segunda-feira, 23 de março de 2015

Ódio tem mão dupla

Luis Carlos Bresser Pereira, economista e ex-ministro de Sarney e FHC, acredita que somente os ricos e a classe média branca odeiam. Declarou o seguinte ao jornal Folha de São Paulo: “Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente”.

Ninguém odeia sozinho. Ódio não é privilégio de rico nem de pobre. De longe, o ódio é o sentimento mais democrático que existe.  E tem mão dupla.
Como se os ricos nunca tivessem odiado João Goulart, por exemplo. Ou como se os ricos pudessem “comprar” mais ódio que os pobres.  Que eu saiba, sempre tivemos( e teremos) mais pobres do que ricos, portanto Bresser Pereira não cometeu apenas um equívoco histórico: numericamente  está errado. E  biologicamente também. O pobre, ou pelo menos o pobre com instinto de sobrevivência, sempre odiou e sempre vai odiar o rico.
Nessa entrevista, desastradamente afiançada por Luis Fernando Veríssimo, Bresser Pereira viaja bonito na maionese, diz coisas do tipo: “(…)esse ódio decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou. Continuou defendendo os pobres contra os ricos. O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. Não deu à classe rica, aos rentistas”.
“Compromissos” firmados com as empreiteras revolucionárias de esquerda, suponho. Segundo Bresser Pereira, as construtoras Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Camargo Correia, Queiroz Galvão e as demais, sempre, acima de qualquer negócio e até mesmo acima do lucro, sempre defenderam os interesses do povo brasileiro. Tá.
As mesmas que em nome da ordem e do progresso, visando o bem-estar do povo brasileiro “construíram” a Transamazônica nos anos setenta, e que, hoje, estão atoladas até o pescoço com a corrupção na Petrobras. A mesmas que ergueram o Brasil gigante e milagroso da ditadura militar. Imagino que o governo revolucionário brasileiro do PT que, segundo Bresser Pereira, ama os pobres e os defende da sanha dos ricos, também deve incluir nossos banqueiros entre os filantropos e benfeitores  da nação. Somente com juros a 300% ao ano  combate-se a classe rica e se transfere renda para os pobres. Dá lhe, Bresser!  
Um parêntese.
Dia 13 de março -  Sergio Gabrielli em cima de um carro de som vociferando contra a corrupção na Petrobras.
Dia 15 de março -   Madame descalibrada pedindo a volta dos militares (no lugar de “madame” leia-se  marcha da família com Deus pela liberdade, TFP e uma dezena de outras suásticas e caricaturasgourmets).  
A expressão de madame é algo que vai além da caricatura, é algo repulsivo. Mas o estrago que o ex-reitor da Universidade Federal da Bahia efetivamente causou no comando da Petrobras é incomparavelmente maior, real e muito mais do que repulsivo, é nefasto. Gabrielli é um dos maiores caras de pau da história do Brasil.  Madame é somente uma piada de péssimo gosto: ao contrário dos prejuízos materias -inclua-se o ódio - espalhados por Gabrielli e afins, a figura nojenta de madame (egourmets supracitados) encerra-se na própria repulsa e caricatura.
Fecha parêntese.
Lamentável que L.F. Veríssimo tenha não apenas republicado, mas também chancelado a entrevista “heróica” de Bresser Pereira. No final de sua crônica confessa “terna admiração” pela mentirada  e pelo ódio espalhado por Bresser Pereira, um ódio que - como eu disse acima - é democrático, malandramente subliminar, tem mão dupla e, acrescento, pode se desdobrar em muitos outros ódios, e também pode ser letal.
Ah, quase esqueço:  vai catar coquinho, Juca Kfouri.



FONTE: YAHOO

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