que deixar os filhos irem à casa dos amigos, seja para fazer trabalhos escolares ou para se divertir. Além disso, aos sábados, a advogada organiza programações na área de lazer do prédio e convida outros adolescentes da idade dos filhos para participar, seguidas de um lanche. “Eles não são muito de festas, ainda gostam muito de brincar, correr, jogar bola. Aqui tem espaço para isso. Eles curtem e sai mais barato pra gente”, encerra.



FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO

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