Com apoio da torcida, guerreiros do
deserto saem na frente, mas levam gol em bola aérea e no contra-ataque
com reservas e brilho de Hazard
A CRÔNICA
por
Raphael Zarko
A zebra ameaçou sair do deserto e passear pelo Mineirão. A favorita
Bélgica, sensação nas eliminatórias, com nomes pomposos e uma geração
considerada a melhor da história de seu país, mostrou que a experiência
de estrear quase um time inteiro em Copa do Mundo, ainda mais com a
banca de grande aposta de muita gente e a euforia belga, não é um peso
simples de suportar. Durante boa parte da partida, eles correram atrás
dos guerreiros do deserto, que saíram na frente, marcaram duro, mas
sofreram a virada no fim. No jogo inaugural do grupo H da Copa, a
minoria belga festejou por último e conseguiu – com muito custo – calar
os argelinos. Os gols de Fellaini e Mertens, dois reservas, mantiveram a
esperança belga de pé. Feghouli, de pênalti, fez o gol dos argelinos,
mas também perdeu a bola que gerou o gol da virada.
Com um elenco recheado de destaques em grandes times da Europa, como o
paredão do Atlético de Madri, Courtois, o zagueiro Kompany, do
Manchester City, e o meia-atacante Hazard, do Chelsea, a Argélia
enfrentava um pulmão verde na arquibancada. Com muita festa e cantoria,
eles se apoiavam em alguns bons valores da equipe do técnico bósnio
Vahid Halilhodzic. O camisa 10 Feghouli e o meia-esquerda Mahrez deram
trabalho para a defesa e o meio de campo belga.
Mertens vibra muito com o gol da virada marcado na metade final do segundo tempo (Foto: Reuters)
Personalidade contra nervosismo
No ritmo de “one, two, three, viva, Algerie!”, os africanos fizeram jus
às palavras do seu treinador Vahid Halilhodzic. Antes da partida, o
técnico se mostrou quase ofendido com as perguntas sobre o decantado
favoritismo belga e até sobre uma derrota por dois gols de diferença. E
avisou: teria uma surpresa para cada tempo e tentaria neutralizar a
Bélgica de Wilmots.
No primeiro tempo, a novidade foi que a Argélia não esperou a Bélgica
em seu campo. Pelo contrário. Na esquerda, de onde saíram as principais
jogadas dos africanos, o atacante Mahrez e o lateral Ghoulam levaram
vantagem sobre De Bruyne e Alderweireld. Foi daquele lado, com
cruzamento de Ghoulam que os belgas foram surpreendidos. A Bélgica
conseguia desequilibrar a partida quando Feghouli recebeu cruzamento da
esquerda e foi agarrado acintosamente por Vertonghen. Pênalti, categoria
de Feghouli, 1 a 0 para a Argélia e muita festa na arquibancada do
Mineirão – que recebia mais argelinos, quase todos concentrados no mesmo
local do estádio.
A Bélgica bem que tentou ir para cima. Mas simplesmente não encontrou
espaços. Firmes, Halliche e o capitão Bouguerra tomavam conta de Lukaku,
que ficava isolado na frente e mal conseguia dominar a bola. Hazard,
quase sempre contra dois argelinos, só conseguiu levar vantagem no fim
da primeira etapa. Ele encontrou Chadli no meio da área, mas o jogador
do Tottenham chutou fraco, no meio do gol. Outra boa chance acabou
saindo da maneira que a Bélgica arriscou a maioria dos seus oito chutes
do primeiro tempo: em batidas de fora da área. Witsel chutou forte, mas
sem grande perigo para o goleiro M'Bolhi.
Feghouli marca de pênalti o gol da Argélia que abriu o placar no Mineirão, em Belo Horizonte (Foto: AFP)
Hazard luta sozinho
Hazard luta para armar o time (Foto: Getty Images)
Logo no início da segunda etapa, Hazard conseguiu boa arrancada pela
ponta direita. Com muita movimentação – e marcação cerrada -, ele era o
único que tentava algo diferente. Lukaku foi praticamente nulo em toda a
partida. Aos 12 minutos, ele deixou o campo para a entrada de Origi.
Chadli, também fraco, saiu para entrar Mertens. Os belgas tentavam se
animar e empurrar o time nas arquibancadas, mas os argelinos, dentro e
fora do campo, não deixavam que eles se animassem muito.
Feghouli pedalava e prendia bem a bola. E logo voltava direto para
marcar. O criticado sistema defensivo de Vahid se sobressaía e ainda
permitia que a Argélia tentasse administrar a partida, com toque de bola
no meio de campo. Os belgas pareciam perdidos. E a torcida argelina
começou a gritar “olé” e gritar “Viva, Argélia” a todo momento.
Virada com força do banco
A pressão belga começou a fazer mais efeito na metade final da partida.
Primeiro, Origi perdeu um gol incrível, em grande defesa de M'Bolhi.
Hazard pegava cada vez mais bolas frente aos marcados argelinos.
Mas o
caminho do empate foi mesmo por cima. O meia De Bruyne cruzou a bola na
área, Fellaini, que entrou no lugar de Dembélé, desviou de cabeça, a
bola bateu na trave e entrou: era o empate e o alívio dos belgas.
A festa mudaria de lado e inspiraria até mesmo uma improvisada e
desajeitada “Aquarela do Brasil”. O clássico nacional foi entoado pelos
belgas quando a Argélia foi traída pela arma com a qual buscava seu
segundo gol. Feghouli reclamou de falta, mas perdeu a bola no campo de
ataque. No contragolpe a bola chegou aos pés de Hazard. Com a calma que
faltou aos belgas no início do jogo, ele esperou Mertens passar e o
atacante do Napoli afundou M´Bolhi virando a partida. Atônitos, os
argelinos quase levaram outro gol, novamente na bola aérea, em cabeçada
de Witsel. A zebra – e a torcida argelina - finalmente estava
controlada. E a Bélgica evitava a decepção de uma geração jovem e que
mostra futebol para subir de degrau na elite do futebol mundial.
Fellaini comemora o seu gol de cabeça junto com a torcida (Foto: Reuters)
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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