Avaliação da Abin mostra baixo risco de ataque, mas cenário pode mudar.
Exército coordena combate ao terror; PF monitora extremistas e suspeitos.
Exército: coordenará ações de terrorismo e será
responsável pelo contraterrorismo (pronta-resposta e ações ofensivas em
caso de ataques). |
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Polícia Federal: foco em antiterrorismo, com prevenção e trabalhos de inteligência |
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Polícias estaduais: segurança pública, policiamento urbano, inteligência, prevenção. |
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Abin: troca de informações interagências, monitoramento de suspeitos, avaliação de riscos |
Os ministérios da Justiça e da Defesa, responsáveis pelo planejamento
da segurança da Copa das Confederações, que começa em 15 de julho, em
Brasília, veem com “preocupação” os ataques ocorridos durante a maratona de Boston, nos EUA, que deixaram 3 mortos e 176 feridos na segunda-feira (15).
Duas bombas caseiras poderosas explodiram na linha de chegada da
maratona, no centro da cidade americana. O FBI assumiu a chefia da
investigação, mas afirmou que ainda não tem ideia da autoria ou da
motivação do ataque, que foi classificado como um "ato de terror" pelo
presidente americano Barack Obama.
Segundo os ministérios brasileiros, por enquanto, não haverá mudança no
planejamento feito para os grandes eventos esportivos que serão
realizados no país, pois, na avaliação do governo, o que está previsto
“segue no caminho certo”. Mas haverá reforço na preparação, na
inteligência e na prevenção de incidentes com explosivos ou envolvendo
grupos extremistas.
“Será mais um motivo para nos preocuparmos, ficarmos em alerta”, diz o
general José Carlos de Nardi, chefe do Estado-Maior conjunto do
Ministério da Defesa e que comanda Marinha, Aeronáutica e Exército. Na
avaliação dos militares, porém, “o risco de algo ocorrer no Brasil é
menor”, devido às relações de amizade que o Brasil possui com os mais
diversos países.
“O que ocorreu em Boston
foi lamentável e um fator de preocupação, por isso estamos acompanhando
bem de perto o andamento das investigações do FBI. A Agência Brasileira
de Inteligência (Abin) analisa vários fatores e, atualmente, o risco de
um atentado durante a Copa das Confederações é baixo, mas isso pode
variar a qualquer momento, dependendo dos acontecimentos”, diz José
Monteiro, diretor de operações da Secretaria Extraordinária de Segurança
para os Grandes Eventos (Sesge).
A pasta, subordinada ao Ministério da Justiça, coordena a interação
entre órgãos de segurança pública estaduais, Polícia Federal e Polícia
Rodoviária Federal com o Ministério da Defesa e a Abin. “O plano
estratégico do governo dividiu a segurança em três eixos: ameaças
externas, proteção de portos, aeroportos e fronteiras, e ameaças
internas. Com isso, conseguimos ter uma visão transversal em tempo real
de qualquer atividade extremista que possa estar se movimentando”,
acrescenta Monteiro.
“Tomaremos ações para mitigar riscos ao máximo. Com informações de
vários países, estamos construindo um banco de dados de suspeitos.
Haverá reforço na fronteira e estamos adquirindo tecnologias que
permitirão monitorar em tempo real comitivas, hotéis, estádios. Faremos
vistorias em busca de explosivos em estádios e locais que abrigarão
delegações. Temos grupos policiais em todos os estados prontos para
isso”, disse.
Divisão de tarefas
Em 4 fevereiro, um acordo entre os dois ministérios definiu quais
seriam as responsabilidades dos ministérios da Justiça e da Defesa
durante a Copa das Confederações, a Copa do Mundo de 2014 e as
Olimpíadas, de 2016. Pelo documento, a coordenação de medidas ligadas ao
terrorismo ficará com o Exército, que também será responsável pelo
contraterrorismo, segundo o Ministério da Defesa. Já a PF, com apoio da
Abin, cuidará do antiterrorismo.
Conforme a estratégia, polícias militares e civis dos Estados não
atuarão especificamente em antiterrorismo e contraterrorismo, podendo
colaborar, entretanto, caso tenham informações relevantes sobre o tema
ou sejam acionadas pela coordenação.
Exército treina em Goiânia tropa formada para ações de combate ao terror (Foto: Brigada de Operações Especiais)
A Revista Brasileira de Inteligência define antiterrorismo como medidas
preventivas e defensivas para investigar, conseguir informações de
inteligência e identificar possíveis vulnerabilidades que facilitem
atentados. Já o contraterrorismo define as medidas ofensivas, como
ataques pontuais a grupos inimigos, com objetivo de prevenir, dissuadir
ou retaliar seus atos.
“Em que pese o Brasil ser um país pacífico, terrorismo é um assunto que
precisa ser visto com seriedade e responsabilidade", disse ao G1, em maio do ano passado, o general Mario Lucio Alves de Araujo, do Estado Maior do Exército.
