São Paulo, 461, não tem muitos motivos para comemorar. A maior cidade do Brasil – e da América Latina – vive uma crise drástica de todos os lados. Com toda a riqueza – e arrecadação – que tem, a cidade se vê n surreal situação de ficar sem água nenhuma e com o fornecimento de energia em situação caótica. A irresponsabilidade do Estado criou uma situação impossível de ser contornada em menos de 15 anos – isso, se o governo botar a mão na massa ainda hoje.
Em medida muito comemorada por parte da sociedade especializada em arquitetura e urbanismo, o prefeito Fernando Haddad (PT) anunciou na metade de 2014 o esperado Plano Diretor. Com previsão de que suas medidas surtam efeito em 15 anos, o projeto traz questões importantes para uma cidade que, aos 461 anos, é infantil em seu planejamento e, cada vez mais, parece não conseguir comportar seus mais de 11 milhões de habitantes.
“Historicamente, sabemos que existem anos de seca e de abundância. Anos atrás a cidade e o estado viveram a abundância, mas agora é o período de seca. O problema é que a falta de planejamento fez com que não soubéssemos utilizar a água bem”, afirma Nabil Bonduki (PT-SP), vereador, atual Secretário da Cultura e um dos criadores do novo Plano Diretor.
Crise hídrica preocupa, mas pode ser contornada
A crise hídrica mais aguda da história da cidade colocou os moradores em pé de guerra com o governo, mas nenhum dos dois lados está isento de culpa. Mesmo com campanhas da Sabesp, o uso da água segue sendo quase irresponsável por parte considerável parte dos usuários. Do outro lado, Estado e município batem cabeça quanto às políticas de restrição de uso da água.
O secretário argumenta que apesar do caos, há esperança e que a cidade não está fadada a sofrer um êxodo por conta da qualidade de vida em queda livre.
“Não acredito que as pessoas deixarão São Paulo por conta da crise hídrica, mas é preciso que haja uma utilização dos recursos com mais responsabilidade”, explica Nabil.
Especialistas apontavam a possibilidade de uma crise hídrica grave há anos e serão necessários vários anos até que eles voltem à situação normal – isso se os governos abordarem a questão ambiental com medidas rigorosas, para impedir que continue o desmatamento em função de uma expansão imobiliária descontrolada. Usinas de reuso de água, diminuição da taxa de perda do sistema (quantidade de água que vaza dos canos da Sabesp antes de chegar às caixas d’água), hoje em cerca de 37%, e uma maior consciência do uso dos recursos são fundamentais. Sem um desses itens, o inferno continuará.
Pane no sistema
Já em crise com a falta d’água, São Paulo ainda enfrentou na semana de seu aniversário uma pane na rede elétrica que deixou parte da capital sem luz. Entre outras, pessoas tiveram que andar a pé nos trilhos da Linha-4 Amarela por conta da falta de energia. O princípio de blecaute, porém, foi apenas uma parte de uma sequência de problemas que a cidade enfrentou neste aspecto.
Desde as chuvas que atingiram a cidade no final de 2014, milhares de pessoas passaram dias sem luz por conta de árvores caídas -- foram mais de 900 em apenas dois dias. A Eletropaulo, responsável pela distribuição de energia em São Paulo, alegou excesso de demanda para justificar os atrasos nos reparos necessários.
Se na questão hídrica o braço-de-ferro é entre as esferas estadual e municipal, com a energia elétrica o governo federal também entra na história. Por determinação do Operador Nacional de Sistema (ONS) a luz foi cortada e mais de 22.6 milhões de pessoas em todo o país foram afetadas. Um dos principais consumidores de energia do Brasil, São Paulo foi um dos estados mais afetados, com foco na Grande São Paulo.
Enquanto isso, a batata quente da energia é jogada de mão em mão sem uma solução apresentada. Governo estadual e Eletropaulo trocam culpas quando o assunto é passar toda a fiação por baixo da terra. Responsável pelos cuidados com as árvores, a prefeitura também não toma posição em relação ao problema, que aos poucos vai se transformando em outra crise a ser enfrentada por São Paulo.
Cidade mais humana e menos hostil
O Plano Diretor tem que consertar as irresponsabilidades anteriores além de projetar o futuro, por exemplo, fazendo com que a concentração populacional seja mais homogênea. Por exemplo: hoje, boa parte da zona leste é mal aproveitada por falta de investimentos, mas a partir de agora, com isenções fiscais, deve tornar-se mais interessante para investidores.
Com a população mais distribuída, sistemas de fornecimento de água e energia fiquem menos sobrecarregado. Mais do que somente distribuir a população de maneira mais sensata, a cidade também precisa abordar das questões instalações irregulares e favelas mais diretamente. O Plano prevê a criação de zonas especiais de interesse social (ZEIS), para formação de bairros populares, cuja formação será, em parte, bancada por impostos coletados na construção de empreendimentos de maior porte.
Se cumprir o Plano Diretor à risca e alcançar as metas propostas, São Paulo será mais habitável em 2029, quando completará 475 anos. E para o paulistano, ser mais habitável tem ligação direta com soluções para o trânsito e transporte coletivo, provavelmente o nó mais difícil, uma vez que se misturam gestões do Estado e da prefeitura.
Prestes a completar 41 anos, tem 69 estações, pouco mais de uma por ano desde sua inauguração. Em uma cidade enorme, são apenas 70 quilômetros de extensão. Para efeito de comparação, Londres, na Inglaterra, considerado por muitos o melhor metrô do mundo, tem nada menos do que 408 quilômetros de extensão que abastecem 275 estações.
“Veja que hoje a população de São Paulo se estabilizou, chegou a um limite e cresce muito pouco. Apesar dos defeitos evidentes, a malha de transportes coletivos cresce em números maiores e a tendência é que alternativas como as bicicletas propiciem uma aceleração na solução do problema”, conclui Nabil Bonduki.
FONTE: YAHOO BRASIL NOTÍCIAS
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