Santo António de Lisboa
Santo António de Lisboa | |
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Santo António com o Menino Jesus em pintura de Stephan Kessler | |
Frade Franciscano e Doutor da Igreja (Doctor Evangelicus) |
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Nascimento | 15 de Agosto de 1191 em Lisboa, Portugal |
Morte | 13 de Junho de 1231 (39 anos) em Pádua, Itália |
Veneração por | Igreja Católica |
Beatificação | 1232, Roma por Papa Gregório IX |
Canonização | 30 de Maio de 1232, Catedral de Espoleto por Papa Gregório IX |
Principal templo | Igreja de Santo António de Lisboa, Lisboa, Portugal e Basílica de Santo António de Pádua, Pádua, Itália |
Festa litúrgica | 13 de Junho |
Atribuições | livro, pão, Menino Jesus e lírio |
Padroeiro | Lisboa, Pádua, pobres, mulheres grávidas, casais, pessoas que desejam encontrar objectos perdidos, oprimidos, entre outros |
Portal dos Santos |
Santo António (português europeu) ou Antônio (português brasileiro) de Lisboa, também conhecido como Santo António de Pádua1 , OFM (Lisboa, 15 de Agosto de 1191-1195 ? — Pádua, 13 de Junho de 1231), de sobrenome incerto mas batizado como Fernando, foi um Doutor da Igreja que viveu na viragem dos séculos XII e XIII2 .
Primeiramente foi frade agostiniano,Convento de São Vicente de Fora, em Lisboa, indo posteriormente para o Convento de Santa Cruz, em Coimbra, onde aprofundou os seus estudos religiosos através da leitura da Bíblia e da literatura patrística, científica e clássica. Tornou-se em 1220 e viajou muito, vivendo inicialmente em Portugal, depois na Itália e na França. No ano de 1221 passou a fazer parte do Capítulo Geral da Ordem de Assis, a convite do próprio Francisco, o fundador, que o convidou também a pregar contra os albigenses em França. Foi transferido depois para Bolonha e de seguida para Pádua, onde morreu aos 36 (ou 40) anos.
A sua fama de santidade levou-o a ser canonizado pela Igreja Católica pouco depois de falecer, distinguindo-se como teólogo, místico, asceta e sobretudo como notável orador e grande taumaturgo.
Santo António de Lisboa é também tido como um dos intelectuais mais
notáveis de Portugal do período pré-universitário. Tinha grande cultura,
documentada pela coletânea de sermões escritos que deixou, onde fica
evidente que estava familiarizado tanto com a literatura religiosa como
com diversos aspetos das ciências profanas, referenciando-se em
autoridades clássicas como Plínio, o Velho, Cícero, Séneca, Boécio, Galeno e Aristóteles,
entre muitas outras. O seu grande saber tornou-o uma das mais
respeitadas figuras da Igreja Católica do seu tempo. Lecionou em
universidades italianas e francesas e foi o primeiro Doutor da Igreja
franciscano. São Boaventura
disse que ele possuía a ciência dos anjos. Hoje é visto como um dos
grandes santos do Catolicismo, recebendo larga veneração e sendo o
centro de rico folclore.
O contexto histórico
Santo António de Lisboa, OFM viveu na primeira metade do século XIII, em plena Idade Média. Desenvolviam-se as cidades extramuros (os burgos) e uma nova classe social de artesãos, mercadores, banqueiros, notários e médicos ascendia na sociedade e no poder: a burguesia.
Na Europa formavam-se as nacionalidades sob a égide do Sacro-Império e os exércitos dos anglos, francos e germanos, dominados pelo espírito da cruzada, combatiam os turcos muçulmanos no Oriente (na Terra Santa) e os berberes muçulmanos no Ocidente (na Península Ibérica).
