quinta-feira, 2 de abril de 2015

Portugal vive dia de luto por morte do cineasta Manoel de Oliveira

Funeral será na tarde de sexta-feira (3) na cidade do Porto, em Portugal.

Ele fez último filme em 2014 e tinha mais de 60 produções no currículo.


Manoel de Oliveira posa durante sessão de fotos para o lançamento de 'O estranho caso de Angelica' em Cannes, em maio de 2010 (Foto: Eric Gaillard/Reuters)Manoel de Oliveira posa durante sessão de fotos para o lançamento de 'O estranho caso de Angelica' em Cannes, em maio de 2010 (Foto: Eric Gaillard/Reuters)
Portugal viveu um dia de luto nesta quinta-feira pela morte do cineasta mais famoso do país, Manoel de Oliveira. Ele morreu aos 106 anos na cidade do Porto.
O funeral será na tarde de sexta-feira (3) na Igreja de Cristo Rei, em Foz, distrito do Porto. Depois, haverá cerimônia no cemitério de Agramonte, em Boavista.
A morte do mais velho diretor de cinema em atividade provocou reações no país, que perdeu uma de suas principais referências culturais dos últimos 50 anos.
O chefe do Estado, Aníbal Cavaco Silva, o governo, partidos políticos, colegas de profissão e meios de comunicação prestaram homenagens à figura cultural mais icônica do país desde a morte de José Saramago, em junho do 2010.
A Prefeitura do Porto, cidade na qual nasceu e onde residia atualmente, declarou três dias de luto pela morte de seu filho predileto, enquanto o Executivo luso decretou dois em nível nacional.
"Portugal perdeu um dos maiores expoentes de sua cultura contemporânea e que muito contribuiu ao reconhecimento internacional do país", disse Silva, no Palácio de Belém.
O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, destacou em comunicado a influência que Oliveira terá nas novas gerações de "produtores, atores e praticantes do cinema em geral".
Reconhecimento fora de Portugal
Oliveira teve reconhecimento fora de Portugal do que em seu país, Oliveira ganhou a admiração dos circuitos intelectuais da Europa e Brasil e dos principais festivais cinematográficos.

Filmes como "Francisca" (1981), "O Convento" (1995) e "Viagem ao Princípio do Mundo" (1997), "A Divina Comédia" (1991), "Não, ou a vã glória de mandar" (1990) e "Um Filme Falado" (2003) são algumas de suas mais emblemáticas obras, muitas delas promovidas pelo produtor Paulo Branco.
O estilo contracorrente de fazer cinema de Oliveira -usava planos cuidados e lentos em uma tentativa de estabelecer uma harmonia entre a palavra e a imagem - atraiu famosos atores como John Malkovich, Catherine Deneuve, Marcello Mastroianni, Marisa Paredes ou Pilar López de Ayala.
Prêmios
Os grandes festivais premiaram a carreira do erudito Oliveira com o Leão de Ouro do Festival de Veneza (1985) e prêmios em Cannes (2008) e Berlim (2009), entre outros.

O cineasta, um prodígio de longevidade criativa que durante sua juventude se destacou como esportista e como piloto de corridas, se manteve até os últimos meses de vida em ativo com filmes como "O Velho do Restelo", lançado no final do ano passado.
"Meu melhor presente de aniversário é seguir fazendo filmes", repetia a cada ano desde que sua idade começou a somar três dígitos. Desde então (2008), conseguiu filmar quase uma obra por ano.
Iniciado no cinema mudo, com o documentário "Douro, Faina Fluvial" (1931), sua heterogênea e vasta obra representa uma contínua reflexão sobre o cinema do século XX e mostra uma sensibilidade especial para adaptar obras de escritores e poetas lusos, como Eça de Queiroz (1845-1900) e o padre António Vieira (1608-1697).
Despedida
Seu último filme, "O Velho do Restelo", é exemplo desse afã de condensar em uma tela a profundidade das obras literárias.

Neste filme são interpretados os textos dos clássicos de Miguel de Cervantes, e dos portugueses Luís de Camões, Teixeira de Pascoaes e Camilo Castelo Branco.
"Hoje as pessoas vão ver filmes cada vez mais presas, cada vez com menos atenção", se lamentava Oliveira em entrevista à prestigiada revista francesa "Cahiers du Cinema".
O público "só se interessa pelos efeitos especiais e nos efeitos sonoros espetaculares. A projeção já não é suficiente. A crença no cinema está muito rebaixada", analisava.
Influenciado pelo espanhol Luis Buñuel, o dinamarquês Carl Theodor Dreyer e Charles Chaplin, o cineasta se reconhecia no humanismo cristão e abordava, às claras, a inevitável morte.
"Todos meus filmes mostram que, de fato, todos os homens entram em agonia no momento no qual chegam ao mundo -disse em entrevista na década dos anos 90-. Sou um grande lutador contra a morte (...) Mas a morte acaba por chegar".


FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO

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