O ministro do Supremo descarta entrar para a política no curto prazo. O que esperar do futuro dele e do STF?
DIEGO ESCOSTEGUY
07/03/2014 21h50
- Atualizado em
07/03/2014 22h00
Kindle
>> Trecho de reportagem da edição de ÉPOCA desta semana:
Trezentos metros separam o Palácio do Planalto da presidência do Supremo Tribunal Federal, ocupado hoje por Joaquim Benedito Barbosa Gomes,
o herói do mensalão – o homem que muitos brasileiros gostariam de ver
no outro lado da Praça dos Três Poderes. Seria uma travessia inédita na
democracia brasileira. Do amplo gabinete espelhado da presidência do
Supremo, no alto do Tribunal, os 300 metros se encolhem. É a ilusão que o
poder em Brasília confere. Parece bastar um pulinho. Mas requer um
salto suicida. Joaquim sabe disso. Por isso, resolveu: não será
candidato a presidente da República em 2014. Numa tarde recente e
chuvosa em Brasília, Joaquim recebeu, naquele mesmo gabinete, mais um
curioso em saber, afinal, quais são seus planos para 2014. Joaquim não
olhava a vista. Não tinha interesse. Olhava para os livros – como sempre
fez. O interlocutor observou que Joaquim não teria aptidão para entrar
na política, ainda mais depois de conhecer, no processo do mensalão, as
sujas entranhas dos partidos brasileiros. Mesmo que entrasse depois.
Mesmo que num cargo menor – se a Presidência está a 300 metros, o
Congresso está a apenas 100.
“Acho difícil”, afirmou Joaquim. “Não me vejo fazendo isso (entrando na política algum dia).
O jogo da política é muito pesado, muito sujo. Estou só assistindo a
essa movimentação.” E deu um sorriso malicioso, como quem quer fazer os
adversários sofrer – leia-se, a turma do PT que o esculhamba
diuturnamente – com a perspectiva de ter de enfrentá-lo nas eleições.
“Deixem falar… Deixa falar… Não serei candidato a presidente. Realmente
eu não quero”, disse. “É lançar-se, expor-se, a um apedrejamento.”
O apedrejamento a que ele se refere é diferente das pauladas que tomou à
frente do mensalão. Joaquim sabe disso. “Em 11 anos aqui, você aprende.
Adquire uma casca dura. Eu não tinha essa casca dura até há uns seis
anos. Isso vem com o tempo.” Embora Joaquim discorde que suas dores
crônicas nas costas e nos quadris tenham relação com os rigores do
mensalão, é unanimidade entre seus amigos que o processo lhe custou
muito. As dores incomodam. E devem ser o principal fator que definirá a
provável aposentadoria precoce do Supremo, em novembro deste ano.
Joaquim pretende se aposentar quando deixar a presidência da Corte.
Joaquim se incomoda também com o assédio de partidos como PV e PSB.
Nunca recebeu ninguém para conversar – nem autorizou que alguém falasse
em nome dele. “Ninguém veio diretamente falar comigo. Fui ao Congresso,
ouvi um zum-zum-zum. Está cheio de emissários que querem chegar”, disse
ele a um amigo. “Não recebo ninguém aqui. Em primeiro lugar, acho que
não seria apropriado eu, como presidente do Supremo, sair por aí fazendo
negociações políticas. No dia em que sair daqui, estarei livre para
fazer isso. Enquanto eu estiver aqui, não. Em segundo lugar, não dou nem
nunca dei espaço para esses donos de partido ficarem… não, nunca. São
abordagens indiretas. A maior parte do que sei é pela imprensa.”
Num momento em que o Supremo está dividido pelos traumas do mensalão,
existe apenas uma unanimidade entre todos os ministros da Corte – uma
unanimidade que se estende à Procuradoria-Geral da República e aos
amigos de Joaquim. Caso, por alguma razão insondável, Joaquim mude de
ideia e resolva entrar na política, será um desastre para ele, para o
Supremo e para a legitimidade do julgamento do mensalão. Mas os
ministros mais próximos dele, assim como todos os seus poucos amigos de
confiança, têm certeza de que ele diz a verdade quando garante que não
dará o salto de 300 metros. Nem o de 100.
FONTE: REVISTA ÉPOCA
Nenhum comentário:
Postar um comentário