DIEGO ESCOSTEGUY, COM REPORTAGEM DE ALINE RIBEIRO
18/07/2014 21h59
- Atualizado em
18/07/2014 22h15
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>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana:
O dia 5 de outubro de 2014 começou cedo. Começou em junho de 2013,
quando os brasileiros, antes de ir à urna, resolveram passar primeiro na
rua. Num fenômeno tão surpreendente e súbito quanto tectônico, mais de 1
milhão de brasileiros, distribuídos por 388 cidades, redescobriu, após
décadas de letargia, que política não se faz apenas no dia da eleição.
Não se faz apenas sozinho, com o voto. Faz-se também com os outros,
usando a voz, o corpo e as emoções compartilhadas na multidão. As
demandas eram variadas, e os gritos difusos. Mas a mensagem, uma só:
isto que aí está – a política tradicional – não nos representa. Eram
protestos contra tudo e contra todos, resultado de insatisfação, raiva,
angústia, sentimentos acumulados em anos e anos. Aqueles dias de junho
desnudaram uma crise até então silenciosa. Havia uma ruptura entre
eleitores e eleitos, na essência da democracia. O dia que começou em
junho definirá as eleições que acabam em outubro, sob o signo da mudança
que o Brasil pede. Os três principais candidatos à Presidência tentarão
se apresentar como o novo, em contraponto ao velho, aos vícios da
política que o brasileiro tão bem conhece.
Esse desejo de mudança aparece em todas as pesquisas. Há um mês, 74%
dos entrevistados pelo Datafolha disseram querer mudanças nos rumos do
país. Em agosto de 2013, o Ibope detectou que a confiança dos
brasileiros nas instituições caíra 7 pontos em relação a 2012. A pior
queda foi na confiança na presidente da República, de 63 para 42 pontos,
numa escala de 0 a 100. O governo federal também registrou queda
expressiva, de 53 para 41. As instituições que registram o pior índice
são os partidos políticos (de 29 para 25 pontos) e o Congresso (de 36
para 29 pontos). Um histórico dos últimos 25 anos, levantado pelo
Datafolha, mostra que a soma entre os eleitores que pretendem votar em
branco, nulo ou estão indecisos nunca foi tão alta a essa altura da
disputa presidencial. Na eleição de 2002, em maio, não atingia 10%. Em
maio deste ano, bateu os 24% e, na pesquisa divulgada na última
quinta-feira, acumulou 27%. O número médio de indecisos desde 1989 era
de 9% nas pesquisas. Nesta semana, chegou a 14%. A mesma pesquisa
mostrou que as eleições de 2014 serão bem mais disputadas do que se
imaginava. Há um ano, Dilma Rousseff parecia caminhar para uma vitória
tranquila, talvez até no primeiro turno. Agora, a série histórica
mostra que um segundo turno é mais provável (leia os quadros na página
32). Num segundo turno, a briga pode ser duríssima. Na pesquisa do
Datafolha divulgada na última quinta-feira, Dilma Rousseff aparece em
situação de empate técnico com Aécio Neves numa das simulações de
segundo turno. Em outra simulação, envolvendo Dilma e Eduardo Campos, a
diferença é de 7 pontos percentuais – nunca foi tão pequena desde que
começaram as pesquisas. Espera-se uma campanha cheia de emoções, lances
dramáticos e eventuais golpes sujos. Com um complicador. Antes de 5 de
outubro de 2014, houve junho de 2013. E cada candidato terá de provar
que, mais que os outros, entendeu o sentimento das ruas.
FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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