Cristina Indio do Brasil Do
G1 Rio
Circula desde quinta-feira (21), na internet, um vídeo em
que um casal aparece se agarrando dentro do mar de Rio das Ostras, na Região
dos Lagos, no Rio de Janeiro, sem se importar. Os banhistas, incluindo
crianças, ficaram chocados. Gravado durante o carnaval, tem como um dos
protagonistas a dona de casa Wanderlea dos Santos, de 41 anos, que jura não ter
feito sexo dentro da água, mas viu sua vida se transformar depois da divulação
das imagens. Mãe de dois filhos, ela disse que terá que trocar os gêmeos de 9 anos
da escola porque até a diretora estaria contra ela.
"A própria diretora disse que eu merecia uma
surra. Quem levou eles para a escola foi minha irmã porque eu não estou saindo
na rua", contou, em entrevista ao G1, na casa onde mora
há 41 anos no Vale do Ipê, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
"Estão dizendo que eu pratiquei sexo. Eu não
pratiquei. Eu não sou esta pessoa que estão falando", disse a mulher, que
na ocasião foi levada, ao lado do parceiro, identificado como Leonardo,
de 27 anos, para a delegacia. Ela e o auxiliar de serviços gerais teriam se
conhecido horas antes de entrarem no mar.
Os dois foram autuados por atentado ao pudor e
agora Wanderlea busca alguém que possa defendê-la no caso. "Tudo que eu
queria agora era me defender. Não tenho dinheiro para pagar um advogado e a
Defensoria Publica é difícil", afirmou. "Eu me arrependo amargamente.
Se eu pudesse voltar atrás, nem lá eu teria ido. Um dia antes eu disse que não
queria ir para essa viagem. Deus sempre me avisa quando uma coisa vai acontecer
comigo."
'Humilhação'
A dona de casa disse ainda que os filhos estão estranhando o movimento da casa e ficam com medo de ela aparecer novamente nos jornais. Conta também que, desde a divulgação do vídeo, emagreceu 3 quilos porque não tem vontade de comer e só consegue dormir sob efeito de remédios. "Quer saber? É muita humilhação. Muita humilhação. Não estou podendo sair mais na rua, já não como, não estou dormindo."
Vida de Wanderlea se
transformou depois do vídeo de Rio das Ostras (Foto: Cristina Indio do Brasil/
G1)
O maior desejo dela, agora, é que terminem os
comentários que têm sido divulgados na internet. "Me chamam de vagabunda.
Usam palavrões. É muito pesado. Para quem está de fora é facil. Para quem está
passando, é muito difícil. Estou sendo julgada e condenada por um ato que tem
os movimentos na água, não vou dizer que foi uma carícia, mas praticar sexo,
não pratiquei", explicou.
A madastra de Wanderlea, Marilia, de 57 anos,
disse que também sofre com a situação. "Estou passando mal. Ela é como se
fosse minha filha. Amo essas crianças. Tenho depressão e piorei com isso",
disse. "Ela errou. Errou. Mas quem neste mundo nunca errou? Quem está
sofrendo são as crianças", afirmou, chorando, e contando que o pai,
Antônio, e a irmã, Maria do Socorro, também tiveram problemas de pressão devido
ao episódio.
Vizinhança dividida
O caso divide a vizinhança. Enquanto na rua sem calçamento em que vive, segundo ela e madastra, alguns moradores condenam, em outras ruas próximas comerciantes disseram ao G1 que não se pode crucificar Wanderlea. "Ela não é a primeira e nem vai ser a última. São momentos de fraqueza. As pessoas que estão crucificando têm que entender que existe a familia. Não devemos virar as costas para ela", disse a comerciante que preferiu não dizer seu nome.
Wanderlea afirmou que, embora a vida no Vale do
Ipê esteja difícil, não pensa em mudar. "Não adianta eu fugir daqui. Está
tudo publicado na internet."
FONTE: G1 – O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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