Africanos superam nervosismo inicial e,
apoiados por torcedores fanáticos e barulhentos, empatam por 1 a 1.
Alemanha será o desafio na próxima fase
A CRÔNICA
por
Felipe Schmidt
Sonhar alto não é fácil. Aumenta a pressão, convida o nervosismo,
atrapalha a cabeça. Mas realizá-lo é recompensador. Tudo isso a Argélia
viveu nesta quinta-feira, na Arena da Baixada, em Curitiba, ao
conseguir, pela primeira vez em sua história, a classificação para as
oitavas de final da Copa do Mundo. Os jogadores argelinos, pouco
acostumados a decisões e grandes feitos, sofreram, esbarraram em seus
próprios medos, mas superaram tudo e, apoiados por uma torcida fanática,
empataram por 1 a 1 diante da Rússia, tornando-se heróis nacionais. A festa nas arquibancadas foi emocionante, mas sinalizadores, que são proibidos, foram vistos no estádio.
O principal deles é Islam Slimani. Veio da cabeça do atacante o gol da
classificação da Argélia, no segundo tempo, depois de Kokorin abrir o
placar na etapa inicial e incutir ainda mais tensão aos norte-africanos.
Mas o goleiro M’Bolhi e os incansáveis Feghouli e Brahimi também têm
considerável parcela no mérito das Raposas do Deserto, que ficaram em
segundo lugar no Grupo H, com quatro pontos, atrás da líder Bélgica, que
venceu a Coreia do Sul por 1 a 0 e terminou a primeira fase com 100% de
aproveitamento. À Rússia, eliminada, resta se preparar para 2018,
quando será a sede da Copa.
O sonho argelino terá um grande desafio para seguir vivo na próxima
fase. A equipe enfrenta a Alemanha na próxima segunda-feira, às 17h (de
Brasília), no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre. A Bélgica pega os
Estados Unidos na terça, no mesmo horário, na Arena Fonte Nova, em
Salvador. Além da Argélia, a Nigéria é a outra representante africana na
segunda fase do Mundial.
Slimani beija gramado ao fazer o gol de empate da Argélia diante da Rússia, em Curitiba (Foto: Reuters)
Experiência russa faz a diferença para vantagem parcial
A preocupação do técnico Valid Halilhodzic com o nervosismo de seus
jogadores numa partida tão decisiva foi justificada logo nos primeiros
minutos. O peso do jogo logo se fez notar nas pernas dos argelinos, que
corriam sem muito rumo, erravam muitos passes e se embolavam entre eles
mesmos. Mais experiente, a Rússia não demorou para aproveitar.
Aos cinco minutos, Kombarov desceu livre pela esquerda – seu marcador,
Feghouli, estava fora de campo, sendo atendido – e cruzou na cabeça de
Kokorin, que, livre entre os zagueiros, testou no ângulo, sem chance
para M’Bolhi: 1 a 0 Rússia.
A desvantagem foi um duro golpe para a Argélia. A tensão dos jogadores
aumentou, apesar dos esforços de Feghouli e Brahimi, e passou para a
área técnica, constantemente ignorada por Halilhodzic, desesperado para
dar instruções a seus pupilos. As Raposas do Deserto até tinham mais
posse de bola, mas forçavam os lances, davam chutões para a frente e
pouco perigo ofereciam à bem postada defesa russa. As melhores chances
foram em lances de bola parada, em duas cabeças de Slimani defendidas
por Akinfeev.
Se o rival estava atordoado, a Rússia tratou de manter a tranquilidade.
Saía sempre com a bola dominada da defesa, trocava passes no meio e
segurava o jogo. Sequer precisava criar espaços no ataque; bastava
esperar aqueles oferecidos pelos argelinos. Mas faltou ambição aos
comandados de Capello, que preferiram administrar a vantagem a
ampliá-la.
Kokorin vence goleiro M'Bolhi e sai para comemorar o 1 a 0 da Rússia no primeiro tempo (Foto: Getty Images)
Pelo alto, Slimani resolve e classifica a Argélia
A incapacidade em aumentar a diferença no placar fez a Rússia pagar
caro. Logo no primeiro minuto do segundo tempo, com a Argélia ainda
atordoada, Samedov invadiu a área e, livre, chutou em cima de M’Bolhi.
Os comandados de Capello não teriam outra chance tão boa na partida.
Curiosamente, a Argélia voltou tão ou mais nervosa do que na etapa
inicial. Os espaços deixados eram ainda maiores, e a correria ofensiva,
improdutiva. Mas, aos poucos, as Raposas do Deserto descobriram uma rota
confiável para ameaçar Akinfeev: bola na área para Slimani cabecear.
Banco argelino vai à loucura com a classificação para a sequência do Mundial (Foto: Getty Images)
Forte fisicamente, o artilheiro argelino deu trabalho a Berezutskiy e
Ignachevich, mas só conseguiu concluir a gol aos 14 minutos, em sua
terceira tentativa. Foi o bastante, após cobrança de falta de Brahimi
pela esquerda, o camisa 13 subiu mais que a zaga russa, aproveitou a
saída hesitante de Akinfeev e mandou para o fundo das redes, empatando o
jogo.
Assim, nos poucos segundos que significaram a trajetória da bola para o
gol, o nervosismo na partida trocou de lado. Com a torcida argelina em
êxtase, gritando muito alto, o time norte-africano melhorou. Recuou,
compactou as linhas de marcação e passou a segurar o resultado. A
Rússia, por sua vez, foi à frente, mas esbarrou na pressa e em M’Bolhi,
autor de boas defesas para garantir a vaga nas oitavas de final.
Argélia leva a bandeira na comemoração pela inédita classificação para as oitavas de final (Foto: Reuters)
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBBO
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