Corpo é velado no cemitério Parque das Primaveras, em Campo Grande.
Poeta morreu aos 97 anos na manhã desta quinta-feira no Proncor.
Corpo do poeta Manoel de Barros é velado em cemitério (Foto: Lucas Lourenço/G1 MS)
Filha de Manoel, Martha Barros, durante o velório (Foto: Lucas Lourenço/G1 MS)
O artista plástico e amigo da família, Jonir Figueiredo, disse que teve convívio de cerca de 30 anos com a família e que, há três anos, homenageou Manoel em exposição no Marco. Ele fez uma mandala do caramujo-flor, que era o apelido o poeta. “O caramujo-flor é aquele bichinho que, quando alguém se aproxima, ele se esconde. O Manoel era assim, tímido”, afirmou, completando que considera que os 97 anos de Manoel foram muito bem vividos.
MANOEL DE BARROS
Poeta morreu aos 97 anos
O neto Felipe de Barros relatou que Manoel tinha ficado mais cansado e saía menos de casa desde a morte do filho. “Na verdade, ele estava preso no próprio corpo”, declarou, completando que, além de um avô, perdeu um amigo.
A princípio, a esposa do poeta, Stella de Barros, de 93 anos, não ia ao velório, mas decidiu ir para dar beijo de despedida no marido. Eles ficaram casados por 64 anos.
Amigo e filho de consideração chora durante velório do poeta (Foto: Lucas Lourenço/G1 MS)
A compositora, musicista e escritora Lenilde Ramos também foi ao cemitério para se despedir do poeta, que conheceu em 1970.
“Vamos falar do Manoel sempre no presente, porque a obra, o trabalho dele permanece e vai ser assim para sempre. Para mim, ele era como um grande alquimista, que transforma metais simples em ouro. Na arte, a gente vê o surgimento de muitas tendências, a gente vê artistas seguindo essas tendências, mas é difícil surgir um elemento novo. O Manoel era esse elemento novo. Ele era um alquimista das palavras”, declarou Lenilde.
Irmã de Manoel de Barros, Eudes (Foto: Lucas Lourenço/G1 MS)
O vice-presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, Abrão Razuk, pontuou que a morte do Manoel de Barros é uma perda irreparável para a literatura universal. “Hoje, seus escritos são universais, eles saíram da base física do Pantanal e hoje pertencem ao mundo. Toda a obra dele é produto de uma grande genialidade, ele era um gênio da literatura”, declarou.
O presidente da academia, Reginaldo Alves de Araújo, destacou que Manoel de Barros “é a estrela maior” dos poetas contemporâneos. “Manoel é um poeta diferenciado que fez com que o Brasil inteiro conhecesse, em verso, o que é o Pantanal.”
A diretora-presidente da Fundação Municipal de Cultura (Fundac) de Campo Grande, Juliana Zorzo, foi ao velório e disse que Manoel de Barros foi um dos maiores poetas do país e que é um orgulho muito grande para Mato Grosso do Sul. “Vamos trabalhar para perpetuar o nome dele, assim como as obras dele e tudo o que ele produziu”, afirmou.
Manoel de Barros deixou esposa, uma filha, sete netos e cinco bisnetos.
Manoel Wenceslau Leite de Barros era advogado, fazendeiro e poeta. Nasceu em Cuiabá, no Beco da Marinha, às margens do rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916.
Filho de João Venceslau Barros, capataz na região, Manoel se mudou para Corumbá, no Pantanal sul-mato-grossense, onde passou a infância. Nos últimos anos, o poeta morou em Campo Grande e levou uma vida reclusa ao lado da esposa.
Manoel de Barros era ocupante da cadeira número 1 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. Em nota, a entidade lamentou a morte do poeta.
Obras
Manoel de Barros publicou seu primeiro livro, "Poemas concebidos sem pecado", em 1937. Seu último volume, "Escritos em verbal de ave", saiu em 2011.
Em novembro do ano passado a editora Leya lançou a obra completa do poeta, com título de “A biblioteca de Manoel de Barros”. São, ao todo, 18 volumes. A edição especial incluiu um poema até então inédito, “A turma” (2013), o último escrito pelo autor. A coleção também trazia os cinco livros infantis feitos pelo poeta.
No início de novembro, o site Publish News, que cobre o mercado editorial brasileiro, informou que a obra de Manoel de Barros foi contratada pela Alfaguara, selo da editora Objetiva. De acordo com o site, a editora planeja lançar os primeiros títulos no segundo semestre de 2015.
O perfil do poeta no site da Leya destaca que em 1966 ele ganhou o prêmio nacional de poesias com "Gramática Expositiva do Chão". Em 1998, levou o Prêmio Nacional de Literatura do Ministério da Cultura, pelo conjunto da obra. Ao longo da carreira de sete décadas, ganhou o Prêmio Jabuti duas vezes, em 1990 e 2002, com as obras "O guardador de águas" (1989) e "O fazedor de amanhecer" (2001). Em 2000, foi premiado pela Academia Brasileira de Letras.
Ainda segundo a Leya, Manoel de Barros teve sua obra traduzida em Portugal, Espanha, França e Estados Unidos. Em 2008, foi tema do documentário "Só dez por cento é mentira", de Pedro Cezar.
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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