quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Casais formados no Orkut lamentam fim da rede social

Comunidades, descrições e depoimentos ajudaram a aproximar pessoas que estão juntas até hoje.

Da BBC
 Diversas comunidades celebram os relacionamentos que começaram no Orkut (Foto: Reprodução/Orkut) Diversas comunidades celebram os relacionamentos que começaram no Orkut (Foto: Reprodução/Orkut)
Indígenas da etnia suruí, Gasodá Suruí e Maria Leonice moravam a cerca de 350 km de distância: ele em Cacoal e ela na aldeia indígena Alta Floresta do Oeste, em Rondônia. Com o Orkut, a distância diminuiu. Os dois se conheceram pela rede social, começaram a namorar e se casaram – pela internet.

O casal teve dois filhos. Quando nasceu a menina, há quatro anos, eles ainda postavam fotos dela no Orkut. O menino, de 10 meses, já é da geração Facebook.

"Com o tempo fomos parando de usar o Orkut e começamos a postar mais fotos no Facebook. Mas o Orkut vai fazer falta, nossa história está lá", diz Gasodá, que correu para salvar suas memórias assim que o fechamento do site foi anunciado.

Ao chegar ao fim, neste 30 de setembro, após dez anos de vida, o Orkut deixa alguns órfãos especiais: os casais unidos pela rede.

No derradeiro dia da rede social ainda sobreviviam dezenas de comunidades no estilo "Conheci meu amor no Orkut".

O Orkut tinha algumas ferramentas – que não existem no Facebook, para onde migrou a maior parte dos usuários da rede – que, para os casais ouvidos pela BBC, faziam com que fosse um bom cupido.

Comunidades, biografias no perfil e testemonials impulsionavam os relacionamentos amorosos na rede.
Possibilidade de avaliar as pessoas como "legal" ou "sexy", uma ferramenta "dedo duro" que deixava ver quem deu aquela espiadinha no seu perfil e o Buddy Poke, aplicativo que permitia dar cutucadas como as do Facebook, também deram um empurrãozinho nos namoros.

A descrição que cada pessoa podia fazer de si própria em seu perfil – que se chamava "Quem sou eu" – ajudou o relacionamento do leitor da BBC Brasil Marcelo, que pediu para não ter seu sobrenome divulgado.

Há seis anos, ele conheceu seu namorado, Renan, pela rede social. Marcelo conta que participava de muitas discussões nas redes e não costumava "add" desconhecidos, mas se encantou com um menino que o adicionou como amigo.

"Fiquei olhando a foto daquele rapaz e algo me hipnotizou. Dei uma boa olhada no perfil dele e li a descrição, espaço destinado às características da pessoa que o site disponibilizava. Resolvi aceitar o pedido de amizade", conta.

As conversas começaram por scraps, os recadinhos da rede. Mas, na época da internet discada, ele só podia usar a rede algumas horas por dia.

"'Como posso estar tão ligado a uma pessoa que eu nunca vi, somente com uma conversa e uma foto?', pensei. Minha mãe só me deixava usar o computador entre 19h e 22h todos os dias. Mal fechei os olhos naquela noite de tanta felicidade e ansiedade para falar com ele no dia seguinte".

O primeiro contato por voz ocorreu só depois que Marcelo economizou dinheiro da passagem, indo a pé para a escola, e conseguiu comprar créditos de celular. Encontro fora do mundo virtual só rolou dois anos depois, quando ele foi do Rio de Janeiro para Sorocaba encontrar Renan.

Duas semanas não foram suficientes para ficarem juntos: na hora de pegar o ônibus para voltar, Marcelo desistiu e acabou passando três meses com o namorado.

Hoje, planejam casar e morar juntos.

"O Orkut foi quem nos deu essa grande história para contar. Foi marcante e sempre serei grato ao Orkut e sua rede social de mesmo nome por aproximar pessoas, amigos, casais e por interatividade em fóruns."

 Filipe e Juliana se conheceram em uma comunidade do Orkut (Foto: Arquivo pessoal) Filipe e Juliana se conheceram em uma comunidade do Orkut (Foto: Arquivo pessoal)
Comunidades

As comunidades que deixaram a rede social famosa também eram uma que aproximava pessoas com os mesmos gostos e possibilitava conhecer pessoas mesmo sem ter amigos em comum.

O leitor Filipe Levi contou, em uma mensagem enviada à BBC Brasil, que conheceu sua mulher, Juliana, em uma comunidade sobre discussão religiosa do Orkut, em 2005.

"Li um comentário e gostei dos argumentos que ela usava na tal discussão. Tímido como sou, não falei nada a princípio, apenas visualizei seu perfil e descobri que ela tinha um blog à época. Passei a ler o blog dela e comentar, até que criei coragem e solicitei amizade no Orkut. Ela aceitou e, conversa vai, conversa vem, descobrimos muitas afinidades. Passados mais alguns dias, começamos a namorar, à distância e virtualmente!", conta.

Ele morava em Pernambuco e ela, no Amazonas. Após alguns encontros, os dois decidiram se casar. Estão juntos desde 2009 e têm dois filhos, uma menina de 4 e um menino de 1.
"Com o anúncio do fim do Orkut, corri para fazer download de meus dados que ainda estavam lá", diz ele.

Depoimentos
Os depoimentos, que permitiam declarações públicas de afeto, também ajudavam o Orkut no papel de santo casamenteiro.

Rahif Souza, leitor da BBC Brasil, conheceu Bruna em uma comunidade sobre a banda Led Zeppelin.

"Assim que dei aquela 'stalkeada', eu logo adicionei. Nos tornamos amigos e mandávamos depoimentos um para o outro quase todos os dias, até que nos apaixonamos", conta.

Rahif também sentirá falta da rede."Tínhamos apenas uma foto no nosso Orkut, mas todos os nossos depoimentos estavam guardados lá. Não apagamos."

Mas os saudosos não precisam se desesperar: até 2016, de acordo com o Google, é possível salvar fotos, perfis e dados de comunidades do Orkut por meio do Google Takeout.




FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO

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