Atacante volta a marcar depois de 83
dias, e país brigará por vaga na final após 24 anos. Belgas tentam, mas
param em rival perfeito na defesa
A CRÔNICA
por
Cahê Mota
Não teve gol de Messi em Courtois. Não teve sequer uma boa atuação do
craque. Não teve futebol bonito. Mas quem se importa com isso na
Argentina? Vinte e quatro anos depois, os hermanos estão em uma
semifinal de Mundial. Esse jejum ficou para trás. E graças ao fim de
outro. Depois de 83 dias, Higuaín marcou um gol. E bastou para que os
argentinos fizessem 1 a 0 na Bélgica, neste sábado, no Estádio Nacional,
em Brasília, pelas quartas de final da Copa do Mundo.
Assim que o árbitro apitou o fim do jogo, a festa foi de título no
gramado. A série de frustrações em Copas incomodava - e muito. Para
vencer, a Argentina nem precisou fazer tanto. Com um time extremamente
competitivo, fez seu gol logo aos oito minutos e sentou em cima da
vantagem. Defendeu como nunca neste Mundial. Zabaleta, Garay e
Demichelis fizaram uma partida impecável, e não houve Hazard, De Bruyne
ou Lukaku que sequer ameaçassem o gol de Romero. A Argentina, até então
refém de Messi, mostrou que pode ser forte também no coletivo.
O triunfo desempatou ainda o confronto com a Bélgica em Mundias: 2 a 1.
A outra vitória aconteceu há 28 anos, no México-1986, e a campanha
terminou com título. Para repetir a história, faltam dois degraus.
Agora, o compromisso é em São Paulo, quarta-feira, na Arena Corinthians,
diante de Holanda ou Costa Rica.
A classificação argentina acabou com outro jejum. É a primeira vez
desde 1970 que dois sul-americanos chegam à semifinal. Naquela ocasião, o
Brasil bateu o Uruguai por 3 a 1.
Higuaín comemora seu primeiro gol neste Mundial (Foto: Agência Reuters)
Higuaín desencanta, e Argentina comanda o jogo
Um primeiro tempo em que, com exceção da lesão de Di María, tudo deu
certo para a Argentina. Passe errado que vira assistência, um rival
excessivamente respeitoso, um Messi no padrão Messi e um gol logo cedo.
Quando a bola estufou a rede de Courtois em bonito chute de Higuaín, aos
oito minutos, a partida ficou à feição dos hermanos. Não somente pela
vantagem, mas também por, enfim, conseguirem administrar a partida e não
terem que atacar desesperados diante de uma forte retranca, como
aconteceu nos quatro primeiros jogos.
Desde o início, o que se viu já era uma Argentina mais bem arrumada em
campo. Com Biglia na vaga de Gago, os espaços no meio-campo foram mais
bem ocupados, Mascherano não ficava sobrecarregado, e Messi e Di María
podiam se soltar sem tanta preocupação defensiva. A Bélgica até que
começou a partida bem também, mas foi castigada pelo excesso de
confiança de seu capitão.
Kompany tentou sair jogando pelo meio, avançou até o grande circulo,
mas esticou demais a bola e foi desarmado por Biglia. Messi ficou com a
sobra e, marcado por três, fez o jogo girar. Di María tentou servir
Zabaleta na direita, mas a bola desviou em Vertonghen e sobrou para
Higuaín. Pipita emendou bonito e marcou seu primeiro gol no Mundial.
Fim de um jejum que já durava 83 dias.
Com forte poder ofensivo, a Bélgica até tentou sair para o jogo, mas
parecia tímida, parecia respeitar demais a Argentina. Apagado, Hazard
pouco incomodou, e a maioria das chegadas ao ataque acontecia com bolas
aéreas. Messi, por sua vez, usava bem os espaços e descolou lindo passe
para Di María nas costas de Kompany. Angel dominou, chutou e foi travado
pelo zagueiro. Em seguida, caiu no chão. Último a se apresentar por
causa da final da Liga dos Campões e depois de tanto correr na
prorrogação com a Suíça, o corpo não aguentou, e a coxa virou problema.
Enzo Pérez entrou em seu lugar.
Sem seu principal parceiro, Messi lutava quase que sozinho para criar
no ataque. Os hermanos, no entanto, não tinham pressa e administraram a
vantagem até a descida para o intervalo. Na arquibancada, brasileiros e
argentinos duelavam no gogó, com direito até a gritos de apoio a Neymar.
Origi teve atuação apagada e goi anulado por Garay, um dos destaques argentinos (Foto: Getty Images)
Tempo passa, nada acontece. Vive a Argentina
No segundo tempo, o panorama da partida mudou pouco. A Bélgica se
mandou para o ataque, mas a Argentina se defendia como não tinha feito
nesta Copa ainda. Além da dupla de volantes marcadores, Demichelis
mostrava que a opção de colocá-lo na vaga de Fede Fernández havia sido
acertada. Diante de um meio-campo congestionado, os belgas apelavam para
jogadas pelas laterais. Vertonghen jogava muito bem e acertou
cruzamento na cabeça de Fellaini em lance de muito perigo.
A Argentina, por sua vez, seguia apostando no contragolpe. Messi não
aparecia muito, mas Higuaín fazia a função de levar o time para o
ataque. Primeiro, quase marcou em chute que desviou na zaga. Em seguida,
arrancou bonito, colocou a bola entre as pernas de Kompany e acertou o
travessão. Seria um golaço. Na arquibancada, a torcida gritava: "Olê,
olê, olê, olá! Pipa, Pipa!".
Com Hazard pouco criativo, Marc Wilmots trocou a linha de frente belga.
Entrou Lukaku, entrou Mertens, entrou Chadli. E nada acontecia além de
chuveirinho. Faltando dez minutos, Sabella decidiu defender a vantagem.
Trocou Higuaín por Fernando Gago, e a Argentina deixou o tempo passar.
Só com Messi e Palacio na frente, os hermanos tinham a bola, tocavam de
um lado para o outro e seguravam o placar.
No fim, Messi ainda teve chance de deixar sua marca e, enfim, superar
Courtois depois de sete jogos. Não conseguiu. Gigante, o goleiro levou a
melhor no mano a mano, já nos acréscimos. Mas não tem problema. A
badalada e promissora geração belga fez sua parte no Brasil, mas volta
para casa. Segue viva a Argentina.
Messi tenta, mas para em Courtois nos minutos finais do jogo no Mané Garrincha (Foto: Agência Reuters)
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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