Em um país de cultura predominantemente machista e de raízes patriarcais, a mulher parece ganhar, embora a passos curtos, mais espaço na política nacional.
O dia 08 de Março, dia internacional da mulher, convida-nos a uma
reflexão sobre as mulheres e o mundo da política. Pensar no papel social
desempenhado pelas mulheres na sociedade brasileira (mais especificamente sob a
ótica da política) é sempre um exercício interessante, principalmente quando
levamos em consideração uma sociedade como a nossa, construída sob a égide do
machismo, do patriarcalismo, na qual o homem sempre ocupou o espaço público e a
mulher, o privado.
Mas e na política,
ainda temos um espaço fechado entre os homens? Não, isso vem mudando, e a participação
política das mulheres é prova disso, seja como eleitoras (desde a
década de 1930), seja como candidatas a cargos públicos, mas tal mudança ocorre
a passos lentos. Porém, mesmo que ainda tímida, a presença cada vez maior de
candidatas é algo fundamental para o fortalecimento da democracia, afinal, a
representatividade feminina é extremamente necessária quando pensamos nas lutas
pelos direitos das mulheres em um contexto no qual, como se sabe, ainda há
muito preconceito, exclusão e violência contra elas. Ao apontarmos que dentre
os eleitores no Brasil as mulheres são maioria (pouco mais de 51,7% do total,
segundo o governo federal), certamente este é um aspecto explorado pelos
candidatos (ou candidatas) na tentativa de arregimentar esse voto feminino.
Mais do que isso, é um indício de que há a necessidade de atenção para essa
parcela considerável da população, ainda mais em se tratando de uma sociedade
que busca se fortalecer enquanto democracia. Esta, por usa vez, já há algum
tempo vem se consolidando, e uma participação maior das mulheres vai ao
encontro disso.
Na década de 70 do
século passado, as mulheres representavam 35% do eleitorado, ultrapassando a
marca dos 50% no ano de 2006, quebrando a hegemonia do eleitorado masculino. Em
relação à disputa eleitoral, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
o número de candidaturas femininas alcançou 31,7% do total de registros nas
últimas eleições de 2012, o que significa certo avanço.
Mas uma pergunta
vem à tona: esse aumento na participação do voto pelas mulheres é a confirmação
de que elas estão conquistando seu espaço? Podemos dizer que sim, embora os
desafios encontrados pelas mulheres tanto na política quanto na sociedade de
modo geral (e um bom exemplo são as dificuldades no mercado de trabalho) ainda
são consideráveis. No entanto, mesmo que possamos dizer que as mulheres estão
conquistando seu espaço, é preciso considerar que, por conta das chamadas
cotas, fruto de políticas afirmativas para ampliar a participação feminina, os
partidos são obrigados a reservarem uma participação de, no mínimo, 30% para
cada sexo.
Dessa forma, a
ampliação da participação das mulheres, em termos dos registros de
candidaturas, não está ligada apenas a uma maior sensibilização quanto à
importância da política entre elas ou à revolução da mulher (do feminismo)
desencadeada na década de 1960 ou, ainda, à ampliação da politização da
sociedade civil de modo geral, tal crescimento pode ser associado à
obrigatoriedade do cumprimento de uma lei eleitoral. Obviamente, a própria
instituição dessa lei foi resultado de uma luta pela maior participação
feminina, o que pode ser considerado um avanço. Contudo, vale ressaltar que
leis e as normas por si só possuem um poder relativo (embora sejam importantes
instrumentos) na luta contra o preconceito, seja ele de qualquer natureza.
Nesse sentido, o
maior número de candidaturas pode ser associado a uma maior emancipação
feminina, o que não deixa de ser fato quando avaliamos as mudanças e
transformações pelas quais o papel da mulher brasileira passou, mas não se
resume a isso. Mesmo assim, segundo o site da Câmara dos Deputados federais, um
estudo da União Interparlamentar, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU),
colocou o Brasil em 120º lugar em um ranking da proporção de mulheres nos
parlamentos, o que significa estar atrás de países islâmicos como Paquistão,
Sudão e Emirados Árabes Unidos.
O papel social da
mulher e sua posição na sociedade brasileira ainda são permeados de
contradições. Em termos quantitativos, basta analisarmos alguns dados
apresentados pelo governo, observando-se que a participação das mulheres na
Câmara dos Deputados é de 9% e, no Senado, de 10% do total. Além disso, o
número de governadoras de estado também ainda é muito pequeno.
Obviamente, a
eleição da primeira presidenta do Brasil contribuiu de alguma maneira para
mudar esse quadro de atrofia da participação feminina e talvez motivar outras
candidaturas de mulheres. O significado desse evento do ponto de vista de uma
afirmação da figura de Dilma em um cenário absolutamente masculinizado ao longo
da história (já que o poder sempre esteve associado à figura do homem) ficou
estampado em sua preferência em ser tratada por presidenta e não presidente,
embora as normas da língua culta admitam as duas formas. Falar em diferenças
comportamentais entre homens e mulheres no exercício de alguns cargos e funções
trata-se de algo bastante relativo, pois aspectos como questões morais não
necessariamente manifestam-se de forma diferente a depender do sexo. Assim, bom
governante é aquele que tem compromisso com a democracia e com a coletividade,
seja homem ou mulher.
Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
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