Em Portugal, três reis sucederam-se no trono: primeiro Sancho I, filho de D. Afonso Henriques, empenhado em alargar o território e proceder ao povoamento do país que surgira sob o governo do seu pai; depois Afonso II neto de D. Afonso Henriques,
que se envolveu em lutas civis contra as suas irmãs, o que motivou a
perda dos territórios já conquistados aos mouros a sul do Tejo, e finalmente Sancho II, filho deste último, grande conquistador, que se envolveu em questões com a Igreja Católica e com o papado e foi excomungado e deposto pelo Papa Inocêncio IV a favor de seu irmão Afonso III, conde de Bolonha.
Biografia
Primeiros anos
Santo António nasceu em Lisboa em data incerta, numa casa, assim se pensa, próxima da Sé,
às portas da cidade, no local onde posteriormente se ergueu a igreja
sob sua invocação. A tradição indica 15 de agosto de 1195, mas não há
documento fidedigno que confirme esta data. Também foi proposto o ano de
1191, mas, segundo um seu biógrafo, o padre Fernando Lopes, as
contradições em sua cronologia só se resolveriam se ele tivesse nascido
em torno de 1188. Tampouco se sabe com certeza quem foram seus pais.
Nenhuma das biografias primitivas os citam, e somente no século XIV, a
partir de tradições orais, é que se começou a atribuir ao pai o nome de
Martim ou Martinho de Bulhões, e à mãe, o de Maria Teresa Taveira.2 4 5
Fixando-se esses nomes na memória popular, e com a crescente fama do
santo, não custou a biógrafos tardios atribuírem também aos seus pais
uma dignidade superior. Do pai foi dito ser descendente do celebrado Godofredo de Bulhões, comandante da I Cruzada, e da mãe, que descendia de Fruela I, rei de Astúrias,
mas tal parentesco nunca pôde ser comprovado. A forma de seu nome de
batismo é igualmente obscura, pode ter sido Fernando Martins ou Fernando
de Bulhões.
Fez os primeiros estudos na Igreja de Santa Maria Maior (hoje Sé de Lisboa), sob a direção dos cónegos da Ordem dos Regrantes de Santo Agostinho. Como era a prática da ordem, deve ter recebido instrução no currículo das artes liberais do trivium e do quadrivium, o que certamente plasmou seu caráter intelectual. Ingressando ainda um adolescente como noviço da mesma Ordem, no Mosteiro de São Vicente de Fora,
iniciou os estudos para sua formação religiosa. A biblioteca de São
Vicente de Fora era afamada pela sua rica coleção de manuscritos sobre
as ciências naturais, em especial a medicina, o que pode explicar as constantes referências científicas em seus sermões.
Poucos anos depois pediu permissão para ser transferido para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a fim de aperfeiçoar sua formação e evitar distrações profanas, já que era constantemente visitado por amigos e parentes. Coimbra era na época o centro intelectual de Portugal, e ali se deve ter envolvido profundamente no estudo das Escrituras e nos textos dos Padres da Igreja. Nesta época entrou em contato com os primeiros missionários franciscanos, chegados em Portugal em 1217, e que estavam a caminho do Marrocos para evangelizar os mouros. Sua pregação do Evangelho
no espírito de simplicidade, idealismo e fraternidade franciscana, e
sua determinação missionária, devem ter tocado o sentimento de Fernando.
Entretanto, uma impressão ainda mais forte ocorreu quando os corpos
desses frades, mortos em sua missão, voltaram a Coimbra, onde foram
honrados como mártires.
Autorizado a juntar-se a outros franciscanos que tinham um eremitério nos Olivais, sob a invocação de Santo António do Deserto, mudou seu nome para António e iniciou sua própria missão em busca do martírio.
A sua missão
Por essa altura, decidiu deslocar-se ele também a Marrocos, mas, lá
chegando, foi acometido por grave doença, sendo persuadido a retornar.
Fê-lo desalentado, já que não havia proferido um único sermão, não
convertera nenhum mouro, nem alcançara a glória do martírio pela fé. No
regresso, uma forte tempestade arrastou o barco para as costas da Sicília, onde encontrou antigos companheiros. Ali se quedou até a primavera de 1221, dirigindo-se com eles então para Assis a fim de participarem do Capítulo da Ordem - o último que seria feito com a presença do fundador11 . Em Assis encontrou-se com São Francisco de Assis
e os seus primeiros seguidores, um evento de grande importância em sua
carreira. Sendo designado para um eremitério em Montepaolo, na província
da Romagna, ali passou cerca de quinze meses em intensas meditações e árduas disciplinas.
