Questão
em prova aplicada a alunos de escola da rede pública do DF que faz
referência à funkeira Valesca Popopuza (Foto: Reprodução)
A funkeira Valesca Popozuda voltou a se posicionar na manhã desta
quarta-feira (9) a respeito da questão de uma prova de filosofia da rede
pública do Distrito Federal que se referia a ela como "grande pensadora
contemporânea". A entrevista foi concedida ao "Encontro com Fátima
Bernardes".
"Eu acho que as pessoas tinham que se preocupar era com o salário dos
professores, com as escolas que não têm mesa, não têm cadeira, não têm
nem giz direito. Acho que a gente tem que cuidar da nossa educação, que
está precária. Com tanta coisa para estar se preocupando, as pessoas
querem gerar polêmica por isso", disse.
A pergunta foi elaborada pelo professor Antônio Kubitschek para 360
estudantes de 3º ano do Centro de Ensino Médio 03 de Taguatinga. No
enunciado número 11 da prova, o professor pedia que os estudantes
completem o trecho "se bater de frente", do hit "Beijinho no ombro". A resposta correta era a letra A, que traz "é só tiro, porrada e bomba". O homem dá aulas para as turmas de 2° e 3º anos.
Kubitscheck foi duramente criticado e ironizadoem redes sociais pela
questão. Mas, em entrevista ao G1, o professor defendeu a inclusão da
questão na prova e comentou as postagens que a funkeira fez em redes
sociais sobre o assunto. "Acho que a Valesca foi muito feliz ao levantar
as críticas contra o preconceito em relação ao funk e à ela, assim como
quanto aos problemas dos professores", disse.
A prova de múltipla escolha com 12 questões foi aplicada aos alunos do
3º ano na última sexta-feira. O tema da prova a “Construção dos valores e
moral da sociedade”. A prova foi feita por 360 alunos.
O professor disse que o tema foi discutido com os alunos. "Partiu da
discussão de sala de aula. Como se constrói um valor da sociedade?",
indagou. Ele disse que já esperava que a questão fosse render
reportagens e afirmou que gostaria de ver em que situações os
jornalistas vão à escola.
"As discussões foram válidas. O objetivo não era se a Valesca era ou
não uma grande pensadora. De acordo com alguns pensadores franceses,
todo aquele que consegue produzir um conceito é um pensador. Dentro
disso, sim, ela é."
O professor Antônio Kubitschek em sala do Centro de Ensino Médio 03 de Taguatinga (Foto: Raquel Morais/G1)
Ele também afirmou que o objetivo foi mesmo provocar. "Se trouxesse
Chico Buarque, a prova seria considerada mais intelectual do que
provocativa. É preciso criar essa proximidade com os alunos."
Para a aluna do 3º ano Brenna Sanna, de 18 anos, a repercussão negativa
em torno da questão é "sem sentido". Ela afirma concordar com a
inclusão da música na avaliação.
Fachada do Centro de Ensino Médio 03 de Taguatinga, no Distrito Federal (Foto: Raquel Morais/G1)
"Antigamente era mais rígido [o processo de elaboração das provas], mas
agora tem uma abertura para o que é a cultura popular. Não acho errado.
O professor colocou algo que tinha a ver com o contexto da prova e a
socieda está vivendo", declarou.
'Bobagem'
Em um post feito em sua página oficial no Facebook, Valesca diz acreditar que a polêmica ocorreu por terem chamado uma funkeira de "pensadora contemporânea" e diz achar a situação "uma bobagem".
Em um post feito em sua página oficial no Facebook, Valesca diz acreditar que a polêmica ocorreu por terem chamado uma funkeira de "pensadora contemporânea" e diz achar a situação "uma bobagem".
"[O que] me espanta mesmo é todo mundo se preocupar com uma única
questão da prova sem analisar os termos por trás disso tudo. E se o
professor colocou a questão dentro do contexto da matéria? E se o
professor quis ser irônico com o sucesso das músicas de hoje em dia? E
se o professor quis apenas distrair a turma e fez a questão apenas pra
brincar?", declarou.
Valesca disse ainda que as pessoas deveriam na verdade protestar contra
as condições de trabalho dos professores e pela falta de equipamentos e
merendas nas escolas.
"Parabéns ao corajoso professor que, mesmo não ganhando muito bem, é
batalhador e corajoso demais pra chegar em casa e elaborar uma questão
de uma prova colocando um dito popular do momento e sambando na cara de
todo mundo que está a julgando por isso!".
A funkeira também afirmou se sentir homenageada. "Mas isso eu vou ter
que recusar, porque é um título [de grande pensadora contemporânea]
muito forte e eu ainda não me sinto pronta pra isso", riu. "Prometo que
vou trabalhar isso. [...] Vou ali ler um Machado de Assis e ir treinando
pra quem sabe um dia conseguir ser uma pensadora de elite!".
Patronesse
Formandos do curso de curso de Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense resolveram quebrar a tradição da faculdade e elegeram a funkeira Valesca Popozuda como patronesse. A cantora deu o nome à turma de sete alunos que concluiu curso no final de 2012.
Formandos do curso de curso de Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense resolveram quebrar a tradição da faculdade e elegeram a funkeira Valesca Popozuda como patronesse. A cantora deu o nome à turma de sete alunos que concluiu curso no final de 2012.
Foi a primeira vez que o patrono de uma turma do curso não foi alguém
do meio acadêmico. Em anos anteriores, personalidades como o antropólogo
espanhol-colombiano Jesús Martín-Barbero e o professor de direito
Milton Santos foram escolhidas como patrono. A decisão dos estudantes da
turma atual de formandos surpreendeu até a homenageada.
“Eu me senti honrada! Cheguei a perguntar ao meu empresário se não era
trote”, disse Valesca na época. “Foi uma surpresa enorme, fiquei muito
feliz.”
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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