Pablo Rodrigo, de 19 anos, é de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
Ele decidiu ser médico após ver a mãe na fila do SUS durante anos.
Pablo Rodrigo Andrade da Silva já começou a cursar medicina na USP (Foto: Caio Kenji/G1)
A camiseta de calouro do curso de medicina da Universidade de São Paulo (USP)
é o símbolo da realização do estudante Pablo Rodrigo Andrade da Silva.
Morador de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, o
jovem de 19 anos foi aprovado em um dos cursos mais concorridos do país e
em outros sete vestibulares de medicina. Mas ele só conseguiu se mudar
para São Paulo graças à ajuda dupla do cursinho onde estudou nos últimos
dois anos como bolsista. Primeiro, pelo apoio dos professores na hora
de esclarecer dúvidas sobre as matérias. Segundo, pelo auxílio
financeiro que recebeu para conseguir arcar os custos da viagem.
Pablo escolheu a USP depois de ser aprovado em oito vestibulares de
medicina: USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) –pelo Sistema de Seleção Unificado (Sisu)–, Universidade
Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal do Amapá (Unifap), além de
ganhar bolsas a do Programa Universidade para Todos (Prouni) para o
curso de medicina na Faculdade de Ciência Médica da Santa Casa de São
Paulo e na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas.
"A USP sempre foi um grande sonho. Sempre ouvi falar muito bem da
universidade, da projeção dentro do país e fora. Mas era um sonho muito
distante. Saber que fui aprovado foi muita alegria, mas ao mesmo tempo
desilusão, porque eu não tinha como vir para cá [São Paulo]. Minha
família não tinha condições de me enviar para São Paulo", explicou o
novo calouro de medicina.
Segundo a assessoria de imprensa do Curso Progressão, de Duque de
Caixas, ao saberem da aprovação de Pablo, os funcionários se mobilizaram
para doar recursos ao jovem, e, no dia 15 de fevereiro, oito
professores realizaram um "aulão" beneficiente para quase 200 alunos
–parte da renda foi destinada à viagem do agora ex-aluno. No total,
foram arrecadados cerca de R$ 1.000.
Pablo é filho de uma ex-copeira e ajudou a mãe a vender lanches (Foto: Caio Kenji/G1)
Sustento
Filho caçula de uma ex-copeira, Pablo morava no Rio com a mãe, agora desempregada, e a avó, que sustenta a família com sua aposentadoria. O pai lhe visitou para parabenizá-lo pela aprovação nos vestibulares de medicina, mas o jovem diz que tem pouco contato com ele.
Filho caçula de uma ex-copeira, Pablo morava no Rio com a mãe, agora desempregada, e a avó, que sustenta a família com sua aposentadoria. O pai lhe visitou para parabenizá-lo pela aprovação nos vestibulares de medicina, mas o jovem diz que tem pouco contato com ele.
"Minha mãe sempre trabalhou com prestação de serviços, em lanchonete,
já teve negócio próprio. Na adolescência trabalhamos eu e ela na rua
vendendo lanches", lembra. Pablo diz que a ajudava após as aulas, ou a
substituía quando ela tinha problemas de saúde, mas a mãe não o deixava
faltar na escola para trabalhar.
Foi justamente a dificuldade que sua mãe teve para conseguir tratamento
médico para um problema na coluna que levou o jovem a optar pela
carreira na medicina. "Ela por anos buscou tratamento em hospital
público e nunca conseguiu. Eu acompanhei a luta dela durante cinco anos
para conseguir um exame de ressonância magnética no sistema público e
ela não conseguiu", explicou o jovem.
Pablo diz que ela só conseguiu fazer o exame quando foi contratada por
uma empresa e passou a contar com convênio médico. Mas, por causa de
problemas motores, a mãe dele acabou perdendo o emprego de copeira em um
hospital particular, e agora atualmente está sem trabalho.
Dificuldades e sorte
Pablo cursou o ensino fundamental em uma escola municipal e, no ensino médio, conseguiu ser aprovado na unidade de Duque de Caxias do Colégio Pedro II, da rede federal de ensino. Em 2012, quando fez o terceiro ano do ensino médio, e 2013, ele também teve aulas no Curso Progressão como bolsista. No ano passado, como tirou a nota mais alta no concurso para bolsas, ele conseguiu uma bolsa vitalícia, para fazer o curso quantos anos precisasse até passar no vestibular.
Pablo cursou o ensino fundamental em uma escola municipal e, no ensino médio, conseguiu ser aprovado na unidade de Duque de Caxias do Colégio Pedro II, da rede federal de ensino. Em 2012, quando fez o terceiro ano do ensino médio, e 2013, ele também teve aulas no Curso Progressão como bolsista. No ano passado, como tirou a nota mais alta no concurso para bolsas, ele conseguiu uma bolsa vitalícia, para fazer o curso quantos anos precisasse até passar no vestibular.
Como no ano anterior ele só havia conseguido a aprovação em ciências
biomédicas em uma instituição particular, pelo Prouni, Pablo decidiu
aproveitar a oportunidade para voltar aos estudos. "Eu poderia entrar no
cursinho até passar, mas felizmente passei no primeiro ano." A bolsa,
porém, não incluiu a compra das apostilas, então, ele diz que estudou
com as do ano anterior.
A falta de recursos não afetou só a compra de material didático. Pablo
conta que quase ficou de fora do vestibular da Unicamp por causa da taxa
de inscrição. "Não consegui isenção na taxa da Unicamp, porque ela não
dá para quem não é do estado de São Paulo. No último dia para poder
pagar [a taxa], já tendo extrapolado o horário de pagar, uma tia
conhecida de Santa Catarina depositou o dinheiro na conta da minha mãe",
explicou. A mãe decidiu fazer o pagamento, mesmo com a dúvida se ele
seria aceito ou não, por causa do horário bancário.
Deu certo, mas, na hora de comprar a passagem de ônibus para as provas
da segunda fase, em janeiro deste ano, Pablo e a mãe descobriram, na
rodoviária, que no dia da viagem só havia um último assento disponível,
em um ônibus com preço acima do esperado. "Minha mãe não tinha dinheiro
para comprar a passagem e uma pessoa na fila deu o dinheiro. Eu
precisava disso para chegar um dia antes e me ajeitar. Eu credito isso à
ação divina, só pode ter sido isso."
Conjunto residencial da Cidade Universitária (Foto: Divulgação/USP)
De mudança para São Paulo
Depois a aprovação na USP, a questão financeira voltou à tona na hora de comprar novamente a passagem para São Paulo, e encontrar um lugar para morar. "Com a ajuda de muitas pessoas, muito apoio, inclusive do cursinho, eu vim para cá", conta ele. Nas duas primeiras noites na capital paulista, Pablo ficou hospedado na casa de uma amiga. Na terceira, conseguiu um dos auxílios emergenciais oferecidos pela USP a calouros de baixa renda.
Depois a aprovação na USP, a questão financeira voltou à tona na hora de comprar novamente a passagem para São Paulo, e encontrar um lugar para morar. "Com a ajuda de muitas pessoas, muito apoio, inclusive do cursinho, eu vim para cá", conta ele. Nas duas primeiras noites na capital paulista, Pablo ficou hospedado na casa de uma amiga. Na terceira, conseguiu um dos auxílios emergenciais oferecidos pela USP a calouros de baixa renda.
Atualmente, ele vive em um alojamento coletivo dentro de um dos prédios
do Conjunto Residencial da USP (Crusp), na Cidade Universitária. A
decisão sobre as vagas permanentes de residência no local só devem sair
em abril, junto com o resultado de outros auxílios, como o de
alimentação, e uma bolsa permanência no valor de R$ 400.
"É um misto de felicidade e dificuldade. Estou sendo muito bem
recepcionado, e você se encanta com o mundo USP. Mas é difícil ficar
longe da família, porque estou vivendo isso longe da minha mãe. Mas isso
está contribuindo para que eu amadureça e cresça como pessoa", diz o
novo estudante de medicina que, por enquanto, pretende se especializar
em imunologia e cardiologia nos próximos anos.
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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