Pouco depois aconteceu uma ordenação de frades em Forlì,
quando deixou o isolamento e para lá se dirigiu. Até então os
franciscanos não sabiam de sua sólida formação, mas faltando o pregador
para a cerimónia, e não havendo nenhum frade preparado para tal, o
provincial solicitou a António que falasse o que quer que o Espírito Santo o inspirasse. Protestou, mas obedeceu, e dissertando para os franciscanos e dominicanos
lá reunidos de forma fluente e admirável, para a surpresa de todos, foi
de imediato destinado pelo provincial à evangelização e difusão da
doutrina pela Lombardia. Entretanto, a prática franciscana desencorajava o estudo erudito, mas em novembro de 1223 o papa Honório III
sancionou a forma final da Regra da Ordem Franciscana, onde uma
formação mais aprimorada se tornou autorizada, desde que submissa ao
trabalho manual, à prece e à vida espiritual. Recebendo a aprovação para
a tarefa pastoral do próprio Francisco, fixou-se então em Bolonha, onde se dedicou ao ensino da teologia na universidade e à pregação. Deslocando-se em seguida para a França, ensinou nas universidades de Toulouse e Montpellier, passando também por Limoges.
Em 1226 assistiu ao Capítulo de Arles, e em outubro do mesmo ano,
após a morte de Francisco, seviu como enviado da Ordem ao papa Gregório IX,
para apresentar-lhe a Regra da Ordem. Em 1227 foi indicado provincial
da Romagna e passou os três anos seguintes pregando na região, incluindo
Pádua,
para audiências cada vez maiores. Nesse período colocou por escrito
diversos sermões. Em 1230 solicitou ao papa dispensa de suas funções
como provincial para dedicar-se à pregação, reservando algum tempo para a
contemplação e prece no mosteiro que havia fundado em Pádua. Sempre
trabalhando pelos necessitados, envolveu-se também em questões
políticas, a exemplo de sua viagem a Verona para pedir a libertação de prisioneiros guelfos feitos pelo tirano gibelino Ezzelino,
e em 1231 persuadiu a municipalidade de Pádua a elaborar uma lei que
impedia a prisão por dívidas se houvesse a possibilidade de compensação
de outras formas.
Pouco depois da Páscoa de 1231 sentiu-se mal, declarou-se hidropisia
e ele deixou Pádua para dirigir-se ao eremitério de Camposanpiero, nos
arredores da cidade. Seus companheiros ergueram-lhe uma cabana no alto
de uma árvore, onde permaneceu alguns dias. Percebendo que a morte
estava próxima, pediu para ser levado de volta a Pádua, mas apenas tendo
alcançado o convento das clarissas de Arcella,
subúrbio de Pádua, ali faleceu, em 13 de junho de 1231. As clarissas
reclamaram seu corpo, mas a multidão acabou sabendo de seu passamento,
tomou-o e o levou para ser sepultado na Igreja de Nossa Senhora. Sua
fama de santidade era tamanha que foi canonizado logo no ano seguinte, em 30 de maio, pelo papa Gregório IX. Os seus restos mortais repousam desde 1263 na Basílica de Santo António de Pádua,
construída em sua memória logo após sua canonização. Quando sua tumba
foi aberta para iniciar o processo de translado, sua língua foi
encontrada incorrupta, e São Boaventura,
presente no ato, disse que o milagre era prova de que sua pregação era
inspirada por Deus. E incorrupta está até hoje, em exposição na Capela
das Relíquias da Basílica. Foi proclamado Doutor da Igreja pelo papa Pio XII em 16 de janeiro de 1946 e é comemorado no dia 13 de junho.16
Sua pregação, seus escritos e a presença contemporânea de sua obra
Entre suas várias qualidades, chamou a atenção de seus contemporâneos
seu admirável dom como pregador. Muitas descrições de época referem o
fascínio que sua fala exercia sobre as multidões de pessoas simples e
também sobre clérigos doutos, e embora o efeito de sua oração a viva voz
não possa mais ser recuperado, seu estilo e os conteúdos que abordava
podem ser conhecidos em parte através dos 77 sermões que sobreviveram e
constam em sua obra publicada em edição crítica, Sermões Dominicais e Festivos, e que são considerados autênticos, conforme disse José Geraldo Freire. São textos eloquentes, persuasivos, cheios de zelo messiânico, sendo frequentes a defesa do pobre e a reprimenda do rico, e o combate às heresias de seu tempo, como as dos albigenses e valdenses, com uma eficácia tanta que lhe foi dado o apelido de malleus hereticorum (o martelo dos heréticos).
Embora a tradição atribua seu dom à inspiração divina, não é possível
deixar de considerar o importante papel que sua formação erudita
desempenhou neste aspecto de sua vida e obra. A análise das referências
que fez em seus escritos, junto com o levantamento das fontes literárias
presentes em seu tempo nas bibliotecas que frequentou, especialmente a
de Santa Cruz, atestam sem sombra para dúvidas que sua preparação
intelectual foi ampla e profunda. Além de um conhecimento detalhado da Bíblia, dos escritos dos Padres da Igreja e outros escritores cristãos, são encontradas citações de clássicos como Aristóteles, Cícero, Catão, Sócrates, Dioscórides, Donato, Eliano, Escribónio, Euquério de Lião, Festo Solino, Filão de Alexandria, Tibulo, Sérvio, Públio Siro, Juvenal, Plínio, o Velho, Varrão, Sêneca, Flávio Josefo, Horácio, Ovídio, Lucano e Terêncio. Seu conhecimento das ciências naturais ultrapassa em muito o currículo regular das artes liberais medievais, aprofundando-se em áreas como a medicina, a física, a história natural, a cosmografia, mineralogia, zoologia, botânica, astronomia e óptica.3 18 Nas palavras de José Antunes,
"Santo António de Lisboa, embora muito festejado e venerado como
santo pelo povo, é menos conhecido como um homem de cultura literária
invulgar e como um verdadeiro intelectual da Idade Média. Reveladora
dessa cultura ímpar, é a sua obra escrita, cheia de beleza e densidade
de pensamento, como nos testemunham os seus Sermões, autênticos
tesouros da Literatura e da História. Vasta, profunda, extraordinária, a
respeito da Sagrada Escritura. Ampla, variada e bem apropriada nas
transcrições dos Padres da Igreja e dos Autores Clássicos.
Impressionante, para o tempo, não apenas pelo conhecimento que revela
das ciências naturais e das humanidades, mas igualmente pelo erudito
discurso sobre noções jurídicas, como Poder, Direito e Justiça".
Naturalmente, era fiel à ortodoxia cristã. Apesar de sua extensa
cultura profana, considerava a Escritura sagrada a fonte da ciência
superior, da verdadeira ciência, da qual todas as outras eram meras
servas e simples coadjutoras no trabalho da Salvação. Por isso deu grande importância a uma boa exegese do texto sagrado, privilegiando a extração do seu sentido moral.
Nota-se ainda em sua obra alguns dos primeiros sinais de um progressivo
abandono do pensamento medieval, que apresentava o homem e o mundo como
desprezíveis e fontes do pecado, abrindo-se a uma apreciação mais
positiva da vida concreta e do relacionamento humano, entendendo o ser
humano como uma maravilhosa obra divina. Na análise de Pedro Calafate,
"Santo António não olvidará a excelência da contemplação, mas
sublinhará não obstante a circunstância terrena do homem como corpo e
alma, sem deixar de considerar que a abertura à exterioridade não
transforma o amor aos outros e às criaturas no apego à posse das coisas,
estando neste caso o culto da pobreza, nomeadamente as críticas severas
que dirigiu aos prelados e dignatários eclesiásticos, por se
comprazerem nos luxos do século. Tratando-se de uma espiritualidade que
não olvidou a dimensão prática e vivencial, equacionou também a relação
entre a ação e a contemplação no quadro da mística. Filha da vontade e
do amor, numa alienatio mentis que supera o plano estritamente
racional para que a alma, inteiramente conduzida pela graça, contemple
Deus como em espelho ou em enigma, a mística tampouco representará uma
renúncia à vida ativa, nem às exigências da vertente racional do homem,
porque a alma volta e regressa à vida ativa para a realizar com maior
perfeição, numa confluência entre o entender e o contemplar, o saber e a
sabedoria".
