Há 3 anos, bazar de Anatólio pegou fogo e não sobrou nem documento.
'Shopin Bike' percorre Zona Sul com variados utensílios domésticos.
São mais de 200 itens e 300 kg que o mineiro Anatólio carrega por dia (Foto: Gabriel Barreira/G1)
O fogo lambeu o Bazar do Lar, na Lapa, no Centro do Rio, há três anos,
quando Anatólio Silva, hoje aos 51, viu o sonho do próprio negócio ruir
pela primeira vez. Até os documentos, nos fundos da loja onde vivia,
foram carbonizados. Ficou somente com a roupa do corpo, mas conseguiu um
imóvel próximo ao incidente e se deixou convencer pela proposta do
proprietário de reabrir o negócio ali mesmo. Frustou-se pela segunda
vez: foi despejado logo depois de pedir um empréstimo e ir às compras
para formar o estoque do novo bazar, que jamais seria inaugurado. Desta
vez, no entanto, Anatólio não tinha só a roupa do corpo. Tinha mais de
150 kg de produtos, sem ter onde vendê-los, e uma bicicleta.
"Precisava me desfazer da mercadoria o mais rápido possível. Como é que
eu poderia fazer isso de pouquinho em pouquinho? Fiquei com as miudezas
e, aos poucos, fui adaptando a bike, que era o único bem que realmente
me pertencia, para fazer dela o lugar onde expor os produtos", explica.
Esponjas, colheres de pau e até cataventos fazem
parte da lista de produtos (Foto: Gabriel Barreira/G1)
parte da lista de produtos (Foto: Gabriel Barreira/G1)
Desde então, vende bugigangas imprescindíveis para o lar pelas ruas da
Zona Sul nos bairros da Lagoa, Humaitá, Botafogo e Copacabana. Às vezes
muda um pouco o percurso. Já foi a Ipanema "descansar a vista" com a sua
Shopin Bike (sem o "P" e o "G" mesmo), como mostra a tímida fachada
escrita a mão com a promessa de delivery, restrita aos clientes vips.
Isto é, aqueles "que não vão chorar para pagar o preço pedido, nem
desistir da compra".
Na bicicleta, expõe desde esponjas de pia, o produto mais barato (R$
0,50), à chupeta de bateria de carro, o mais caro (R$ 38), passando por
ralos, pentes e até cataventos, num total de 300 kg, segundo ele. "É
preciso muita força e equilíbrio", resume.
Em outra bicicleta, mais leve, pedala o equivalente a uma maratona para
ir e voltar da nova casa à garagem onde deixa seu Shopin guardado. Por
dia, tira de 20 a 30 fotos com curiosos. Em menos de meia hora de
conversa, uma legião para a fim de cumprimentá-lo, comprar um filtro de
café ou uma borracha de panela de pressão.
Além disso, Anatólio jura alegrar os vários pacientes de clínicas de
fisioterapia e hospitais que se proliferam nas ruas de Botafogo, onde
prefere parar, enquanto vende cadarços e junta "uma grana para conseguir
comprar uma nova loja". É preciso muita força e equilíbrio.
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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