Os educadores têm formação especial para adequar suas aulas ao hospital.
Ao todo são 64 classes hospitalares e 700 atendimentos mensais.
Internada há quase um mês por conta de uma infecção no pé, Isabelly Gisleny, de 8 anos, ainda não foi para a escola esse ano. Já são mais de três semanas dentro do hospital, entre remédios, cama e tratamento. Para diminuir a saudade que a filha sente das professoras, dos colegas e das brincadeiras, Luciana Aparecida, de 28 anos, decidiu que ela participaria das classes hospitalares, uma modalidade de ensino especial que tem crescido no estado de São Paulo.
O Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, onde Isabelly está internada, é um dos hospitais que oferece aulas no ambiente hospitalar. “Eu achei ótimo este incentivo que o hospital deu, ela está adorando”, afirma a mãe.
Ter aula em um hospital é um direito do aluno garantido por lei. O artigo 214 da Constituição Federal afirma que as ações do Poder Público devem conduzir à universalização do atendimento escolar. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional assegura que o Poder Público criará formas alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino, podendo organizar-se de diferentes formas para garantir o processo de aprendizagem. Um parecer do Conselho Nacional de Educação torna o atendimento obrigatório tantos nos hospitais quanto nos serviços de atendimento ao paciente em casa (home care).
Em São Paulo, o programa Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar atende pacientes, que estejam em idade escolar, que precisam passar mais de 15 dias internados em hospitais. Nesta situação, crianças e adolescentes recebem acompanhamento escolar. As aulas podem acontecer em salas montadas pelo hospital, em brinquedotecas ou até mesmo no leito, caso seja necessário. O objetivo é que as crianças não percam o período escolar e que tenham uma atividade lúdica enquanto recebem o tratamento.
É o caso de Isabelly. Ela se feriu com um prego no último dia de suas férias. Foi internada no dia 6 de fevereiro e ainda não tem previsão de alta. Por causa do acidente e da internação, a menina ainda não foi em nenhuma aula do terceiro ano do ensino fundamental, da Escola Municipal Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo.
Logo nos primeiros dias em que estava no hospital, ela conheceu as professoras Marta Valéria Spicciati, de 42 anos, e Vera Lúcia Guimarães, de 50 anos, que têm acompanhado o seu desenvolvimento. “Eu aprendi um monte de coisa aqui, desenhar, escrever. Eu sei escrever um monte de coisa, quase tudo. E eu gosto de ficar aqui [na brinquedoteca], porque eu brinco e mexo no computador”, conta Isabelly.
Preparação dos educadores
De acordo com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, ao todo são 64 classes hospitalares e 700 atendimentos mensais. Os educadores envolvidos no programa têm uma formação especial para se adequar ao ambiente hospitalar. Os educadores passam por treinamento psicológico e fazem cursos para se manterem atualizados em suas funções. A professora Marta trabalha com classes hospitalares há 11 anos e é formada em pedagogia, fez pós-graduação em educação especial inclusiva e curso de libras.
Além da adaptação de ambiente, Marta teve que se preparar para aplicar o conteúdo, que deve ter abordagem alegre. “Aqui o atendimento é individual e circunstancial. Nós avaliamos o quadro clínico da criança, depende da condição do aluno, de como ele está no momento”, explica a educadora. Para contribuir com o desenvolvimento das crianças, Marta insere pesquisas na internet, brincadeiras educativas e atividades leves. “Tem dias que temos que insistir, porque eles não estão bem, então nós temos que ser lúdicos para trazê-los para aula”, afirma Marta.
Recuperação
Segundo a mãe, a atenção dada a Isabelly ajudou na alfabetização da filha e em sua recuperação. "As atividades que ela faz aqui são complementares as da escola dela e não vão deixá-la defasada. As aulas têm ajudado na recuperação, porque ela quer aprender a ler e a fazer as coisas mesmo tomando medicação”, conta a mãe, que participa das aulas junto com a filha.
Para que a escola tenha acesso ao que foi trabalhado no hospital, as educadoras fazem um relatório e anexam a ele as atividades feitas no período da internação e entregam aos pais, quando os filhos recebem alta médica, e eles devem encaminhá-lo para a escola do paciente. Assim, as faltas nas aulas da escola são abonadas.
Para participar
De acordo com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, todos os hospitais podem fazer parte do programa, basta comunicar a necessidade de participar. “No caso do Emílio Ribas, por exemplo, a Secretaria foi ao hospital, viu a estrutura que ele tinha e fez uma avaliação. Hoje, o hospital tem uma sala para as aulas, mas as crianças também podem ter aulas nos leitos ou nos quartos”, afirma a Secretaria.
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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