sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Corpo de Tomie Ohtake é velado na Zona Oeste de SP

Velório acontece no Instituto Tomie Ohtake nesta sexta-feira. 

Nascida no Japão, artista de 101 anos foi figura importante das artes.

Kleber Tomaz
Do G1 São Paulo
Corpo de Tomie Ohtake é velado em São Paulo (Foto: Kevin David/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo)Corpo de Tomie Ohtake é velado em São Paulo (Foto: Kevin David/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo)
O corpo da artista plástica Tomie Ohtake é velado nesta sexta-feira (13) no Grande Hall do instituto que leva o seu nome, na Zona Oeste de São Paulo. Ela tinha 101 anos e morreu devido a um choque séptico causado por broncopneumonia. Cerca de 100 pessoas participavam das últimas homenagens à artista neste início de manhã.
O velório é aberto ao público e o instituto Tomie Ohtake seguirá fechado ao longo do dia. Depois das 14h, o corpo será levado para o Crematório do Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, em cerimônia reservada à família.
Tomie estava internada desde 2 de fevereiro no Hospital Sírio-Libanês, na região central da cidade, para tratamento de uma leve pneumonia. Ela reagia bem ao tratamento e estava prestes a ter alta médica, mas, na manhã de terça-feira (10), engasgou com o café da manhã. Ela teve uma broncoaspiração seguida de parada cardíaca.

Japonesa que se tornou brasileira com o tempo, ela foi uma das figuras mais importantes das artes plásticas no Brasil. Começou a pintar tarde, aos 39 anos, e ficou conhecida do grande público com as grandes esculturas que mudaram a paisagem urbana de São Paulo. Fez mais de 50 exposições individuais e participou de mais de 80 coletivas. Teve uma carreira produtiva, reconhecida e longa.

"O trabalho faz bem sempre", afirmou em entrevista ao Bom dia Brasil, da TV Globo, sobre as obras que planejava perto do seu aniversário de 100 anos, em 2013.

A paisagem de São Paulo ganhou a cara de Tomie Ohtake. São criações dela as curvas coloridas das grandes esculturas que dividem os dois lados da via expressa da Avenida 23 de Maio (homenagem aos 80 anos da imigração japonesa no Brasil); os quatro painéis de 2 metros de altura por 15 de comprimento que representam as estações do ano no metrô Consolação; as ondas vermelhas de gesso da obra presa ao teto do Auditório do Ibirapuera; o arco vermelho de 3 toneladas e 12,5 metros de altura no Brooklin; e o painel de 23 metros de altura na lateral do prédio que leva seu no Itaim Bibi.

Artista Tomie Ohtake durante uma cerimônia no Auditório do Ibirapuera da Ordem do Mérito Cultural (OMC) em 2013 (Foto:  Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press)Artista Tomie Ohtake durante uma cerimônia no Auditório do Ibirapuera da Ordem do Mérito Cultural (OMC) em 2013 (Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press)
Tomie Ohtake nasceu em 1913, em Kioto, no Japão. Veio para o Brasil em 1936, aos 23 anos, para visitar um irmão que já morava aqui, e acabou ficando. A japonesa se impressionou "com a intensidade da luz amarela, do calor e da umidade ao desembarcar no Porto de Santos", conta a biografia do site do Instituto Tomie Ohtake.
"Com a iminência da Segunda Guerra, permanece em São Paulo, onde se casa e tem dois filhos, Ruy e Ricardo Ohtake. Estabeleceu residência no bairro da Mooca", informa o texto.

O interesse por desenho vinha desde criança, na escola no Japão, onde o ensino de artes é muito valorizado. Mas antes de ser artista, formou família e criou os dois filhos. Só aos 39 anos começou a fazer suas primeiras pinturas. Foi incentivada pelo pintor japonês Keisuke Sugano, que deu aulas de passagem pelo Brasil.

"Quando comecei a pintar aqui no Brasil, já era muito evidente o meu espírito brasileiro, ou ocidental, portanto já distante da origem oriental, mas devo ter tido sempre, até hoje, influência da terra em que nasci e cresci", lembrou Ohtake à revista "ArtNexus", em 2005.
Retrato da artista plástica japonesa naturalizada brasileira, Tomie Ohtake, que em 1960 recebeu o Prêmio Probel de pintura (Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo)Retrato da artista plástica japonesa naturalizada brasileira, Tomie Ohtake, que em 1960 recebeu o Prêmio Probel de pintura (Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo)
Em 1968 ela se naturalizou brasileira, já envolvida e reconhecida na cena artística nacional. Com os trabalhos feitos em cada vez maior escala, às vezes ela tinha que sair de casa, na Mooca, onde ficava seu ateliê, para ver suas pinturas maiores.