O ministro da Defesa, Celso Amorim, e o ministro
da Justiça, José Eduardo Cardozo, durante a assinatura do acordo (Foto: Ministério da Defesa/Divulgação)
da Justiça, José Eduardo Cardozo, durante a assinatura do acordo (Foto: Ministério da Defesa/Divulgação)
Até a definição do governo, havia nos bastidores uma disputa em relação
a quem caberiam as responsabilidades de coordenar ações contra terror,
por conta do repasse de recursos.
Desde que houve a definição, a Brigada de Operações Especiais
(BdaOpEsp), unidade de elite do Exército, começou um “mutirão” para
treinar seus profissionais e passou a ter maior autonomia, passando a
ser chamada de Comando de Operações Especiais (COE).
Segundo o Ministério da Defesa, a unidade, que até então contava com um
grupo reduzido para ações deste tipo, formará profissionais para
empregar nas seis cidades que sediarão a Copa das Confederações e nas 12
sedes da Copa do Mundo.
Militares serão responsáveis por ações de contra-terror; PF fará inteligência e prevenção, segundo acordo entre ministérios (Foto: Brigada de Operações Especiais)
Na reunião que selou o acordo, em fevereiro, o comandante da BdaOpEsp,
general Marco Antonio Freire Gomes, mostrou aos ministros da Justiça,
José Eduardo Cardozo, e ao Ministro da Defesa, Celso Amorim, o plano
contra terrorismo da Copa das Confederações. "(os militares) Serão
responsáveis pelo monitoramento e por ações contra terroristas que
porventura venham a ocorrer no âmbito das competições", disse ele na
ocasião, segundo o Ministério da Defesa.
Em 2012, o Ministério da Justiça patrocinou 20 cursos para preparar
policiais para os grandes eventos, investindo R$ 17 milhões. Dois deles,
realizados em parceria com a Embaixada dos Estados Unidos, foram para
pronta-resposta a atos terroristas e tiveram a presença de 89 policiais
militares e civis e bombeiros dos estados que serão sede da Copa das
Confederações e da Copa do Mundo. A pasta diz que os cursos foram feitos
antes da definição de que terrorismo ficará sob responsabilidade do
Exército, mas que o aprendizado é para prevenção, que é responsabilidade
da segurança pública.
Apesar de polícias de vários Estados realizarem simulações e
treinamentos para resposta a ataques terroristas, há consenso entre
todos de que deve haver integração e trabalho conjunto. O que mais se
ouve é que "a coordenação" é que ficará com o Exército, mas as tropas
policiais especializadas serão empregadas em conjunto.
“Tem coisa para todo mundo fazer. O Exército não tem tropa de
terrorismo para colocar em todas estações de metrô, estádios, hotéis de
delegações, pontos de preocupação. A coordenação é nossa, mas as
atividades serão compartilhadas por setores de interesse e de
incumbência”, disse ao G1 um oficial que atua no setor.
“Não acredito que vá haver disputa. As atribuições de cada órgão estão
bem definidas, é um planejamento e um trabalho integrado. O que há é que
setores possuem a coordenação de um ministério ou de outro. Os órgãos
de segurança pública e as Forças Armadas já estão acostumadas a
trabalhar assim em outros eventos”, disse Monteiro, do Ministério da
Justiça.
Como vai ser na prática
Em cada cidade-sede da Copa das Confederações (Distrito Federal, Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Recife), o Ministério da
Justiça montou um centro de comando e controle que irá monitorar a
cidade e trocar informações em tempo real.
No local, ficarão representantes da Marinha, Aeronáutica, Exército,
polícias Civil e Militar, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, PF, Abin,
Detran, polícias rodoviárias e outros órgãos públicos e de segurança
municipais, estaduais e federais. A ideia é compartilhar inteligência e
poder tomar decisões de forma rápida. A coordenação em todas as
cidades-sede está sob comando de um general do Exército.
Nas cidades-sedes, a Abin construiu também centros de inteligência, em
que profissionais do setor trocarão dados com a Interpol e outras
agências de informação de Inglaterra, Israel, Alemanha, Espanha, dentre
outros, sobre suspeitos. Policiais internacionais irão acompanhar
descaracterizados torcidas procedentes de seus países e a PF já recebeu
dados de integrantes de torcidas violentas, como os Hooligans, para
adotar medidas, como proibir a entrada no país ou a entrada nos
estádios. Todos os nomes dos compradores de ingressos foram informados
para os serviços de inteligência.
Haverá ainda uma central, em Brasília, para coordenação geral do evento e das atividades em todas as sedes.
“Tenho certeza que temos tropas militares e policiais preparadas em
todas as unidades-sede. Situações específicas podem ocorrer, como em
qualquer grande evento esportivo internacional, mas nada que represente
risco”, diz Monteiro, da Sesge.
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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