Contudo, é de dizer que na forma como chegaram, os ditos sermões são
antes um manual didático para os noviços do que transcrições de sermões
verdadeiramente proferidos. Foram produzidos para seus alunos, para
instruí-los na arte predicatória, a fim de que depois eles pudessem
converter com sucesso os pecadores e infiéis à fé cristã. Apesar disso,
eles possuem em seu conjunto pouca ordem sistemática.
Os sermões são ainda um precioso documento de época, muitas vezes
fazendo alusões às transformações sociais e económicas que ocorriam
durante aquele período, atestando o crescimento das cidades, o
florescimento das atividades artesanais e do comércio, o surgimento das
corporações de ofícios, as diferenças de classes. Além dos conteúdos
sacros, que ainda preservam seu caráter inspirador, tais alusões - onde
surge aguda crítica social na condenação da avareza, da usura, da
inveja, do egoísmo, da falta de ética na administração pública, dos
falsos moralistas e hipócritas, dos maus pastores de almas, do orgulho
dos eruditos, dos ricos ensimesmados em sua opulência que oprimem e
excluem os pobres do tecido social - são responsáveis pelo valor perene e
atual de seus escritos, sendo passíveis de imediata identificação com
muitas circunstâncias e contradições da vida contemporânea.
Tradição taumatúrgica e iconografia
- Certa feita, meditando à beira-mar sobre a frequente aparição da imagem do peixe nas Escrituras, os peixes teriam se reunido a seus pés para escutá-lo.
- Teria restaurado um campo de trigo maduro para colheita que fora estropiado por uma multidão que o seguia; teria protegido milagrosamente seus ouvintes da chuva que caía durante um sermão, e uma mulher impedida pelo marido de ir ouvi-lo pôde escutar suas palavras a quilómetros de distância.
- Quando em disputa com um herege albigense sobre a presença ou não do Deus vivo na hóstia consagrada, o herege, chamado Bonvillo, disse que se uma mula, tendo passado três dias sem comer, honrasse uma hóstia em detrimento de uma ração de aveia, ele acreditaria no santo. Segundo a história, assim que a mula foi liberta de seu cercado, faminta, desviou-se da ração e ajoelhou-se diante da hóstia que António lhe mostrava.
- Restaurou o pé amputado de um jovem.
- Soprou na boca de um noviço para expulsar as tentações que sofria, confirmando-o em sua vocação.
- Quando alguns hereges colocaram veneno em sua comida para verificar sua santidade, o santo fez o sinal da cruz sobre o alimento, comeu-o e nada sofreu, para o vexame dos seus tentadores.
- Outro milagre famoso trata-se da aparição do Menino Jesus ao santo durante uma de suas orações, uma cena multiplicada abundantemente em sua iconografia.
Também é bastante citado um milagre ocorrido durante sua pregação num consistório
diante do papa, inúmeros cardeais e clérigos, e gentes de várias
nações, quando, discorrendo com sutilíssimo discernimento sobre
intrincadas questões teológicas, cada um dos presentes teria ouvido a
pregação na sua própria língua materna.23 Na ocasião, diante de tão assombroso fenómeno, que parecia uma reedição do Pentecostes bíblico, o papa o teria chamado de "a arca do Testamento, o arsenal da Sagrada Escritura".
