Rafael Sampaio Do G1, em
São Paulo
'Bothrops jararaca', uma das espécies estudadas
(Foto: Felipe Süssekind/Wikicommons)
Pesquisadores do Instituto Butantan, em São
Paulo, descobriram 30 moléculas a partir do mapeamento do conjunto de peptídeos
no veneno de três espécies de cobras - a Bothrops jararaca, a Bothrops
cotiara e a Bothrops fonsecai. Quatro desses peptídeos (tipos de
compostos formados por aminoácidos e sintetizados por seres vivos) foram
recriados em laboratório, passaram por testes em ratos e apresentaram atividade
anti-hipertensiva, o que dá a eles potencial para, no futuro, serem usados em
medicamentos contra problemas de pressão arterial.
Os quatro peptídeos se somam a outros 13, entre o
total de descobertos, que são da família dos potenciadores de bradicinina.
Segundo a coordenadora do estudo, a pesquisadora Solange Maria de Toledo
Serrano, do Instituto Butantan, este grupo de moléculas é conhecido há décadas
por possuir efeitos sobre a pressão arterial. Pesquisas anteriores com
peptídeos da mesma família deram origem a remédios contra a hipertensão - o
primeiro deles a ser isolado do veneno da jararaca, nos anos 1960, levou à criação
do remédio Captopril, por exemplo.
Análise profunda
"Fizemos uma análise profunda e extensa dos peptidomas [conjuntos de peptídeos] do veneno das três serpentes. Foi um ensaio bioquímico de alto nível, do ponto de vista da complexidade do veneno", diz a pesquisadora. As análises foram realizadas no Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada, no Butantan.
"Fizemos uma análise profunda e extensa dos peptidomas [conjuntos de peptídeos] do veneno das três serpentes. Foi um ensaio bioquímico de alto nível, do ponto de vista da complexidade do veneno", diz a pesquisadora. As análises foram realizadas no Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada, no Butantan.
Solange ressalta que o objetivo do estudo não foi
descobrir novas moléculas, mas descrever a complexidade do conjunto de
peptídeos no veneno das três espécies de animais. A pesquisa foi publicada na
edição de novembro da revista "Molecular & Cellular Proteomics".
No total, foram sequenciados 44 peptídeos, sendo
que 30 eram desconhecidos. O estudo usou técnicas de bioinformática e de
espectrometria de massas, método científico que identifica elementos que
compõem uma substância e ajuda a obter informações sobre a massa de moléculas.
Uma das dificuldades foi fazer o sequenciamento
das moléculas, já que faltam informações sobre a genética das serpentes e as
cadeias de aminoácidos que compõem os peptídeos e proteínas destes animais.
"Como não há genoma completo de nenhuma
espécie de serpente no mundo, então os bancos de dados não têm muitas
informações sobre os peptídeos destes animais. Não se compara ao que existe em
mamíferos", diz Solange.
A pesquisadora ressalta que o trabalho não visa
descobrir um novo medicamento, e que a descoberta das moléculas com
características anti-hipertensivas representam apenas um potencial. Para chegar
a um remédio, é preciso tempo e investimento em novos estudos, pondera.
FONTE: G1 – O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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