Comunidades, descrições e depoimentos ajudaram a aproximar pessoas que estão juntas até hoje.
 Diversas comunidades celebram os relacionamentos que começaram no Orkut (Foto: Reprodução/Orkut)
 Diversas comunidades celebram os relacionamentos que começaram no Orkut (Foto: Reprodução/Orkut)
 Indígenas da etnia suruí, Gasodá Suruí e Maria Leonice moravam a cerca 
de 350 km de distância: ele em Cacoal e ela na aldeia indígena Alta 
Floresta do Oeste, em Rondônia. Com o Orkut, a distância diminuiu. Os dois se conheceram pela rede social, começaram a namorar e se casaram – pela internet.
 O casal teve dois filhos. Quando nasceu a menina, há quatro anos, eles 
ainda postavam fotos dela no Orkut. O menino, de 10 meses, já é da 
geração Facebook.
 "Com o tempo fomos parando de usar o Orkut e começamos a postar mais 
fotos no Facebook. Mas o Orkut vai fazer falta, nossa história está lá",
 diz Gasodá, que correu para salvar suas memórias assim que o fechamento
 do site foi anunciado.
 Ao chegar ao fim, neste 30 de setembro, após dez anos de vida, o Orkut 
deixa alguns órfãos especiais: os casais unidos pela rede.
 No derradeiro dia da rede social ainda sobreviviam dezenas de comunidades no estilo "Conheci meu amor no Orkut".
 O Orkut tinha algumas ferramentas – que não existem no Facebook, para 
onde migrou a maior parte dos usuários da rede – que, para os casais 
ouvidos pela BBC, faziam com que fosse um bom cupido.
 Comunidades, biografias no perfil e testemonials impulsionavam os relacionamentos amorosos na rede.
 Possibilidade de avaliar as pessoas como "legal" ou "sexy", uma 
ferramenta "dedo duro" que deixava ver quem deu aquela espiadinha no seu
 perfil e o Buddy Poke, aplicativo que permitia dar cutucadas como as do
 Facebook, também deram um empurrãozinho nos namoros.
 A descrição que cada pessoa podia fazer de si própria em seu perfil – 
que se chamava "Quem sou eu" – ajudou o relacionamento do leitor da BBC 
Brasil Marcelo, que pediu para não ter seu sobrenome divulgado.
 Há seis anos, ele conheceu seu namorado, Renan, pela rede social. 
Marcelo conta que participava de muitas discussões nas redes e não 
costumava "add" desconhecidos, mas se encantou com um menino que o 
adicionou como amigo.
 "Fiquei olhando a foto daquele rapaz e algo me hipnotizou. Dei uma boa 
olhada no perfil dele e li a descrição, espaço destinado às 
características da pessoa que o site disponibilizava. Resolvi aceitar o 
pedido de amizade", conta.
 As conversas começaram por scraps, os recadinhos da rede. Mas, na época
 da internet discada, ele só podia usar a rede algumas horas por dia.
 "'Como posso estar tão ligado a uma pessoa que eu nunca vi, somente com
 uma conversa e uma foto?', pensei. Minha mãe só me deixava usar o 
computador entre 19h e 22h todos os dias. Mal fechei os olhos naquela 
noite de tanta felicidade e ansiedade para falar com ele no dia 
seguinte".
 O primeiro contato por voz ocorreu só depois que Marcelo economizou 
dinheiro da passagem, indo a pé para a escola, e conseguiu comprar 
créditos de celular. Encontro fora do mundo virtual só rolou dois anos 
depois, quando ele foi do Rio de Janeiro para Sorocaba encontrar Renan.
 Duas semanas não foram suficientes para ficarem juntos: na hora de 
pegar o ônibus para voltar, Marcelo desistiu e acabou passando três 
meses com o namorado.
 Hoje, planejam casar e morar juntos.
 "O Orkut foi quem nos deu essa grande história para contar. Foi 
marcante e sempre serei grato ao Orkut e sua rede social de mesmo nome 
por aproximar pessoas, amigos, casais e por interatividade em fóruns."
 Filipe e Juliana se conheceram em uma comunidade do Orkut (Foto: Arquivo pessoal)
 Filipe e Juliana se conheceram em uma comunidade do Orkut (Foto: Arquivo pessoal)
 Comunidades
As comunidades que deixaram a rede social famosa também eram uma que aproximava pessoas com os mesmos gostos e possibilitava conhecer pessoas mesmo sem ter amigos em comum.
 O leitor Filipe Levi contou, em uma mensagem enviada à BBC Brasil, que 
conheceu sua mulher, Juliana, em uma comunidade sobre discussão 
religiosa do Orkut, em 2005.
 "Li um comentário e gostei dos argumentos que ela usava na tal 
discussão. Tímido como sou, não falei nada a princípio, apenas 
visualizei seu perfil e descobri que ela tinha um blog à época. Passei a
 ler o blog dela e comentar, até que criei coragem e solicitei amizade 
no Orkut. Ela aceitou e, conversa vai, conversa vem, descobrimos muitas 
afinidades. Passados mais alguns dias, começamos a namorar, à distância e
 virtualmente!", conta.
 Ele morava em Pernambuco e ela, no Amazonas. Após alguns encontros, os 
dois decidiram se casar. Estão juntos desde 2009 e têm dois filhos, uma 
menina de 4 e um menino de 1.
 "Com o anúncio do fim do Orkut, corri para fazer download de meus dados que ainda estavam lá", diz ele.
 Depoimentos
Os depoimentos, que permitiam declarações públicas de afeto, também ajudavam o Orkut no papel de santo casamenteiro.
Os depoimentos, que permitiam declarações públicas de afeto, também ajudavam o Orkut no papel de santo casamenteiro.
 Rahif Souza, leitor da BBC Brasil, conheceu Bruna em uma comunidade sobre a banda Led Zeppelin.
 "Assim que dei aquela 'stalkeada', eu logo adicionei. Nos tornamos 
amigos e mandávamos depoimentos um para o outro quase todos os dias, até
 que nos apaixonamos", conta.
 Rahif também sentirá falta da rede."Tínhamos apenas uma foto no nosso 
Orkut, mas todos os nossos depoimentos estavam guardados lá. Não 
apagamos."
 Mas os saudosos não precisam se desesperar: até 2016, de acordo com o 
Google, é possível salvar fotos, perfis e dados de comunidades do Orkut 
por meio do Google Takeout.
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário