A Gazeta de Alagoas chega aos 80 anos com a experiência de um veterano
Por: Valmir Calheiros - Repórter
A Gazeta de Alagoas saiu às ruas
pela primeira vez no dia 25 do segundo mês do quarto ano da
convulsionada década de 30 do século 20. Um domingo. Quis assim Luiz
Magalhães da Silveira, seu criador, um bravo jornalista e deputado federal, que vinha combatendo o oligarquismo e havia lançado,
em 31 de maio de 1908, o Jornal de Alagoas, que manteria e dirigiria
com a mesma finalidade até desfazer-se dele, em 1933, “por
circunstâncias políticas”, como ele próprio afirmara.
Às 14h do sábado imediatamente anterior, acontecera a solenidade mais
que apropriada para tão memorável acontecimento, e na qual, segundo
testemunho de um cronista, não faltaram bebidas, petiscos, fogos de
artifício e aplausos dos convidados mais ilustres às pessoas simples.
Naquela ocasião, visivelmente emocionada, Maria Luiza, filha única de
Silveira, proclamou, em voz alta, que estavam inauguradas a redação e
oficinas do novo matutino, em sede própria, na Rua do Comércio da
capital dos alagoanos.O lançamento
da nova folha do incansável Silveira, apelidado carinhosamente de
“Catitinha”, que logo contou, para essa outra empreitada, com a
colaboração da família, principalmente do irmão José na parte
financeira, foi saudado entusiasticamente. As felicitações chegavam de
diversos cantos do território alagoano. De outros estados e de outros
órgãos de imprensa. Como o mencionado Jornal de Alagoas, que já não lhe
pertencia, que assim se expressou: “Nossa confreira, pelo renome de seu
diretor, virá certamente marcar um luminoso halo de fulguração em nosso
meio jornalístico”.
Sobravam razões para essas manifestações de contentamento e otimismo.
Pelo que foi dito, como também devido ao fato de Luiz Silveira
inaugurar, com o segundo jornal de sua propriedade, nesse meio, uma nova
e alvissareira etapa do periodismo alagoano: a da introdução da
composição mecânica.Esta nasceu, portanto, já de forma pioneira. Ao
mesmo tempo, seu fundador deixava registrado à posteridade, no artigo de
fundo, estampado na primeira página da edição número um do mais antigo
diário de empresa privada em circulação atualmente no Estado, a mensagem
que transcrevemos a seguir, preservando a ortografia da época:
“Embora um pouco tarde, mas ainda assim, e felizmente, em tempo, senti
que a minha existência estava irremediavelmente ligada à imprensa, não
podendo como quis fazer, deixa-la subtrair-me definitivamente.
Cumprindo, pois, o meu destino, eu tinha mesmo que retornar à atividade
jornalística. E volto, agora, convencido de que hei de ir até os meus
últimos dias entre as canseiras e as seducções dessa profissão.
(...)”Uma sobrinha de Luiz Silveira e filha do professor Faustino da
Silveira, um de seus irmãos que o ajudava como secretário do tradicional
matutino da antiga Rua Boa Vista, em Maceió, a médica Nise da Silveira –
que se tornaria uma das personalidades de renome internacional no campo
da Psiquiatria –, contaria, muitos anos depois, que o tio passou a
sofrer com depressão assim que decidiu vender aquela sua primeira
empresa. Mais preocupado com o futuro de Maria Luiza, colocou na Caixa o
dinheiro que adquirira da negociação. Vendo o sofrimento do pai, Maria
Luiza teve a ideia de levá-lo a montar um outro jornal. Daí para o
surgimento do que seria a nova fábrica de jornal de Luiz Silveira, as
providências demoraram poucos dias.A poucos dias do último como dono e
diretor do Jornal de Alagoas, o combatível jornalista, que ficou
conhecido como “paladino da democracia e terror das oligarquias”, pegou o
navio em Jaraguá. Foi direto comprar o que poderia encontrar de melhor
no Rio de Janeiro para a futura GAZETA. Tudo terminou acontecendo como
planejara. Como comprovam os elogios publicados no dia seguinte ao do
lançamento desta publicação e em outras oportunidades,
pelos primeiros e mais importantes concorrentes do jornal que seria,
nos anos 50 do mesmo século, o veículo-embrião da primeira empresa
produtora de notícias e publicidades da Organização Arnon de Mello
(OAM).
FONTE: JORNAL GAZETA DE ALAGOAS
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