Em 1969, junto com outros artistas, ela se recusou a participar da 10º Bienal Internacional de São Paulo, em protesto contra a Ditadura Militar. Em 1974 recebeu o prêmio de melhor pintora do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte – voltou a ganhar o mesmo título em 1979, entre outras dezenas de prêmios antes e depois. Em 2013, também recebeu homenagem no Domingão do Faustão.

Nos anos 1980, cresceu ainda mais o interesse por sua obra. Foi marcante a grande retrospectiva feita em 1983 pelo Museu de Arte de São Paulo (Masp), um sucesso de público e crítica. Com o reconhecimento, nesta década ela começa a realizar várias das esculturas em expostas em espaços abertos de São Paulo, marcadas pelas formas arredondadas e a grande escala.

"A obra que fica situada no espaço público tem necessariamente que conversar com o espaço e com o público. Isso é fundamental para um painel, uma escultura ou outro trabalho que não as tradicionais pinturas ou obras em outras dimensões. Você me pergunta como concebo o espaço. Ora, olhando o espaço e perguntando como o público vai interagir com a obra: quais as perspectivas, o que há na frente, atrás, dos lados, a que distância as pessoas vão ver e até onde se aproximam, por onde passa o olho, etc”, disse Tomie Ohtake em 2005 à revista “ArtNexus”.

Em 2000 foi criado o Instituto Tomie Ohtake, com sede em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. O objetivo é apresentar e discutir a história e as tendências das artes no Brasil – não apenas a obra de Ohtake. Mas ela não se fechou no instituto. Uma escultura de 15 toneladas e 12 metros de altura, inaugurada em 2013 em Santo André (SP), pela artista já centenária, é só mais um dos exemplos do inconfundível e incansável trabalho de Tomie Ohtake.

oto de 1988 mostra Tomie Ohtake trabalhando em um de seus projetos (Foto: José Bassit/Estadão Conteúdo)oto de 1988 mostra Tomie Ohtake trabalhando em um de seus projetos (Foto: José Bassit/Estadão Conteúdo)
Príncipe Naruhito (centro) cumprimenta arquiteto Ruy Ohtake, filho da artista Tomie Ohtake, durante cerimônia de comemoração pela imigração japonesa no Brasil em Santos, em junho de 2008 (Foto:  AFP Photo/Nelson Almeida)Príncipe Naruhito (centro) cumprimenta arquiteto Ruy Ohtake, filho da artista Tomie Ohtake, durante cerimônia de comemoração pela imigração japonesa no Brasil em Santos, em junho de 2008 (Foto: AFP Photo/Nelson Almeida)
 A ministra Marta entrega o prêmio para Tomie Ohtake, em 2013 (Foto: Fotos Públicas)A ministra Marta entrega o prêmio para Tomie Ohtake, em 2013 (Foto: Fotos Públicas)
Escultura de Tomie Ohtake, inaugurada em 1988 em concreto armado na Avenida 23 de Maio em São Paulo, ganhou novas cores nesta terça (30). (Foto: J. F. Diorio/ESTADÃO CONTEÚDO)Escultura de Tomie Ohtake, inaugurada em 1988 em concreto armado na Avenida 23 de Maio em São Paulo, ganhou novas cores nesta terça (30). (Foto: J. F. Diorio/ESTADÃO CONTEÚDO)
 Foto de janeiro de 2013 mostra artista Tomie Ohtake em sua casa, antes das comemorações de seu centenário  (Foto: Paulo Liebert/Arquivo/Estadão Conteúdo)Foto de janeiro de 2013 mostra artista Tomie Ohtake em sua casa, antes das comemorações de seu centenário (Foto: Paulo Liebert/Arquivo/Estadão Conteúdo)
  A artista plástica Tomie Ohtake recebe medalha do prefeito Fernando Haddad em homenagem por suas obras espalhadas pela cidade (Foto: Heloisa Ballarini/Secom)A artista plástica Tomie Ohtake recebe medalha do prefeito Fernando Haddad em homenagem por suas obras espalhadas pela cidade (Foto: Heloisa Ballarini/Secom)
 Tomie Ohtake posa para foto em agosto de 1988  (Foto: Newton Aguiar/AE)Tomie Ohtake posa para foto em agosto de 1988 (Foto: Newton Aguiar/AE)






FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO

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