Congresso Nacional, em Brasília, em 1964, quando ocorreu o golpe — Foto: Arquivo/Agência O Globo
O golpe de estado que instaurou a ditadura militar no Brasil em 1964 completa 55 anos neste domingo (31). Após o ato, iniciou-se um regime de exceção que durou até 1985. Nesse período, não houve eleição direta para presidente. O Congresso Nacional chegou a ser fechado, mandatos foram cassados e houve censura à imprensa.
De acordo com a Comissão da Verdade,
434 pessoas foram mortas pelo regime ou desapareceram – somente 33 corpos foram
localizados. Em 2014, a comissão entregou à então presidente Dilma Rousseff um
documento no qual responsabilizou 377 pessoas pelas mortes e pelos
desaparecimentos durante a ditadura.
Nos 55 anos do golpe, o G1 recupera o conteúdo de uma reportagem originalmente publicada em
2014, meio século após aquele
31 de março.
O BRASIL ANTES DO GOLPE
19 de agosto de 1961
O presidente Jânio Quadros condecora
Che Guevara com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, para
indignação de setores civis e militares conversadores.
O então presidente Jânio Quadros condecora Che Guevara com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, em 19 de agosto de 1961; gesto provocou indignação em setores civis e militares conservadores — Foto: Divulgação
25
de agosto de 1961
Jânio Quadros renunciou em 25 de agosto de 1961 — Foto: Domício Pinheiro/Estadão Conteúdo
Eleito 20º presidente do Brasil, Jânio renuncia após sete meses de governo.
A renúncia era uma estratégia: Jânio pretendia retornar fortalecido pela
aclamação popular. Deu errado. O vice-presidente, João Goulart, estava em
viagem oficial à China e à União Soviética, o que foi usado pelos militares
como argumento para tentar impedir sua posse. Inicialmente, quem assumiu a
Presidência foi o deputado Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara.
Carta de renúncia de Jânio Quadros — Foto: Domício Pinheiro/Estadão Conteúdo
A sucessão de Jânio provocou um racha entre a
Campanha da Legalidade –
movimento pró-Jango – e a convocação de novas eleições defendida por militares.
Nesse momento, o general Golbery do Couto e Silva começou
a organizar o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipês), que se tornaria
o principal difusor de propaganda contra Jango. A "solução"
encontrada foi instalar o parlamentarismo, diminuindo os poderes de Jango, mas
permitindo sua posse.
7 de setembro de 1961
João Goulart, o Jango; como condição para a posse, militares conseguiram implantar o parlamentarismo no Brasil — Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo
Como condição para a posse de Jango, os militares implantam o parlamentarismo, diminuindo os poderes do
presidente, que assume apoiado por forças de esquerda, mas
acenando com medidas aos conservadores.
Jango nomeia Tancredo Neves primeiro-ministro. No acordo que instalou o
parlamentarismo, ficou acertado que ocorreria um referendo em 1963 para que os
eleitores decidissem qual regime queriam.
Tancredo Neves e Jango — Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo
A presença de Tancredo garantia um
controle da oposição até o plebiscito previsto para o ano seguinte, que
restabeleceria os plenos poderes de Jango com o presidencialismo. É nesse
período que o Brasil se abstém de votar com os Estados Unidos pela expulsão de
Cuba da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Novembro de 1961
Jango defende a reforma agrária sem indenização aos
proprietários, provocando as elites, e restabelece laços do Brasil com a União Soviética,
em meio à Guerra Fria.
Maio a julho de 1962
O governador da Guanabara, Carlos Lacerda, que acusou Jango de planejar um golpe — Foto: Arquivo/O Globo
O governador da Guanabara, Carlos
Lacerda, acusa Jango de planejar um golpe. O vice-presidente, Tancredo Neves, renuncia. Jango cria o 13º
salário, mas uma greve geral deixa centenas de feridos e 42 mortos.
30 de dezembro de 1962
A menos de uma semana do plebiscito que
decidiria sobre a volta do presidencialismo, é anunciado o Plano Trienal,
proposto pelo ministro do Planejamento, Celso Furtado, para combater a
disparada da inflação e administrado por San Tiago Dantas, na pasta da Fazenda.
6 de janeiro de 1963
Após plebiscito ter aprovado retorno do presidencialismo, acirraram-se as divisões entre direita e esquerda, e parte dos militares defende a tomada do poder pela força; Jango tentava aprovar as reformas de base — Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo
Plebiscito aprova o retorno do
presidencialismo. As
divisões entre entre direita e esquerda se acirraram, e parte dos militares defendeu a
tomada do poder pela força. Goulart tentava aprovar as reformas
de base, como a reforma agrária, mas a alta da inflação fez com que o governo
perdesse apoio popular.
O objetivo das reformas de base era
implantar mudanças nas áreas bancária, fiscal, urbana, administrativa, agrária
e universitária, além de propostas para estender o direito de voto aos
analfabetos e às patentes subalternas das Forças Armadas, como marinheiros e
sargentos. Parte
das propostas, como a reforma agrária, sofria resistência de setores conservadores.
As medidas de Jango, como a mobilização
sindical, redistribuição da renda, reforma agrária, a Lei de Remessa de Lucros
e o congelamento de aluguéis, geraram
uma forte oposição, deixando o governo frágil.
12 de setembro de 1963
Eclode a Revolta dos Sargentos, rebelião que apoiava as reformas de
base e reivindicava que sargentos, suboficiais e cabos pudessem disputar
eleições e exercer mandato parlamentar. No dia seguinte, Jango nomearia Castelo Branco para
chefia do Estado Maior das Forças Armadas.
4 de outubro de 1963
Jango tenta decretar estado de sítio. Após uma entrevista concedida pelo
governador da Guanabara, Carlos Lacerda, criticando Jango, o presidente é
impelido por ministros militares a decretar estado de sítio no país e envia o
pedido ao Congresso. O projeto é repudiado por líderes sindicais, que fazem
pressão para que não seja aprovado. Diante da reprovação da maioria
parlamentar, Jango retira a proposta, que também é vista como tentativa de
"golpe", aumentando ainda mais as conspirações contra o presidente.
Janeiro
a março de 1964
Jango regulamenta a Lei de Remessa de
Lucros, limitando transferência de divisas ao exterior. Depois, assina a
nacionalização de refinarias particulares de petróleo e desapropria terras.
Com o cenário político cada vez mais
polarizado entre os que eram contra e a favor das reformas, especialmente a
agrária, Jango dá início a uma campanha por mudanças, com o primeiro comício,
na Central do Brasil. Era
o estopim para a movimentação que, 33 dias depois, resultaria no Golpe Militar
de 1964.
O GOLPE EM 33 DIAS
13 de março de 1964:
Comício das Reformas
Ao lado da mulher, Maria Thereza, e de Darcy Ribeiro (chefe da Casa Civil), Jango subiu ao palanque da Central do Brasil, no Rio — Foto: CPDOCJB/Folhapress
Ao lado da mulher, Maria Thereza,
e de Darcy Ribeiro (chefe
da Casa Civil), Jango subiu ao palanque da Central do Brasil, no Rio, para o
Comício das Reformas. Ele discursou após falas do então presidente da União
Nacional dos Estudantes (UNE), José
Serra, do governador de Pernambuco, Miguel Arraes, e do
deputado Leonel Brizola.
No evento organizado por entidades
sindicais, o
presidente, que era fazendeiro, defendeu a necessidade das
chamadas reformas de base(agrária, bancária, administrativa,
universitária e eleitoral), paradas no Congresso. O evento, transmitido ao vivo
por rádio e TV para todo o país, reuniu cerca de 200 mil pessoas.
"Reforma agrária com pagamento prévio do
latifúndio improdutivo, à vista e em dinheiro, não é reforma agrária. É negócio
agrário, que interessa apenas ao latifundiário, radicalmente oposto aos
interesses do povo brasileiro", disse Jango.
A Constituição previa desapropriações mediante
indenização prévia de dinheiro. Mas, alegando falta de caixa, o governo propôs
pagar com títulos da dívida pública.
Figuras-chave do Comício das Reformas:
João Goulart: Jango foi o 24º
presidente brasileiro. Entrou no PTB a convite de Getúlio Vargas, do qual foi
ministro do Trabalho. Foi vice-presidente nos governos de Juscelino Kubitscheck
e Jânio Quadros, sucedendo a este último após sua renúncia. Foi deposto pelo
regime militar em 1964.
Miguel Arraes: governador de
Pernambuco, politicamente de esquerda, deu apoio às Ligas Camponesas e à
criação de sindicatos. Para "não trair a vontade dos que o elegeram",
se recusou a renunciar, como propuseram os militares, e foi preso em 1º de
abril. Libertado em 1965, exilou-se na Argélia.
Leonel Brizola: governador do Rio Grande
do Sul entre 1959 e 1963, lutou com Jango pelas reformas de base. Tornou-se um
dos líderes da Frente de Mobilização Popular, formada por CGT (Comando Geral
dos Trabalhadores), União Nacional dos Estudantes (UNE), Frente Parlamentar Nacionalista,
oficiais militares, intelectuais e Miguel Arraes.
Darcy Ribeiro: ministro da Educação do
governo do presidente Jânio Quadros e chefe da Casa Civil de João Goulart, foi
um dos membros do governo a tentar organizar a resistência ao golpe. Na ditadura,
teve os direitos políticos cassados e foi obrigado a se exilar no Uruguai.
José Serra: presidente da UNE na
época, foi orador no Comício das Reformas. Às vésperas do movimento militar, a
entidade emitiu um manifesto, denunciando o "golpe reacionário". Após
a tomada do poder pelos militares, Serra deixou o País, em julho de 1964,
exilando-se na França.
Dante Pellacani: iniciou sua militância
sindical em 1948 e foi um dos principais articuladores do movimento Jan-Jan
(Jânio e Jango para a Presidência). Tornou-se presidente do CGT, participando
ativamente do Comício das Reformas. Foi exilado no Uruguai.
Quem apoiou o Comício das Reformas:
Comando
Geral dos Trabalhadores (CGT)
Partido
Comunista Brasileiro (PCB)
Frente
de Mobilização Popular (FMP)
União
Nacional dos Estudantes (UNE)
Militares
pró-Jango
Diversos intelectuais
Comício das Reformas, em 13 de março de 1964 — Foto: Domicio Pinheiro/Estadão Conteúdo
19 de março de 1964:
Marcha da Família com Deus pela Liberdade
Leonor Barros (ao centro, com bandeirinha do Brasil), mulher de Adhemar de Barros, o deputado federal Cunha Bueno (de paletó cinza) e o deputado Herbert Levy (o último à direita) — Foto: Folhapress
Como
resposta ao comício da Central do Brasil e à "ameaça comunista"
atribuída à aproximação de Jango com a esquerda, cerca de 300 mil pessoas
fizeram uma passeata no centro de São Paulo, no dia de São José. O objetivo era
mostrar o descontentamento da sociedade conservadora e de setores ligados aos
grandes empresários e latifundiários.
Imagem da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que aconteceu em 19 de março de 1964, em São Paulo — Foto: Folhapress
A marcha teve apoio do governador de São
Paulo, Adhemar de Barros (representado pela esposa, Leonor), do governador do
estado de Guanabara (Carlos Lacerda) e de Auro de Moura Andrade, presidente do
Senado e do Congresso.
Figuras-chave da Marcha da Família com Deus
pela Liberdade:
Adhemar de Barros: o governador de São Paulo, que derrotou Jânio nas
eleições de 1962, participou ativamente das conspirações do golpe conta a
"comunização do País", liderando ainda a Marcha da Família com Deus
pela Liberdade contra Jango. Adhemar seria cassado em 1966, após se voltar
contra o regime militar.
Carlos Lacerda: o
governador da Guanabara, que liderava a ala radical da União Democrática
Nacional (UDN) carioca, foi por anos defensor da intervenção militar no estado,
opinião que publicava em seu jornal, "Tribuna da Imprensa". Foi um
dos líderes civis do golpe, mas depois se voltou contra a extensão do mandato
de Castelo Branco.
Auro de Moura Andrade: na presidência do Senado, fez oposição a
Goulart e discursou na Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo,
organizada por entidades contrárias ao governo. Em sessão do Congresso na
madrugada de 2 de abril, declarou vaga a Presidência da República, embora Jango
estivesse no país.
Dom Jaime de Barros Câmara: o cardeal da Arquidiocese do Rio de Janeiro foi
um dos organizadores da Marcha da Família com Deus pela Liberdade e pertencia
ao grupo de bispos e arcebispos que se opunha ao “comunismo” e a Goulart,
promovendo a “marcha da vitória” após o golpe.
"O povo veio à praça pública para demonstrar
sua confiança na democracia. Veio para afirmar perante a nação que os
democratas não permitirão que os comunistas sejam os donos da pátria.
Democratas do Brasil, confiem, não desconfiem das gloriosas Forças Armadas de
nossa pátria", afirmou Auro de Moura Andrade durante a marcha, segundo
relato do jornal "Folha de S.Paulo" na edição de 20 de março de 1964.
Imagem da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que ocorreu em São Paulo em 19 de março de 1964 — Foto: Folhapress
Quem apoiou a Marcha da Família com Deus pela
Liberdade:
Campanha da Mulher pela Democracia (Camde)
União Cívica Feminina
Fraterna Amizade Urbana e Rural
Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp)
Parte da Igreja
24 de março de 1964:
Revolta dos Marinheiros
Imagem da Revolta dos Marinheiros, que aconteceu em 24 de março de 1964 no Rio — Foto: Folhapress
Durante
festa no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio para comemorar os dois anos da
Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais (considerada ilegal), 2 mil
marinheiros e fuzileiros navais compareceram ao local liderados pelo cabo
Anselmo, que fez um discurso inflamado a favor das reformas de base e da
entidade, que tivera dirigentes punidos. O ministro da Marinha, Silvio Mota,
mandou prender os organizadores, mas os fuzileiros enviados aderiram aos
insubordinados. O episódio indicou que uma parte dos chefes militares estava
descontente com Jango, que demitiu Silvio Mota logo depois.
"Será subversivo
manter cursos para marinheiros e fuzileiros? Será subversivo dar assistência
médica e jurídica? Será subversivo visitar a Petrobras? Será subversivo
convidar o Presidente da República para dialogar com o povo fardado?",
disse Cabo Anselmo durante discurso na AMFNB.
Figuras-chave da Revolta dos Marinheiros:
Cabo Anselmo: liderou a Revolta dos
Marinheiros, que desencadeou o movimento contra o governo João Goulart. Depois
do golpe, teria virado agente duplo, entregando parte dos companheiros de
esquerda ao regime militar.
Almirante Cândido Aragão: Apoiou a Revolta dos Marinheiros,
a favor das reformas de base do governo Goulart, com a adesão dos fuzileiros.
Após o golpe, asilou-se no Uruguai.
Imagem da Revolta dos Marinheiros, que aconteceu em 24 de março de 1964 no Rio — Foto: Arquivo/O Globo
Quem apoiou a Revolta dos Marinheiros:
Associação dos Marinheiros e Fuzileiros (considerada ilegal)
30 de março de 1964:
discurso no Automóvel Clube
Jango discursa no Automóvel Clube, em 30 de março de 1964 — Foto: Arquivo/O Globo
Em um lugar repleto de militares pró-governo, Jango defendeu novamente as
reformas de base em discurso para sargentos no Automóvel Clube, no Rio. O
objetivo do presidente era dar uma demonstração de força a quem o criticava
pela postura assumida durante a Revolta dos Marinheiros.
"A crise que se
manifesta no país foi provocada pela minoria de privilegiados que vive de olhos
voltados para o passado e teme enfrentar o luminoso futuro que se abrirá à
democracia pela integração de milhões de patrícios nossos na vida econômica,
social e política da Nação, libertando-os da penúria e da ignorância",
disse Jango no discurso no Automóvel Clube, segundo relato do "Jornal do
Brasil" na edição de 31 de março de 1964.
31 de março de 1964:
Mourão Filho dá início ao Golpe
Proximidades da residência de Jango em 31 de março de 1964, dia do golpe — Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo
Como reação ao discurso de Jango, o general Olympio Mourão Filho dá início
ao golpe durante a madrugada ao encaminhar suas tropas (antes do esperado pelos
próprios conspiradores) de Juiz de Fora (MG) até o Palácio das Laranjeiras, no
Rio, onde estava o presidente. Pela manhã, Jango envia duas tropas do Exército
do Rio até Minas e deixa o chefe do gabinete militar, Assis Brasil, de
sobreaviso. Enquanto isso, Amaury Kruel (comandante do 2º Exército de SP e
ligado a Jango) muda de lado: por telefone, pede para o presidente dissolver a
CGT e demitir ministros de esquerda. O presidente recusa. No caminho até Minas
Gerais, a tropa carioca adere aos militares golpistas.
"Ponha-se na
Presidência qualquer medíocre, louco ou semianalfabeto e, 24 horas depois, a
horda de aduladores estará à sua volta, convencendo-o de que é um gênio
político e um grande homem [...] Em pouco tempo, transforma-se um ignorante em
um sábio, um primário em um estadista", relata Olympio Mourão Filho, no
livro "Memórias: A verdade de um revolucionário", de 1978.
