CINEMA NACIONAL. Grande Otelo era negro e baixo, tinha uma voz histriônica. Zé Trindade era careteiro, usava um bigode caipira
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Nascido em 1915, em Uberlândia, Otelo começou a carreira no teatro de revista, mas logo migrou para o cinema, onde fez sua fama, tanto nas chanchadas como fora delas
Foto: DIVULGAÇÃO
Por: ANDRÉ MIRANDA - AGÊNCIA O GLOBO
Rio de Janeiro, RJ – Eram dois malandros diferentes, o ingênuo e o sacana. Grande Otelo era negro e baixo, tinha uma voz histriônica e fazia um tipo de expressões cativantes. Zé Trindade era careteiro, usava um bigode caipira e expunha seu desejo através de bordões célebres como “Mulheres, cheguei!”.
Em comum, o mineiro Otelo (1915-1993) e o baiano Trindade (1915-1990), ambos com centenários comemorados em 2015, marcaram o humor brasileiro, deixaram um legado para gerações de atores e mostraram um caminho para encantar o público que se mantém vivo no cinema nacional.
“O Zé Trindade tinha força na voz. Ele falava umas coisas que se ditas por outra pessoa não teriam graça. Já o Grande Otelo era ágil, elétrico na palavra e no corpo, e fez uma dupla incrível com meu ídolo Oscarito”, diz Renato Aragão, o Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgina Mufumbo, estrela ao lado de Dedé, Mussum (1941-1994) e Zacarias (1934-1990) de dezenas de filmes do grupo Os Trapalhões. “Aprendemos muito com aquela turma, mas o cinema dos Trapalhões era diferente, era uma coisa mais de aventura. As épocas foram mudando, e cada um encontrou seu estilo”, completa.
Na época áurea de Grande Otelo e Zé Trindade, o que prevalecia eram as chanchadas, um gênero tipicamente carioca que misturava cenas cômicas com musicais. As chanchadas foram popularizadas pela produtora Atlântida e prosseguiram até a década de 1960, com a atuação de outras empresas, como a Cinédia e a Herbert Richers – a última hoje mais lembrada como um popular estúdio de dublagem e legendagem, aquele da “Versão brasileira: Herbert Richers”.
“Quando eu era pequena, o Grande Otelo aparecia lá em casa para falar com meu pai e eu dizia que só iria chamá-lo se ele fizesse caretas”, diz Alice Gonzaga, diretora da Cinédia, companhia fundada por seu pai, Adhemar Gonzaga, em 1930. “Uma vez o Otelo me convidou para uma festa no apartamento dele. Aí, quando cheguei lá, não tinha ninguém. Não havia festa alguma”.
Outros comediantes célebres do período foram Oscarito (1906-1970), Ankito (1924-2009), Dercy Gonçalves (1907-2008), Costinha (1923-1995), Zezé Macedo (1916-1999) e Ronald Golias (1929-2005). Jô Soares estreou no cinema com uma participação em “Pé na tábua” (1957), feito pela Herbert Richers a partir de uma história de Chico Anysio (1931-2012), e depois fez sucesso como um agente secreto em “O homem do Sputnik” (1959), de Carlos Manga.
Hugo Carvana (1937-2014), que viria a dirigir e protagonizar “Vai trabalhar, vagabundo” (1973), um dos maiores clássicos da comédia nacional, também começou nas chanchadas. Já em São Paulo, o paulistano Mazzaropi (1912-1981) se destacava em filmes como “Jeca Tatu” (1959).
FONTE: JORNAL GAZETA DE ALAGOAS
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