sábado, 23 de junho de 2018

Morte do cantor sertanejo Leandro completa 20 anos



Ele morreu vítima de câncer aos 36 anos, em São Paulo, em 23 de junho de 1998, dia em que o Brasil jogava pela Copa do Mundo da França. Nascido em Goianápolis e ex-plantador de tomates, músico alcançou o sucesso formando dupla sertaneja com o irmão, Leonardo.


Brincalhão com os amigos, mas tímido com os fãs, o sertanejo Leandro começou a carreira de cantor na plantação de tomate dos pais, em Goianápolis, a 47 km da capital. Ele e o irmão Leonardo cantavam desde pequenos e fizeram uma história de sucesso na música brasileira durante 15 anos. A trajetória da dupla foi interrompida por um câncer raro que levou Leandro à morte aos 36 anos, em 23 de junho de 1998, em São Paulo.

Luiz José da Costa, como foi batizado, nasceu em 15 de agosto de 1961 e foi criado com os outros sete irmãos na cidade do interior. A cidade é conhecida como a capital brasileira do tomate.  O cantor é descrito por pessoas próximas como um homem de hábitos simples, extrovertido com os íntimos e muito reservado com quem ainda não conhecia.

Na época de menino, ele e Emival Eterno da Costa, que viria a ser sua dupla com o nome artístico de Leonardo, já ouviam os ídolos Chitãozinho e Xororó e recebiam o incentivo do pai, o lavrador Avelino Virgulino da Costa, que estava sempre acompanhado de um violão.

A Escola Estadual Joaquim Soares da Silva, onde Leandro estudou, em Goianápolis, guarda até hoje a ficha com detalhes da vida de estudante dele. No colégio, o sertanejo se destacava nas aulas de história, mas não tanto em matemática.

Pescaria e baralho


Amigos lembram que quando não estava com um violão, Leandro tinha gostos simples, como pescar e jogar baralho. Ele torcia para o São Paulo, mas gostava mesmo era de Copa do Mundo. No entanto, mesmo para quem o conhecia, as principais memórias são relacionadas à música.

"Eu trabalhei com eles [Leandro e Leonardo], fomos criados todos juntos. Eu me lembro que eles começavam a cantar. Cantavam o dia inteiro músicas do Milionário e José Rico, do Zezé di Camargo. Depois foram tocar em bailes", lembra o horticultor Valdeci de Jesus, de 54 anos.

Memórias de Leandro e família na casa de dona Carmem, mãe do cantor, em Goiânia (Foto: Vanessa Martins/G1)

Música e política


Além do sonho de ser cantor, Leandro queria também entrar para a política. “Ele falava muito que queria cantar até os 50 anos e que, depois, pararia e se candidataria a senador pelo estado de Goiás”, como recorda o também horticultor Jair de Sousa Leite.

Para se dedicar à carreira, os irmãos se mudaram para Goiânia, conseguiram trabalhos para se sustentar na capital enquanto passavam todo o tempo livre nos ensaios.

Leandro e Leonardo


Com ajuda de um tio e do patrão do Leonardo, a dupla passou a investir na carreira com apresentações pequenas e que não rendiam muito dinheiro. Na época, eles escolheram o nome da dupla ao saberem de gêmeos de um colega de trabalho que haviam sido batizados como Leandro e Leonardo.

Mesmo com dificuldades financeiras, a dupla lançou o primeiro disco em 1984 e vendia os exemplares nos bares onde se apresentava. Os irmãos começaram a ficar conhecidos dois anos depois, com a gravação da música Contradições, mas o estouro ocorreu em 1989 no lançamento da canção Entre Tapas e Beijos.

Leandro (esquerda) e Leonardo em capa de disco de 1990 (Foto: Divulgação)

No ano seguinte, Leandro e Leonardo gravaram a música que mais projetou a carreira da dupla: Pense em Mim. A música foi escrita pelos pintores Mário Soares, Douglas Maio e José Ribeiro. A canção começou a ser criada com uma batida de reggae, depois migrou para o estilo country antes de ser gravada como sertanejo.

Depois do sucesso, a dupla ganhou projeção nacional, mas manteve a personalidade que os familiares e amigos conheciam desde a infância.
Assessora da dupla desde o início da carreira, Ede Cury lembra que Leandro era muito brincalhão com quem tinha intimidade. No entanto, para os palcos e para se relacionar com os fãs, era muito tímido.

Nos 15 anos que fez dupla com o irmão, ela conta que Leandro sempre precisou de um “incentivo” para encarar as multidões.

“Eu lembro que, para entrar no palco, o Leonardo tinha que empurrar o Leandro. Toda vez era assim, para não ter que ficar esperando”, recorda-se Ede.

Segunda voz


Apesar da timidez, depois que subia no palco, Leandro encantava. Os artistas afirmam que o cantor era dono de uma das mais belas segundas vozes da música brasileira. Outros "segundeiros" contam que se inspiram até hoje no jeito dele de cantar.

O sertanejo chamava a atenção nas apresentações e até cantava algumas canções sozinho.



Leandro fazia a segunda voz na dupla com o irmão, mas cantava músicas solo e era destaque entre as segundas vozes do Brasil (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

O câncer


No auge da carreira, em 1998, Leandro foi passar uns dias com amigos em sua fazenda no Tocantins e se queixou de dores no peito. Depois de uma semana, durante uma visita à cidade natal, o cantor voltou a se sentir mal durante um jogo de truco.

Preocupado com a saúde, ele foi atrás de saber o que era e, em 21 de abril daquele ano, Leandro recebeu o diagnóstico de tumor de Askin. Segundo a família, na época, ele era o sexto caso da doença, em adultos, no mundo. O cantor, então, foi para São Paulo, onde passou pelo tratamento.

Durante um dos jogos do Brasil na Copa de 1998, que Leandro acompanhava do apartamento na capital paulista, ele pediu à assessora Ede Cury uma bandeira. Durante um programa Domingão do Faustão, ela conta que o levou um manto verde e amarelo que tinha em casa porque não teria como comprar uma bandeira na rua e entregar a ele sem esterilizar.
Momentos depois, ele apareceu na sacada, já careca e envolto no tecido.

Leandro aparece na sacada de apartamento em São Paulo (Foto: Reprodução/TV Globo)

O adeus a Leandro


No dia 23 de junho de 1998, quando os brasileiros se preparavam para assistir à seleção brasileira enfrentar a Noruega, pela Copa do Mundo, na França, foi divulgada a notícia da morte do cantor. O Brasil parou para acompanhar a despedida do ídolo, que, após uma semana internado, não resistiu ao tumor.

Filho de Leandro, o empresário Thiago Costa, que na época tinha 13 anos, conta que o pai tinha esperança que ia se recuperar.

“Ele teve coragem e mostrou que não pode esmorecer. Mesmo com a gravidade da doença, ele tinha fé que seria curado”, diz Thiago.

O filho do cantor conta que tinha esperança, até dois dias antes do pai falecer, pois um empresário do pai relatou que Leandro tinha apenas 2% de chance de sobreviver. O dia 23 de junho ficou marcado para Thiago.

“Minha tia Mariana deu a notícia, no elevador: ‘Olha, o papai descansou’. Foi uma perda muito grande para todos que gostavam dele, era muito novo. Hoje, estou quase na idade dele e vejo que, realmente, tinha uma vida toda pela frente", afirma.

Fé e superação


Leandro teve quatro filhos, que se orgulham da história de humildade do pai. Thiago Costa acredita que a religiosidade da família foi fundamental para lidar com a perda de Leandro.

“Nossa família é muito unida, católica. Além disso, o Brasil inteiro fazendo orações, mandando energia positiva, minha avó foi a que mais deu força, aquela velinha é formidável, é incrível a força dela, ela é nosso esteio", ressalta Thiago.

Leandro, Leonardo e família, em Goiás (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Mãe de Leandro, Leonardo e mais seis filhos, Dona Carmem Divina da Silva se manteve forte nos últimos 20 anos, mas conta que sempre que chega o mês de junho, tudo muda. Ela relata que, nesta época do ano, lembra muito do sofrimento que toda a família passou durante a descoberta da doença, o tratamento e a morte de Leandro.

“Até hoje é difícil nesse período. Parece que o tempo já vai mudando, já vai fechando. Não tem nem como falar", afirmou dona Carmem.

Fora dessa temporada, no entanto, “não tem tristeza”: “A gente só lembra dos momentos bons dele. Ele trouxe alegria para muita gente, para a família principalmente”.



Uma das formas que encontrou de se manter perto do filho foi implantando a Casa de Apoio São Luiz, uma instituição filantrópica que oferece hospedagem, transporte, alimentação e serviço de emergência a pacientes com câncer, em Aparecida de Goiânia. Era, segundo ela, o grande sonho de Leandro, mas que, infelizmente, ele não teve tempo de ver o local funcionando.


FONTE: G1 - O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO


Nenhum comentário:

Postar um comentário