Novamente reféns de lampejos
individuais, hermanos fazem 1 a 0 no fim da prorrogação e avançam. Com
passe de Messi, Ángel enfim aparece
A CRÔNICA
por
Cahê Mota
Messi foi bem marcado, mas ainda assim teve bons lances individuais (Foto: Agência Reuters)
O craque da vez foi outro. A Argentina voltou a jogar mal, voltou a
encontrar dificuldades para superar uma defesa bem postada, voltou a ser
refém de lampejos individuais, mas tem craque. Mais que isso, tem
craques. E é exatamente por ter quem decida quando tudo vai mal que
segue viva na Copa do Mundo do Brasil. O relógio já apontava 118 minutos
- 13 da prorrogação -, Benaglio fechava o gol da Suíça, mas a bola caiu
nos pés dos craques. De dois. De Messi para Di María, de Di María para o
gol. Injusto ou não com os bravos suíços, o o placar da Arena
Corinthians apontou 1 a 0 para os hermanos nesta terça-feira, e são eles
que seguem para as quartas de final.
A Suíça foi quase perfeita taticamente. Firme na defesa e veloz nos
contragolpes, obrigou Romero a fazer boas defesas, levou perigo com o
abusado Shaqiri. Faltou, no entanto, quem decidisse quando a
oportunidade foi clara. Benaglio, que é Diego como Maradona, parava a
Argentina. Defendia tudo e surgia como herói ideal de um jogo que
caminhava para os pênaltis. Di María, no entanto, estava ali. Não
parecia, mas estava ali. E começou a correr como nenhum outro jogador
nos 15 minutos finais da prorrogação.
Depois de errar quase tudo o que tentou nas três etapas anteriores da
partida, Fideo, como é chamado no país, chamou o jogo para si no segundo
tempo. Neste período, foram três das 12 finalizações que tentou no
jogo. Na penúltima, o gol: passe de Messi, chute colocado no cantinho. O
estádio paulista explodiu, os argentinos invadiram o campo. Incansável,
a Suíça ainda colocou uma inacreditável bola na trave, mas não deu.
Mal coletivamente e graças aos craques que tem no elenco, a Argentina
sobrevive no Brasil. O próximo compromisso está marcado para sábado, às
13h (de Brasília), no Estádio Nacional, na Capital Federal. O rival
sairá do duelo entre Bélgica e EUA, ainda nesta terça.
Di María recebe abraço de Messi, dono da assistência para o gol salvador (Foto: Marcos Ribolli)
Suíça impõe estilo de jogo e assusta no primeiro tempo
Um roteiro comum à maioria dos jogos das oitavas de final desta Copa do
Mundo: com maior posse de bola, o favorito esbarrava na falta de
espaços do azarão, que, bem postado taticamente, assustava em
contragolpes. Se Brasil, Alemanha, Holanda e França sofreram para
seguirem vivos no Mundial, com a Argentina não foi diferente nos 45
minutos iniciais. Mais uma vez com suas principais figuras apagadas e
dependente de lampejos de Messi, os hermanos praticamente não levaram
perigo ao gol de Benaglio e desceram para o intervalo no lucro pelo 0 a 0
com os suíços.
Marcando quase toda atrás da linha da bola, a Suíça administrava a
partida à sua maneira. Pacientemente, aguardava erros de passes de
argentinos afobados diante da falta de espaço e ligava em velocidade os
contra-ataques, sempre acionando Xhaka e Shaqiri. Assim, protegeu bem
sua área e provocou calafrios na torcida argentina, que pela primeira
vez foi minoria no estádio neste Mundial. Xhaqa e Drmic, inclusive,
desperdiçaram boas oportunidades dentro da área. O primeiro parou em
grande defesa de Romero, e o segundo jogou fora lindo lançamento de
Shaqiri ao ficar livre de marcação e errar toque de cobertura.
A Suíça tinha uma proposta de jogo muito bem definida e a cumpria quase
que com perfeição. Os raros espaços concedidos à Argentina aconteceram
em erros na saída de bola. Os suíços, por sinal, raramente deram chutões
e exploravam os buracos na frágil defesa do time de Sabella graças a
boa saída de bola da dupla de volantes Inler e Behrami. Do lado dos
hermanos, Sabella tentou de tudo, mas, para variar, só tinha Messi com
alguma qualidade.
Substituto de Agüero, Lavezzi começou a partida aberto pela direita,
com Di María na esquerda. A opção não deu certo, e pouco depois dos 20
minutos a dupla mudou de lado. Já Messi, que começou enfiado ao lado de
Higuaín, recuou também na metade da etapa inicial e passou a aparecer
mais no jogo. Com certo espaço na intermediária, o craque até conduzia
para tentar tabelas, mas parava em uma parede vermelha na entrada da
área. Ao todo, apesar dos 60% de posse de bola, foram apenas cinco
finalizações. Nenhuma tão perigosa quanto as da Suíça.
Shaqiri é atrapalhado pelo árbitro no meio-campo: trombada valeu uma bronca (Foto: EFE)
Argentina melhora, pressiona, mas para em Benaglio
Se a tarde era ruim tecnicamente, a Argentina voltou para o segundo
tempo tentando achar o gol na base do abafa. Alejandro Sabella adiantou a
marcação para o campo de ataque e deixou a Suíça acuada. Por outro
lado, os europeus mantinham seu trio ofensivo quase na linha do
meio-campo à espera de uma saída fatal de contragolpe.
Trocando passes na intermediária ofensiva, os hermanos passaram a
finalizar mais. Faltava, no entanto, quem ajudasse Messi na criação das
jogadas. Muito mal, Di María errava tudo que tentava. Na melhor jogada,
conseguiu driblar Rodriguéz, mas, todo torto, cruzou de letra para fora.
Com o jogador do Real Madrid mal pela direita, o jeito foi virar o jogo
para esquerda e tentar a sorte com Rojo.
Com espaço, o lateral manteve o ritmo da fase de grupos e conseguiu
boas jogadas. Primeiro, chutou forte, cruzado, e parou em Benaglio.
Pouco depois, cruzou na medida para Higuaín cabecear com perigo. O
goleiro da Suíça mais uma vez apareceu bem. O segundo tempo já tinha 22
minutos quando Messi, enfim, também arriscou. Da entrada da área,
dominou no peito e emendou bonito com perigo.
Cansada, a Suíça perdeu o contra-ataque e praticamente se limitava a
segurar a pressão argentina. Aos 30 minutos do segundo tempo, os
hermanos chegaram a 15 finalizações, triplicando a marca do primeiro
tempo. Benaglio, por sua vez, se transformava no nome do jogo. Em boa
jogada individual, Messi quase tirou seu coelho da cartola. O craque
recebeu na entrada da área, limpou dois e chutou forte. O goleiro fez
grande defesa no reflexo. Sabella ainda tentou botar sangue novo, trocou
Lavezzi por Palacio, mas não teve jeito, ninguém conseguiu evitar a
prorrogação.
Di María acorda e decide. Há vida para Argentina
Exaustos fisicamente, Argentina e Suíça começaram a prorrogação como se
fosse uma contagem regressiva para os pênaltis. Nos minutos iniciais,
os argentinos até ensaiaram uma pressão na base da bola aérea. Garay e
Palacio obrigaram Benaglio a entrar em ação novamente, mas nada além
disso. Nada que sequer empolgasse a minoria de hermanos presente na
Arena Corinthians. Preocupados, eles silenciaram e ouviram a festa dos
brasileiros embalar os suíços.
Diante de uma Argentina sem forças para se manter no campo ofensivo, o
time de Ottmar Hitzfeld tinha a posse de bola e colocava o rival na
roda. Embalada por gritos de "olé!" das arquibancadas, a Suíça comandava
as ações, com direito e show de dribles da dupla Shaqiri e Mehmedi. A
firula, no entanto, não levava perigo ao gol de Romero.
A disputa por pênaltis parecia questão de tempo. Faltava fôlego,
faltava inspiração, faltava tempo, mas faltava também Angel Di María
aparecer. Faltava Angel Di María, o principal jogador na última
temporada europeia, dar sinal de vida. E ele disse: "Presente!". Pior em
campo por 105 minutos, o camisa 7 ligou o acelerador e jogou
praticamente sozinho. Corria de um lado para o outro. Chutou uma vez,
parou em Benaglio. Chutou a segunda, parou em Benaglio. Na terceira, não
teve jeito.
Aos 13 minutos da prorrogação, Palacio aproveitou raro vacilo suíço na
saída de bola e acionou Messi. O capitão conduziu, puxou a marcação
adversária e abriu espaço para Di María. O passe saiu com açúcar. A
finalização perfeita, colocada, no cantinho. Di María está vivo. A
Argentina segue viva. E ainda com sofrimento de uma bola na trave e uma
falta na entrada da áera no último lance, aos 19 do segundo tempo da
prorrogação. Segue a Copa para os hermanos. Acaba para os bravos suíços.
Dzemaili acerta uma bola na trave nos últimos minutos de jogo (Foto: Reuters)
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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