Figuras-chave do início do Golpe de 1964:
Olympio Mourão Filho: deu início ao movimento de tropas
que afastou Jango da Presidência com a Operação Popeye, em referência ao seu
cachimbo, saindo de Juiz de Fora rumo ao Rio de Janeiro para barrar as forças
legalistas. Depois se afastou do regime, fazendo críticas a Castelo Branco.
General Assis Brasil: chefe da Casa Militar, acompanhou
Jango ao exílio e foi preso no Forte de Jurujuba (RJ). Tinha controle sobre o
chamado "dispositivo militar", nome dado ao suposto esquema montado
por militares ligados ao presidente e colocados no alto comando para defendê-lo
em caso de golpe.
Amaury Kruel: comandante do 2ª Exército, em São
Paulo, foi ministro de Guerra de Jango. Mobilizou suas tropas para apoiar o
golpe, mas, antes, teria proposto que Goulart extinguisse o CGT e demitisse
ministros de esquerda, com o que o presidente não concordou.
José Magalhães Pinto: eleito governador de Minas Gerais
em uma coligação liderada pela UDN, envolveu-se nas articulações para a
derrubada de Jango, tendo se encontrado com militares mineiros. Também
participou das negociações para a escolha de Castelo Branco. Foi um dos subescritores
do AI-5.
Movimentação de tropas militares dá largada ao Golpe em 31 de março de 1964 — Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo
Quem apoiou:
Governo de São Paulo
Governo de Minas Gerais
1º de abril de 1964: o
golpe avança
Palácio da Guanabara em 1º de abril de 1964 — Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo
O Forte de Copacabana é tomado pelos militares golpistas que defendem o
Palácio da Guanabara (casa do governador oposicionista Carlos Lacerda). No
Recife, o governador Miguel Arraes é preso e, no Rio, a sede da UNE é
incendiada. Jango é aconselhado a ir para Porto Alegre, onde é recebido por
Brizola.
Enquanto isso, os Estados Unidos, por meio do embaixador Lincoln Gordon,
preparam a Operação Brother Sam: caso o golpe não vingasse, o Brasil seria
invadido por uma poderosa frota da marinha americana vinda do Caribe em direção
ao Rio. Depois do golpe, Gordon apressou-se para obter do presidente Lyndon
Johnson o reconhecimento do novo regime antes mesmo de Jango partir para o
exílio.
Em discurso na Rádio Nacional
na madrugada de 1º de abril, o deputado Rubens Paiva (1929-1971) defendeu Jango:
"Meus patrícios, me dirijo especialmente a todos os trabalhadores, a todos
os estudantes e a todo o povo de São Paulo, tão infelicitado por esse governo
fascista e golpista, que neste momento vem traindo o seu mandato e se pondo ao
lado das forças de reação. [...] Para que todos, em greve geral, deem a sua
solidariedade integral à legalidade que ora representa o presidente João
Goulart".
Quem apoiou o avanço do golpe:
Estados Unidos
2 de abril de 1964: Presidência
é declarada vaga
O presidente do Senado em 1964, Auro de Moura Andrade, convoca durante a madrugada sessão extraordinária no Congresso para oficializar o golpe — Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo
O presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, convoca durante a madrugada
uma sessão extraordinária no Congresso para oficializar o golpe. Ele ignora a
informação passada por Darcy Ribeiro de que Jango está no Brasil e declara vaga
a presidência da República. Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos
Deputados, vira presidente interino, e o general Costa e Silva envia um
comunicado aos militares se autonomeando comandante-em-Chefe do Exército.
"O senhor presidente
da República deixou a sede do governo, deixou a nação acéfala numa hora
gravíssima da vida brasileira em que é mister que o chefe de Estado permaneça à
frente do seu governo [...] Esta acefalia configura a necessidade do Congresso
Nacional, como poder civil, imediatamente tomar a atitude que lhe cabe",
disse Auro de Moura Andrade.
Figuras-chave da madrugada do golpe:
Ranieri Mazzilli: presidente da Câmara dos
Deputados, assumiu a Presidência interina na ausência de Jango do País, após a
renúncia de Jânio Quadros, quando foi aprovada a emenda do parlamentarismo.
Também assumiu após o golpe, facilitando a fundamentação política e
constitucional do golpe.
General Costa e Silva: liderava a linha dura das Forças
Armadas e participou ativamente do golpe contra Goulart, assumindo o Ministério
da Guerra após sua queda. Em 1966, foi eleito presidente pelo Congresso pela
Arena. O AI-5 foi baixado durante seu governo.