A sua representação iconográfica de longe mais frequente é a de um
jovem tonsurado envergando o hábito dos frades franciscanos, segurando o
Menino Jesus
sobre um livro ou entre os braços, a quem contempla com expressão
terna, e tendo uma cruz, ou um ramo de açucenas, na outra mão. Esses
atributos podem ser substituídos por um saco de pão, que distribui entre
pobres ou idosos.
Veneração
É considerado padroeiro dos amputados, dos animais, dos estéreis, dos
barqueiros, dos velhos, das grávidas, dos pescadores, agricultores,
viajantes e marinheiros; dos cavalos e burros; dos pobres e dos
oprimidos; é padroeiro de Portugal, e é invocado para achar-se coisas
perdidas, para conceber-se filhos, para evitar naufrágios, para
conseguir casamento.
A devoção popular o colocou entre os santos mais amados do Cristianismo, cercou-o de riquíssimo folclore
e lhe atribui até os dias de hoje inúmeros milagres e graças. Igrejas a
ele consagradas se multiplicam pelo mundo, tem vasta iconografia
erudita e popular, a bibliografia devocional que ele inspira é volumosa,
e em sua homenagem uma quantidade incontável de pessoas recebeu o nome
António, além de inúmeras cidades, bairros e outros logradouros
públicos, empresas e mesmo produtos comerciais em todo o mundo também
terem seu nome.26
Na tradição lusófona Santo António está acima de todos em prestígio.
Sua veneração foi levada de Portugal para o Brasil, onde enraizou rápido
e também dominou o coração do povo. Era tanta a familiaridade que o
santo inspirava, que passou a ser uma espécie de "propriedade privada"
de todos. Como relatou Grillot de Givry, "não há casa que o não venere
no seu oratório e não satisfeita ainda com isso, a comum devoção dos
fiéis, cada um quer ter só para si o seu Santo António". Estava em toda
parte: "nos nichos de pedra, pintado em azulejos, a guardar as casas, em
caixilhos de seda à cabeceira da cama a vigiar-nos o sono, nos
escapulários e bentinhos junto ao peito, a acautelar-nos os passos,
esculpido e pintado para preservar dos perigos, pintados nas caixas de
esmola, nos santuários e oratórios". Também era invocado pelos senhores
para recuperar escravos fugidos.
A mesma familiaridade criou práticas esdrúxulas no culto popular. Se
um pedido não era atendido, a imagem do santo podia ser submetida a
torturas e castigos. Deitavam-na de barriga para o chão e punham-lhe uma
pedra em cima; escondiam-na num poço escuro, retiravam-lhe o Menino
Jesus dos braços, ou arrancavam-lhe o resplendor. Acreditava-se que o
castigo acelerava a concessão da graça, e explicavam a violência dizendo
que em sua juventude o santo desejara morrer martirizado em nome da fé. Luminares do clero, como o padre Vieira, também de certa forma reforçavam essas crenças. Num sermão disse:
-
- "Não haveis de pedir a Santo António como aos outros, nem como quem pede graça e favor, senão como quem pede justiça. E assim haveis de pedir a Santo António: não só como a quem tem por ofício deparar tudo o perdido e demandado como a quem deve e está obrigado a o deparar. E senão dizei-me: por que atais e prendei esse santo, quando parece que tarde em vos deparar o que lhe pedis? Porque deparar o pedido em Santo António não só é graça, mas dívida. E assim como prendei a quem vos não paga o que vos deve, assim o prendeis a ele. Eu não me atrevo nem a aprovar esta violência, nem a condená-la de todo, pelo que tem de piedade".
É um dos santos honrados nas popularíssimas Festas Juninas
e diversos costumes folclóricos estão ligados ao santo. a título de
exemplo, no Brasil moças casadoiras retiram o Menino Jesus das estátuas e
só o devolvem quando arrumam casamento; uma prece especial, os
"responsos", são feitas para que ele ajude a encontrar objetos perdidos;
no dia de sua festa muitas igrejas distribuem um pão especialmente
abençoado, os "pãezinhos de Santo António", que deve ser guardado em uma
lata de mantimentos para que não falte alimento na casa.
