Por Fernanda Pompeu | Yahoo Mulher – qui, 27 de mar de 2014 13:39 BRT
Yahoo Brasil/Arquivo pessoal - Ana Lidia é professora e coordenadora dos intérpretes de língua brasileira de sinais
Até
os quatro anos, Ana Lidia era uma garotinha parecida com a maioria das
garotinhas de quatro anos. Tagarelava e gostava de cantar. Então veio
uma pneumonia e a prescrição de antibióticos para cortar a febre. Mas
algo deu muito errado e Ana Lidia perdeu a audição. De uma hora para
outra, subitamente, o mundo ao seu redor ficou silencioso. "Foi um
choque para toda a família. Dá para imaginar o quanto foi doloroso para
os meus pais. A dificuldade acontece com toda a família que se depara
com uma criança com algum comprometimento. Na minha opinião, a família
primeiro tem que se aceitar e na sequência aceitar o filho", esclarece
Ana Lidia Bastos Thalhammer. Hoje, aos 58 anos, ela é professora de
intérpretes de Libras - a língua brasileira de sinais. Dá aulas no Centro Universitário Estácio Uniradial e na Faculdade Sumaré, em São Paulo.
Ana agrega: "Sinto a maior satisfação em mostrar que a deficiência auditiva não impede ninguém de desenvolver suas capacidades e ir além". É claro que para isso é preciso abrir oportunidades de educação e trabalho para cerca de quatro milhões e meio de brasileiros com déficit auditivo. Entre eles, mais de um milhão são surdos.
Superação
"Fui criada no oralismo, ou seja, uma surda capaz de falar se apoiando na leitura labial do interlocutor. Com nove anos, comecei a aprender a língua dos sinais, usada pelos surdos sinalizados. É evidente que meu universo de comunicação se expandiu", relata Ana Lidia. A Libras está cada vez mais forte no país. Foi reconhecida oficialmente pelo governo brasileiro em 2002. De lá para cá os avanços são significativos. Por exemplo, a regulamentação da profissão Tradutor / Interprete de Libras. Mas o maior crédito para as conquistas deve ser dado às iniciativas de associações de surdos. Entre elas, a Editora Arara Azul, que trabalha vários temas relacionados aos surdos. "Eu uso artigos publicados pela Arara nas minhas aulas", diz Ana Lidia. Ela sabe o quanto o apoio e o estímulo são fundamentais para o desenvolvimento dos surdos. No seu caso, a grande inspiração foi a professora Júlia Engles, do Colégio Nossa Senhora Aparecida, no bairro de Moema. "Devo a ela minha fluência em Português. Ela puxou muito para me fazer ler e escrever com qualidade”. Os surdos, como os demais alunos, precisam ser exigidos para que seus talentos se revelem.
Construindo a vida
Ana Lidia é casada com o projetista mecânico Marco Antonio. Ela informa: "Meu companheiro é um surdo oralizado, sem domínio da Libras. Com ele tive duas filhas, Luciana e Diana. A primeira faleceu num acidente de carro aos 29 anos, no Peru. Ela era um ser iluminado que adorava viver em contato com a natureza e ajudar as pessoas. Diana, muito querida, é gerente em uma loja de grife e mãe da linda Isabella". Na vida profissional, Ana trabalha muito. Ensina com atenção e faz do próprio aperfeiçoamento um exercício continuado. É uma batalhadora pela boa inclusão educacional das crianças surdas. Segundo ela: "O que funciona mesmo é a parceria família-escola. Na família, deve ter amor, compreensão, paciência e incentivo. Já na escola, as regras devem ser mais rígidas para que a criança aprenda de fato. A escola deve estar preparada para ofertar os recursos visuais que possibilitem à criança surda a apreensão dos conceitos, o estímulo à leitura e a prática da escrita".
Sociedade deficiente
Para Ana Lidia, a sociedade melhorou quanto ao olhar e o respeito às pessoas portadoras de deficiência. Mas todavia está longe da qualidade. Poder público, iniciativa privada, indivíduos ainda têm muita lição de casa para fazer. Ela observa: "Ando de ônibus e presencio a impaciência das pessoas quando um cadeirante tenta embarcar. Também faltam rampas de acesso, livros em braile, programas de TV legendados etc.". Ela toma fôlego e continua: "Na verdade a deficiência não existe, porque todos somos perfeitos na parte moral. A sociedade inventou e rotulou a deficiência. Quero dizer, existem sim tremendas deficiências. São elas, o preconceito, a falta de solidariedade, a insuficiência de amor".
