João Suassuna, neto de Ariano, recita poemas do avô antes do sepultamento (Foto: Vitor Tavares / G1)
Após 16 horas de velório, o corpo do escritor, dramaturgo e poeta
Ariano Suassuna foi enterrado no Cemitério Morada da Paz, em Paulista,
no Grande Recife. O sepultamento foi precedido pela leitura de dois
poemas, a pedido da viúva, Zélia de Andrade Lima. Um dos netos do casal,
João Suassuna, recitou "Acahuan", que Ariano escreveu em homenagem a
seu pai, e "A mulher e o reino", feito para a esposa. Todos os parentes
acompanharam a leitura muito emocionados e Zélia foi amparada por eles.
O caixão chegou ao cemitério pouco antes das 17h, após ter desfilado em
carro aberto, em um veículo do Corpo de Bombeiros, fazendo o percurso
desde o Palácio do Campo das Princesas, local do velório. Ainda no
palácio, os netos de Ariano carregaram o caixão até o carro, ao mesmo
tempo em que os presentes aplaudiam e cantavam -- o frevo "Madeira que
cupim não rói" e o grito de guerra do Sport, time do coração do autor.
Um dos filhos de Ariano, o artista plástico Dantas Suassuna, acompanhou o
caixão do pai durante o trajeto. A cerimônia de sepultamento contou
ainda com salva de tiros, a execução instrumental da Ave Maria e da
Oração de São Francisco, e uma chuva de pétalas.
Dantas
Suassuna (de camisa azul) acompanha o caixão do pai no percurso entre o
velório e o cemitério (Foto: Kety Marinho / TV Globo)
Desde a noite de quarta-feira (23), até a tarde desta quinta, foi
grande o número de familiares, amigos e fãs que passaram pelo Palácio
das Princesas, durante o velório. O caixão esteve o tempo todo coberto
por bandeiras do Sport, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), de
Pernambuco e do Brasil.
A presidente da República, Dilma Rousseff, passou cerca de 40 minutos
no local, onde conversou com familiares do escritor e com políticos,
como o governador de Pernambuco, João Lyra Neto, e o candidato a
presidente pelo PSB, Eduardo Campos. Dilma deixou o local sem fazer
declaração pública. Também estiveram presentes o ministro dos Esportes,
Aldo Rebelo; os governadores Ricardo Coutinho (Paraíba) e Jaques Wagner
(Bahia); o senador Humberto Costa e o prefeito do Recife, Geraldo Julio.
Caixão com o corpo de Ariano Suassuna chegou ao cemitério pouco antes das 17h (Foto: Vitor Tavares / G1)
A missa de corpo presente foi celebrada pelo arcebispo de Olinda e
Recife, Dom Fernando Saburido, e acompanhada com muita emoção por
parentes, amigos e admiradores de Ariano Suassuna, no final da manhã . A
celebração durou cerca de uma hora e Saburido destacou que Ariano,
reconhecidamente espirituoso e assumido devoto de Nossa Senhora, era
conhecido por ser um homem de fé. Uma mensagem preparada pela
Arquidiocese especialmente para a ocasião foi lida. Em forma de poesia,
um excerto dizia: "A morte nunca é sina. É vida com outro nome". O texto
impresso foi entregue pelo arcebispo nas mãos da viúva, Zélia.
Ariano Suassuna
Escritor morreu aos 87 anos
Filha de Ariano Suassuna e atual secretária de Desenvolvimento Social e
Direitos Humanos do Recife, Ana Rita Suassuna se emocionou ao falar do
pai, ressaltando o grande homem que ele foi não somente nas artes, mas
também em casa. De acordo com ela, a felicidade com que o escritor
passou os últimos dias amenizou, de certa forma, o sofrimento dos
parentes. "Na última semana, ele fez duas aulas-espetáculo, uma no
Teatro Castro Alves, em Salvador, e outra em Garanhuns. E a satisfação
dele, quando chegou em casa, contando com alegria a festa que foram
essas duas aulas. Então, a Caetana [como Ariano chamava a morte] chegou,
mas ele está aqui presente com a gente", contou.
Para a filha mais velha de Ariano, Maria das Neves, o carinho
demonstrado pelas pessoas ao pai é o maior legado que ele deixa. "O
maior legado que fica é o carinho das pessoas têm por ele, não é nem
tanto a obra. Esse carinho está vindo de todo o Brasil, estamos
recebendo muitas mensagens", afirmou, agradecendo especialmente ao apoio
que as pessoas têm dado à mãe, Zélia.
Durante o velório, um admirador de Ariano cantou o frevo "Madeira que
cupim não rói", um dos preferidos do escritor, e chegou a arrancar
aplausos dos familiares que estavam presentes. Enrolado em uma bandeira
de Pernambuco e falando em voz alta, Jackson Nascimento lembrou a grande
presença do Sertão nas obras do mestre, destacando que o povo da região
sente muito orgulho de ser representado por um autor como ele. "O
mestre não morre, ele permanece", resumiu.
Presidente
Dilma Rousseff com o governador João Lyra Neto e a viúva, Zélia de
Andrade Lima; fã homenageia Ariano cantando frevo; os diretores Guel
Arraes (D) e Luiz Fernando Carvalho (Fotos: Vitor Tavares, Renan Holanda
e Katherine Coutinho / G1)
O cineasta e diretor de televisão carioca Luiz Fernando Carvalho foi se
despedir do escritor, de quem adaptou três obras para a televisão.
"Você perguntava sobre a diferença entre jagunço e capanga e vinha uma
aula sobre geografia, sobre música sertaneja, sobre geologia, sobre
canto. [Ariano] É um tesouro, é um cometa raro", lamentou.
O também cineasta e diretor de televisão Guel Arraes definiu Ariano
como um grande humanista. "Eu tive o privilégio de conhecê-lo. Em
diversas ocasiões, desde pequeno, no trabalho, convivi com ele. Ele é um
homem que viveu de acordo com as suas ideias, um homem simples, que
conversava com o povo, viveu sempre perto de suas origens e, assim, se
tornou universal".
Suassuna morreu na quarta (23), aos 87 anos. Ele estava internado na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Português, onde foi
submetido a uma cirurgia após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC)
do tipo hemorrágico, na segunda (21).
Em
março de 2010, Ariano Suassuna deu uma aula-espetáculo durante o
Festival de Teatro de Curitiba (Foto: Lenise Pinheiro / Folhapress)
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS
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