Ele teve inclusive uma brilhante carreira militar póstuma. Inúmeras
cidades da Espanha, Portugal e Brasil lhe conferiram títulos militares,
condecorações, insígnias e outras honrarias, iniciando-se o curioso
hábito quando o regente Dom Pedro ordenou em 1668 que ele fosse recrutado e assentasse praça como soldado raso no II Regimento de Infantaria em Lagos,
sendo promovido sucessivamente a capitão e coronel. Com o posto de
tenente-coronel, sua imagem foi levada pelo XIX Regimento de Infantaria
em Cascais à frente dos combates da Guerra Peninsular, recebendo depois uma condecoração. D. João VI,
após o feliz desembarque no Brasil em sua fuga da invasão napoleónica, o
nomeou sargento-mor, promovendo-o depois a tenente-coronel. No Brasil
foi onde recebeu mais títulos, recebendo inclusive soldo em vários
locais até depois de proclamada a República. Em Igarassu foi nomeado oficialmente Protetor da Câmara de Vereadores.
Festividades
Portugal
Em Portugal, Santo António é muito venerado na cidade de Lisboa e o seu dia, 13 de Junho, é feriado municipal.
As festas em honra de Santo António começam logo na noite do dia 12. Todos os anos a cidade organiza as marchas populares, grande desfile alegórico que desce a Avenida da Liberdade (principal artéria da cidade), no qual competem os diferentes bairros.
Um grande fogo de artifício
costuma encerrar o desfile. Os rapazes compram um manjerico (planta
aromática) num pequeno vaso, para oferecer às namoradas, as quais trazem
bandeirinhas com uma quadra popular, por vezes brejeira ou jocosa. A
festa dura toda a noite e, um pouco por toda a cidade, há arraiais
populares, locais de animação engalanados onde se comem sardinhas assadas na brasa, febras de porco (fêveras), caldo verde (uma sopa feita com couve galega, cortada aos fiapos, o que lhe confere uma cor esverdeada) e se bebe vinho tinto. Ouve-se música e dança-se até de madrugada, sobretudo no antigo e muito típico Bairro de Alfama.
Santo António é o santo casamenteiro, por isso a Câmara Municipal de Lisboa costuma organizar, na Sé Patriarcal de Lisboa,
o casamento de jovens noivos de origem modesta, todos os anos no dia 13
de Junho. São conhecidos por 'noivos de Santo António', recebem ofertas
do município e também de diversas empresas, como forma de auxiliar a nova família.
Brasil
No Brasil, onde o santo tem muitos devotos, é também frequentemente reverenciado como Santo Antônio, o Casamenteiro. O arraial de Santo Antônio do Leite, no Estado de Minas Gerais, Brasil, tem em sua igreja uma imagem de Santo António de Lisboa, trazida de Portugal em finais do século XVII.
Em Barbalha, no interior do Ceará, o mês de junho é dedicado ao santo, que é padroeiro da cidade. Destaca-se o Pau da Bandeira,
cerimónia onde os devotos cortam uma árvore de grande porte e a
utilizam como mastro com uma bandeira de Santo António. A festividade
reúne milhares de pessoas.
No sincretismo religioso, Santo António é conhecido no Candomblé da Bahia como Ogum, o orixá da guerra.
O Santo é também padroeiro das cidades de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, de Patos de Minas, Rio Acima, Juiz de Fora e Governador Valadares no estado de Minas Gerais, e de Nova Iguaçu e Duque de Caxias no estado do Rio de Janeiro, e de Santo António de Jesus no estado da Bahia onde seu dia é feriado municipal.
Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, com uma vasta programação, a
festa para o Santo padroeiro é celebrada com missa diária, pastelada,
barracas com comidas típicas, quadrilha, noites temáticas, e shows. A
festa é tradicional e tem como principal atrativo o bolo de metro com
várias alianças, que é repartido e distribuído sempre no dia 13. O
pedaço do bolo é bem requisitado pelas mulheres solteiras que sonham com
um casamento próximo. Diz à tradição que aquela que achar uma aliança
no pedaço de bolo é a grande sortuda a subir ao altar com um noivo.