- Ana, o que é o silêncio para você?
- É não escutar nada, mas ao mesmo tempo ouvir tudo. Quando desligo meu aparelho auditivo, saio do mundo sonoro e me sinto calma. Pois, às vezes, as pessoas falam palavras e palavras que não dizem nada.
Ana agrega: "Sinto a maior satisfação em mostrar que a deficiência auditiva não impede ninguém de desenvolver suas capacidades e ir além". É claro que para isso é preciso abrir oportunidades de educação e trabalho para cerca de quatro milhões e meio de brasileiros com déficit auditivo. Entre eles, mais de um milhão são surdos.
Superação
"Fui criada no oralismo, ou seja, uma surda capaz de falar se apoiando na leitura labial do interlocutor. Com nove anos, comecei a aprender a língua dos sinais, usada pelos surdos sinalizados. É evidente que meu universo de comunicação se expandiu", relata Ana Lidia. A Libras está cada vez mais forte no país. Foi reconhecida oficialmente pelo governo brasileiro em 2002. De lá para cá os avanços são significativos. Por exemplo, a regulamentação da profissão Tradutor / Interprete de Libras. Mas o maior crédito para as conquistas deve ser dado às iniciativas de associações de surdos. Entre elas, a Editora Arara Azul, que trabalha vários temas relacionados aos surdos. "Eu uso artigos publicados pela Arara nas minhas aulas", diz Ana Lidia. Ela sabe o quanto o apoio e o estímulo são fundamentais para o desenvolvimento dos surdos. No seu caso, a grande inspiração foi a professora Júlia Engles, do Colégio Nossa Senhora Aparecida, no bairro de Moema. "Devo a ela minha fluência em Português. Ela puxou muito para me fazer ler e escrever com qualidade”. Os surdos, como os demais alunos, precisam ser exigidos para que seus talentos se revelem.
Construindo a vida
Ana Lidia é casada com o projetista mecânico Marco Antonio. Ela informa: "Meu companheiro é um surdo oralizado, sem domínio da Libras. Com ele tive duas filhas, Luciana e Diana. A primeira faleceu num acidente de carro aos 29 anos, no Peru. Ela era um ser iluminado que adorava viver em contato com a natureza e ajudar as pessoas. Diana, muito querida, é gerente em uma loja de grife e mãe da linda Isabella". Na vida profissional, Ana trabalha muito. Ensina com atenção e faz do próprio aperfeiçoamento um exercício continuado. É uma batalhadora pela boa inclusão educacional das crianças surdas. Segundo ela: "O que funciona mesmo é a parceria família-escola. Na família, deve ter amor, compreensão, paciência e incentivo. Já na escola, as regras devem ser mais rígidas para que a criança aprenda de fato. A escola deve estar preparada para ofertar os recursos visuais que possibilitem à criança surda a apreensão dos conceitos, o estímulo à leitura e a prática da escrita".
Sociedade deficiente
Para Ana Lidia, a sociedade melhorou quanto ao olhar e o respeito às pessoas portadoras de deficiência. Mas todavia está longe da qualidade. Poder público, iniciativa privada, indivíduos ainda têm muita lição de casa para fazer. Ela observa: "Ando de ônibus e presencio a impaciência das pessoas quando um cadeirante tenta embarcar. Também faltam rampas de acesso, livros em braile, programas de TV legendados etc.". Ela toma fôlego e continua: "Na verdade a deficiência não existe, porque todos somos perfeitos na parte moral. A sociedade inventou e rotulou a deficiência. Quero dizer, existem sim tremendas deficiências. São elas, o preconceito, a falta de solidariedade, a insuficiência de amor".
- Ana, o que é o silêncio para você?
- É não escutar nada, mas ao mesmo tempo ouvir tudo. Quando desligo meu aparelho auditivo, saio do mundo sonoro e me sinto calma. Pois, às vezes, as pessoas falam palavras e palavras que não dizem nada.
FONTE: YAHOO BRASIL NOTÍCIAS
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