Nas suas últimas horas como papa em atividade, Bento XVI vestiu a mantilha vermelha. Nas malas que preparou, ela já não terá mais serventia. Nem os sapatos vermelhos.
Os quase oito anos de papado de Bento XVI
chegaram ao fim nesta quinta-feira (28). Em uma despedida emocionada, ele
prometeu obediência incondicional ao sucessor. Nossos correspondentes
acompanharam esse dia histórico no Vaticano.
Nas suas últimas horas como papa em atividade,
Bento XVI vestiu a mantilha vermelha. Nas malas que preparou, ela já não terá
mais serventia. Nem os sapatos vermelhos.
Eram 11h no relógio da Basílica de São Pedro, 7h
em Brasília. A sala Clementina, que há quase oito anos exibiu o corpo de João
Paulo II, viu nesta quinta-feira (28) um pontífice se despedir em vida.
Diante de 144 cardeais, entre eleitores ou não,
Bento XVI recebeu a homenagem de Angelo Sodano, o mais antigo deles. O Papa
respondeu com um abraço espontâneo.
Sorridente, Bento XVI abordou com graça e
humildade o assunto do sucessor. “Entre vocês está o futuro papa, ao qual hoje
prometo reverência e obediência incondicionais”, declarou.
Fez um convite à unidade da Igreja, ao afirmar
que todos juntos compõem uma orquestra. E que cada um deve dar uma nota para
encontrar a harmonia, apesar das divergências.
Na hora dos cumprimentos finais, cada um pôde dar
o seu adeus mais livremente, sem o rígido protocolo. Apertos de mão, beijos,
até comentários.
O filipino Luis Antonio Tagle, considerado um
bom candidato a papa, foi bem descontraído. Carinho também com o
brasileiro Dom João Braz de Aviz, outro candidato potencial, que hoje deixa o
cargo de prefeito da congregação dos religiosos, junto com toda a cúria. No
portão, os cardeais saíram visivelmente tocados.
O cardeal argentino Estanislao Karlic falou da
doçura deste papa.
Outros já pensam em como deverá ser o sucessor. O
cardeal emérito de Barcelona Ricardo Maria sustenta que como a maioria dos
católicos está no continente americano, o Papa deveria sair de lá. O arcebispo
de Barcelona Luiz Martínez Sistach acha que a pessoa é mais importante do que a
geografia. O cardeal italiano Severino Poletto afirma que tem diante dele uma
tela branca: não há ideia de figura ou nome.
O brasileiro Dom Cláudio Hummes concorda que o
nome não está claro. Mas sabe que são necessárias mudanças na Igreja. “É
preciso de uma reforma profunda da cúria romana, certamente. É preciso estar
muito atento a tudo aquilo que levou a Igreja a esta crise”, disse Dom Cláudio.
“Isso tem a ver certamente com a credibilidade da Igreja e é o que nós temos
que reconstruir, essa credibilidade”, completou.
Dentro dos muros, os colaboradores de Bento XVI
se juntaram no pátio de San Damaso. Mais um aceno antes da partida.
Bento XVI se dirigiu ao heliporto, no ponto mais
alto da colina vaticana. Enquanto isso, o apartamento papal era lacrado, à
espera do próximo hóspede.
Às 17h, 13h em Brasília, o seu último texto
entrou na rede social. “Obrigado por seu amor e apoio. Que vocês possam sempre
experimentar a alegria de colocar Cristo no centro de suas vidas”, postou Bento
XVI.
O helicóptero da República Italiana esperava o
pontífice para levá-lo à residência de verão, por dois meses, para afastá-lo da
eleição do seu sucessor. Às 13h07, em Brasília, Bento XVI decolou para a nova
vida.
Faltava pouco, muito pouco para o fim de um
reinado que pode mudar a Igreja.
20h na Itália, 16h em Brasília. No mundo católico
começou a sé vacante. A Igreja não tem mais o seu chefe. Sexta-feira de manhã
será feito o documento para convocar os cardeais para o conclave, que pode
começar no dia 11. Nesta segunda-feira os cardeais se reúnem para discutir qual
o papa de que a Igreja precisa. Bento XVI agora é um simples fiel, que vai
acompanhar tudo de longe.
FONTE: JORNAL NACIONAL DA
GLOBO
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