A cidade de Caieiras,
São Paulo, também tem como padroeiro o Santo, onde a Paróquia de Santo
Antônio realiza todos os anos a trezena e no dia 13 a missa e bênção do
pão. Outra tradição na cidade durante a festividade é o ato de 'socar' o
pau de Santo António, uma madeira que representa o mastro do Santo, a
fim de conseguirem alguma graça.
A cidade de Três Lagoas,
Mato Grosso do Sul, também tem como padroeiro o Santo, onde a Paróquia
de Santo Antônio realiza todos os anos a trezena e no dia 13 a missa e
bênção do pão.
Em Borba, no interior do Amazonas,
a Festa de Santo António é comemorada no período de 1 a 13 de junho e,
em 2009, comemoraram-se 253 anos de amor e fé. Romeiros de vários
estados e até do exterior marcam presença nos festejos todos os anos
para pedirem ou agradecerem pelas graças recebidas. O município possui a
Basílica de Santo António de Borba, que é a 1ª da América Latina e a 5ª do Mundo a possuir relíquias de Santo António.
Em Salvador, Bahia, o santo é reverenciado em quase todas as paróquias com a celebração da trezena, mas há duas igrejas com seu nome em que as festividades são mais intensas, quais sejam, Santo Antonio Além do Carmo, no centro histórico de Salvador e em Santo Antonio da Barra. Em Paratinga, Bahia,
conhecida também como Terra de Santo Antonio, no mês de junho se
realizam as Trezenas de Santo Antonio e em sua tradição, são treze
noites de festa. Sendo que em cada noite que antecede ao dia 13 de
junho, são realizadas as noites de acordo a uma parcela da população,
como a noite dos legionários, pescadores, vaqueiros (carreiros e
criadores), crianças, funcionários, negociantes, motoristas (ciclistas e
motoqueiros), músicos, lavradores, artistas, casadas, moças e rapazes.
Cada noite tem um responsável que faz a alvorada e a noite após a missa
seguem em procissão para a casa do mesmo encerrado a festividade daquela
reza com comidas e bebidas. A paróquia de Paratinga celebra esta
festividade a quase trezentos anos.
No Piauí, a maior festa religiosa da região, reverenciada ao Santo, acontece em Campo Maior.
Na Paraíba, no município de Fagundes,
há mais de um século a conhecida Pedra de Santo Antônio é visitada por
turistas e romeiros de todo o Brasil, no dia 13 de Junho, que é feriado
no município.
Em Santa Catarina, no município de Sombrio,
são celebradas as Trezenas durante treze dias antes do sábado que
antecede a festa, com bênção dos pães de Santo Antonio e feriado
municipal no dia 13 de Junho. A cidade é uma das poucas no Brasil a
possuir uma relíquia do santo, trazida de Pádua (Itália) por uma comitiva que incluiu festeiros de 2011, o prefeito municipal e o pároco.
Em São Paulo, há muitas igrejas em homenagem ao santo, e ao menos quatro catedrais, em Osasco, que guarda uma relíquia do santo, e Lins, Piracicaba, Americana, no interior do estado.
Igreja e Museu Antoniano em Lisboa
Situados perto da Sé Patriarcal de Lisboa, o Museu e a Igreja Antoniana em Lisboa são o centro da devoção ao santo lisboeta, em especial no dia que lhe é dedicado, 13 de Junho.
O Museu Antoniano é um museu monográfico dedicado à vida e veneração
do santo, exibindo, em exposição permanente, objectos litúrgicos,
gravuras, pinturas, cerâmicas e objectos de devoção que evocam a vida e o
culto ao santo.
O Museu fica anexo à Igreja, local onde, de acordo com a tradição,
nasceu o santo. Em conjunto, esses dois espaços constituem um dos mais
importantes locais de homenagem ao mesmo.
No ano de 1995 comemorou-se o 800.º aniversário do seu nascimento, com grandes celebrações por toda a cidade de Lisboa.
FONTE: WIKIPÉDIA, A ENCICLOPÉDIA LIVRE
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