4 de abril de 1964: Jango
parte para o exílio
João Goulart no exílio — Foto: CPDOC/GV
Ao lado da família e do chefe do gabinete militar Assis Brasil, João
Goulart se esconde em São Borja (RS). No dia 4, todos partem para o Uruguai.
Anos depois, Jango se mudaria para a Argentina, onde morreria em 1976, de
ataque cardíaco. Em novembro de 2013, seu corpo foi exumado pela Comissão da
Verdade para se determinar se sua morte foi ocasionada por envenenamento. Seus
restos mortais, desta vez, foram enterrados com honras de chefe de Estado.
"O mais difícil foi
para o Jango, que não podia voltar. Eu voltei para o casamento do meu irmão, da
Ieda Maria Vargas, voltei para ver meu pai, que estava doente. Mas é claro que
passei por vários constrangimentos. Fui presa. Até no casamento do meu irmão
fiquei num canto sozinha", declarou Maria Thereza Cruz, viúva de Jango, em
2013 ao jornal "Zero Hora".
9 de abril de 1964:
baixado o AI-1
Costa e Silva (sentado à mesa) edita o Ato Institucional nº 1 (AI-1) — Foto: Arquivo/O Globo
Costa e Silva edita o Ato Institucional nº 1 (AI-1). Ele permite a
cassação de mandatos e a suspensão de direitos políticos. Também são marcadas
eleições indiretas em dois dias para Presidência e vice-presidência da
República.
Diz um trecho: "O
Ato Institucional que é hoje editado pelos Comandantes-em-Chefe do Exército, da
Marinha e da Aeronáutica, em nome da revolução que se tornou vitoriosa com o
apoio da nação na sua quase totalidade, se destina a assegurar ao novo governo
a ser instituído, os meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica,
financeira, política e moral do Brasil".
15 de abril de 1964:
Castelo Branco assume a Presidência
Castelo Branco (ao centro, diante dos microfones) assume a presidência; um pouco mais à direita, de mãos cruzadas, está Ranieri Mazzilli, e imediatamente atrás deste, olhando para frente, mas encoberto, está o General Ernesto Geisel — Foto: Arquivo/O Globo
Em um Congresso Nacional com diversas baixas devido a cassações e prisões,
Costa e Silva anuncia o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco como o novo
presidente. Com mandato definido até dezembro de 1966, o general criou em seu
governo o SNI (Serviço Nacional de Informações) e outros três Atos
Institucionais. Os militares só deixariam o poder em 1985 e o Brasil só teria
uma outra eleição direta em 1989.
"Farei quanto em
minhas mãos estiver para que se consolidem os ideais do movimento cívico da
nação brasileira nestes dias memoráveis de abril, quando se levantou unida,
esplêndida de coragem e decisão, para restaurar a democracia e libertá-la de
quantas fraudes e distorções a tornavam irreconhecível. Não através de um golpe
de Estado, mas por uma Revolução", disse Castelo Branco ao assumir o
governo.
Castelo Branco (apontando o dedo) — Foto: Domício Pinheiro/Estadão Conteúdo
Figuras-chave da condução do novo presidente ao cargo:
Castelo Branco: na Escola Superior de Guerra,
exerceu influência nas ideias que culminaram com o golpe de 64 e se encarregou
da parte política do processo. Acabou sendo o nome de consenso para ocupar o
lugar de primeiro presidente pós-golpe.
General Golbery do Couto e Silva: braço direito do presidente
Castelo Branco, pregava o alinhamento do Brasil com as potências ocidentais.
Assumiu a direção do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (Ipes), tendo
papel de destaque no movimento golpista. Foi um dos professores da Escola
Superior de Guerra e estudioso da geopolítica.
Ernesto Geisel: integrava o grupo militar
conhecido como "Sorbonne", ligado à Escola Superior de Guerra. Após o
golpe, foi nomeado chefe da Casa Militar, e eleito presidente em 1972,
articulando a abertura política.
Castelo Branco em Brasília — Foto: Domício Pinheiro/Estadão Conteúdo
QUEM É QUEM NO GOLPE DE
1964
Membros das forças armadas, do governo, movimentos sociais, entidades e
sindicatos, além de partidos e da igreja católica, se dividiram entre os que
apoiaram Jango e os que foram pró-golpe em 1964.
O especial do G1 sobre os 50 anos do golpe de 1964 lista os personagens mais importantes do período. Ali, é mostrada a influência de cada
envolvido.
QUEM É QUEM NO GOLPE DE 1964 — Foto: Arte G1
G1 – O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
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