Dilma Rousseff reuniu personalidades negras para sanção da lei de cotas (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
Entrou em vigor nesta terça-feira (10) a lei que reserva 20% das vagas
nos concursos públicos da União para candidatos negros. A lei foi
publicada no "Diário Oficial da União" desta terça, com efeito imediato e
vigência pelo prazo de 10 anos.
A presidente Dilma Rousseff
havia sancionado a lei na segunda-feira (9), no Palácio do Planalto, em
evento que contou com a presença de personalidades negras.
A reserva de vagas valerá para concursos destinados à administração
pública federal, a autarquias, fundações públicas, empresas públicas e
sociedades de economia mista controladas pela União, como Petrobras,
Correios, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.
O texto não estende as cotas ao Legislativo, Judiciário nem a órgãos
públicos estaduais ou municipais. O Senado, no entanto, decidiu
instituir cota de 20% para negros e pardos nos concursos públicos e
contratos de terceirização da Casa.
Autodeclaração
O texto da lei determina que, no ato de inscrição no concurso público, o candidato que queira concorrer pelo sistema de cotas deve se declarar de cor preta ou parda, de acordo com o quesito de cor e raça usado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O texto da lei determina que, no ato de inscrição no concurso público, o candidato que queira concorrer pelo sistema de cotas deve se declarar de cor preta ou parda, de acordo com o quesito de cor e raça usado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O candidato que se declarar negro concorrerá simultaneamente tanto às
vagas destinadas à ampla concorrência quanto às cotas. Se o interessado
for aprovado dentro do número de vagas oferecido para a ampla
concorrência, sua vaga não será computada para preencher a reserva das
cotas.
A nova regra prevê reserva somente em concursos públicos que ofereçam
três ou mais vagas e não se aplicará a certames cujos editais tenham
sido publicados antes da vigência da lei.
O texto também determina que os editais terão de informar de forma
"expressa" o total de vagas correspondentes à cota para cada cargo ou
emprego público oferecido.
Declaração falsa
A lei prevê que, caso constatado que a declaração de negro ou pardo seja falsa, o candidato será eliminado do concurso e, se já tiver sido nomeado, poderá ter sua admissão anulada e responder a um procedimento administrativo.
A lei prevê que, caso constatado que a declaração de negro ou pardo seja falsa, o candidato será eliminado do concurso e, se já tiver sido nomeado, poderá ter sua admissão anulada e responder a um procedimento administrativo.
Após a cerimônia de sanção, a ministra da Igualdade Racial, Luiza
Bairros, afirmou que não haverá comissão específica para apurar se a
declaração do candidato é falsa. Segundo ela, o governo trabalha com a
hipótese de que denúncias serão feitas por cidadãos e apuradas pelo
Ministério Público, como ocorre atualmente quando alguém denuncia uma
suposta declaração falsa de cota nas universidades.
Segundo a ministra, o governo estuda a elaboração de um parecer
jurídico que deverá servir de base para que as denúncias sejam apuradas
da mesma maneira. Luiza disse que a lei para concursos públicos está
embasada na aplicação da lei de cotas universitárias. "Os negros não
estão tomando o lugar dos brancos. O que nós estamos fazendo é seguindo o
entendimento que muitos especialistas, magistrados, inclusive nas
cortes superiores, têm no Brasil, de que, para você construir a
igualdade, você não pode tratar os desiguais da mesma forma.
Simplesmente é isso que está sendo feito", destacou a ministra.
Questionada sobre se há "contrassenso" por parte do governo federal ao
sancionar a lei e ter somente um dos 39 ministros de Estado negro – ela
própria –, Luiza afirmou que a lei poderá contribuir para ter mais
negros indicados a cargos do chamado "primeiro escalão". "Na medida em
que nós tenhamos uma presença maior de negros no serviço público, com um
conjunto de possibilidades, teremos a chance de ter prováveis indicados
para cargos mais altos, como secretários-executivos e ministros, mais
do que temos hoje."
Indicação ao STF
O diretor-executivo do movimento Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), Frei David Santos, revelou que, após a cerimônia, entregou à presidente Dilma uma lista com nove nomes de negros para substituir o atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, que se aposentará. Segundo Santos, uma indicação assim seria "coerente".
O diretor-executivo do movimento Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), Frei David Santos, revelou que, após a cerimônia, entregou à presidente Dilma uma lista com nove nomes de negros para substituir o atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, que se aposentará. Segundo Santos, uma indicação assim seria "coerente".
"Para subsidiar a presidente na escolha do substituto, estamos lhe
entregando uma primeira lista de candidatos negros, com notório saber
jurídico, à vaga no STF. (...) Para que a presidente seja coerente com
todo o esforço que tem apresentado em seu governo, incluindo a política
de cotas, ela tem de indicar um negro para o lugar do ministro Joaquim
Barbosa", disse.
'Contra a discriminação'
Durante a cerimônia de sanção no Planalto, da qual participaram líderes de movimentos negros, parlamentares, ministros e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Dilma afirmou que a lei representa uma vitória sobre a "luta travada contra a discriminação racial" no país.
Durante a cerimônia de sanção no Planalto, da qual participaram líderes de movimentos negros, parlamentares, ministros e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Dilma afirmou que a lei representa uma vitória sobre a "luta travada contra a discriminação racial" no país.
A presidente voltou a afirmar que a Copa do Mundo, que começa nesta
quinta-feira (12), representará a luta pela paz e contra o racismo. Ela
também comparou a lei que institui as cotas no serviço público a uma lei
semelhante para reserva de vagas nas universidades públicas. "Estou
certa de que podemos, em um curto espaço de tempo, fazer a mesma
avaliação positiva da lei de cotas no serviço público. As duas [leis de
cotas no serviço público e nas universidades] expressam escolhas
políticas inequívocas de um governo determinado a defender a igualdade
racial como um valor maior na nossa sociedade."
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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